Vamos entrar no último terço do ano, que não será fácil!

Carlos Bastardo
Carlos Bastardo. Créditos: Vítor Duarte

COLABORAÇÃO de Carlos Bastardo.

Ainda com muitas pessoas em férias neste final de agosto, aproximámo-nos rapidamente do último terço do ano. Um período que vai ser fundamental para percebermos o real impacto da subida das taxas de juro na economia, no emprego, no rendimento disponível das famílias, no número de insolvências de empresas, na evolução do crédito vencido nos segmentos de habitação e das empresas, entre outras situações.

Os últimos dados macroeconómicos internacionais indicam alguma fraqueza na segunda economia mundial, a China. Os números das exportações, importações, PMI, PIB entre outros ficaram abaixo das estimativas, levando o governo chinês a tomar medidas com vista a tentar reanimar a economia.

Se juntarmos a isto as dificuldades no mercado imobiliário chinês, evidenciadas pelo facto de a Evergrande que é uma das maiores mediadoras/promotoras imobiliárias chinesas, ter pedido a proteção de credores nos EUA em agosto, temos que ser cautelosos.

O PMI na zona euro vai de mal a pior segundo os dados de julho, especialmente na Alemanha, a maior economia europeia.

Apesar de a época de resultados do segundo trimestre que está no seu final ter sido positiva, os próximos meses poderão trazer novas revisões em baixa dos resultados em empresas de setores mais correlacionados com o ciclo económico.

Apesar da nova subida das taxas de juro em julho, o ciclo de alta parece estar no fim ou próximo do fim. Caso as expetativas dos investidores sejam nesse sentido, poderemos nos últimos meses do ano assistir a uma descida das yields da dívida pública.

Mesmo que os bancos centrais (Fed e BCE) terminem a subida das taxas de juro este ano, com os dados que ainda existem de inflação (especialmente o indicador subjacente), vai ser difícil vermos o início de um ciclo de descida dos juros no primeiro semestre de 2024.

Mas, como hoje é complicado fazer previsões para além de trêsou seis meses, o melhor mesmo é continuarmos a monitorizar os dados macroeconómicos, especialmente a evolução do PIB e a inflação.

Com o fim da época de resultados do segundo trimestre, sendo que a próxima época relativa aos resultados do terceiro trimestre só se vai iniciar em meados de outubro, os investidores e os analistas financeiros vão agora centrar as suas atenções nas estimativas económicas e de resultados das empresas.

Setembro não costuma ser dos meses mais favoráveis para o mercado acionista, pelo que, há que estar atento.

Por cá, continuamos adormecidos na ideia de que tudo está bem, apesar de já aparecerem alguns analistas a reduzir as estimativas de crescimento do PIB para este ano, tendo em conta a relativa estagnação no segundo trimestre face ao trimestre anterior.

Independentemente de Portugal ter sido das economias que mais cresceu no primeiro semestre, a questão é que os seus dois principais parceiros comerciais (Espanha e Alemanha) estão a ter dificuldades, como é evidenciado no indicador PMI industrial (47,8 e 38,8 em julho respetivamente).

Vamos entrar na fase crucial do ano. Os indicadores económicos globais nos próximos meses vão ditar se a economia global se vai comportar melhor que as estimativas, ou se os analistas financeiros vão ser obrigados a rever em baixa as mesmas. 

É um período que vai certamente trazer mais volatilidade nos preços dos ativos financeiros, até porque um desses indicadores, o VIX está muito perto dos mínimos dos últimos 12 meses.