Em 2023, os ativos sob gestão cresceram 12% globalmente face a 2022, situando-se agora nos 118,7 biliões de dólares. Segundo dados partilhados pela Boston Consulting Group no estudo Global Asset Management 2024: AI and the Next Wave of Transformation, apesar deste aumento, “as receitas do setor aumentaram apenas 0,2% em 2023, enquanto os custos subiram 4,3%, contribuindo para um declínio dos lucros em 8,1% face ao período homólogo anterior”.
Esta subida da gestão de ativos foi mais expressiva na América do Norte (16%), no Japão e na Austrália (15%). Na América Latina e no Médio Oriente o crescimento também foi acima da média, com ambas as regiões a registarem um aumento de 13%. Por outro lado, como relata a BCG, “o crescimento do setor ficou abaixo da média na Europa (8%) e na Ásia-Pacífico, excluindo Japão e Austrália (5%)”.
Setor da gestão de ativos continua a enfrentar desafios
No entanto, o setor da gestão de ativos continua a enfrentar "desafios relevantes de um ponto de vista de rentabilidade, sobretudo devido ao aumento dos custos e à falta de produtos inovadores e diferenciados", afirma Pedro Pereira, managing director e senior partner da BCG em Lisboa.
Estes desafios estruturais, identificados pela consultora, resultam de cinco pressões fundamentais:
- Pressão sobre as receitas: segundo a entidade, os gestores de ativos “não podem confiar da mesma forma no desempenho do mercado para impulsionar o crescimento das receitas no futuro”. Desde 2005, a quase totalidade do aumento das receitas (90%) teve origem na valorização do mercado. No entanto, atualmente, como a maioria dos bancos centrais continua a lutar contra a inflação, “é expectável que as taxas de juro se mantenham elevadas, limitando o aumento das receitas”, explicam.
- Priorização de fundos passivos: estes produtos financeiros continuam a captar a maioria dos net flows. “Em 2023”, diz o relatório, “estes produtos atraíram 70% do total dos fluxos globais de fundos tradicionais e de fundos negociados em bolsa (cerca de 920 mil milhões de dólares)”. Este valor representa um aumento acentuado face ao período 2019-2022, quando 57% dos net flows foi direcionado para fundos passivos.
- Aceleração da pressão sobre as taxas: a taxa média para o setor, em 2023, foi de 22 pontos base, abaixo dos 25 pontos base em 2015 e dos 26 pontos base em 2010. “A tendência para políticas monetárias restritivas, combinada com a incerteza geral do mercado, levou os investidores a optarem por produtos com menores taxas, diminuindo os riscos associados”, afirma a BCG.
- Aumento dos custos: os custos neste setor estão a aumentar de forma contínua. Desde 2010 que tem crescido cerca de 80%, a uma taxa de crescimento anual composta de 5%, “o que dificulta o trabalho dos gestores de ativos e a sua competitividade no mercado”.
- Carência de produtos inovadores: apesar dos esforços contínuos dos gestores de ativos, há menos produtos novos a serem desenvolvidos e muitas ofertas não foram bem-sucedidas, sendo que apenas 37% de todos os fundos de investimento lançados em 2013 ainda existiam em 2023. “Trata-se de uma diminuição significativa em comparação com 2010, quando 60% dos fundos lançados uma década antes continuavam ativos”, afirmam.
Tendo em conta estes desafios, a BCG recomenda uma abordagem assente em três P: produtividade, personalização e mercados privados. “Os gestores de ativos devem aumentar a produtividade, nomeadamente recorrendo à inteligência artificial generativa, personalizar o envolvimento dos clientes e expandir-se para os mercados privados. Assim, terão maior facilidade para se adaptarem a um novo modelo operacional a fim de crescer e serem mais rentáveis”.