A tecnologia mudou, e continua a mudar, as nossas vidas. Ferramentas potenciadas pela inteligência artificial têm facilitado várias tarefas do nosso dia a dia, e o mundo dos investimentos não foge à regra. Assim, com o avanço da tecnologia, a compreensão dos dados nunca assumiu um papel tão importante no mundo da gestão de ativos como agora.
A área de investimentos sempre se baseou na análise de dados, mesmo quando a informação era escassa, pouco frequente e impressa em papel. Os dados constituem, desta forma, a base de qualquer estratégia de investimento. Além disso, na Era da informação, apenas uma pequena percentagem dos dados é útil e é necessária experiência para os identificar. “Adquirir competências na área da ciência dos dados pode produzir conhecimentos consideravelmente valiosos”, segundo relata um estudo do CFA Institute, intitulado Why Data Science Is a Key Skill for Investment Profissional.
Não é de estranhar, portanto, que o setor dos investimentos tenha sido um dos primeiros a adotar a ciência dos dados e também para tomar melhores decisões. No entanto, e de acordo com o referido estudo, são poucos os profissionais de investimento que se consideram proficientes em inteligência artificial e machine learning. Mas este cenário está a mudar e muitos estão a desenvolver, ou a planear desenvolver, competências digitais para lidar com as novas tecnologias.
Tendo isto em conta, perguntamos a alguns profissionais de entidades gestoras de patrimónios e de fundos mobiliários nacionais que formações estão a fazer nesta área e que valor essas formações aportam no seu dia a dia de trabalho.
Benefícios
Na Montepio Gestão de Ativos, Miguel Mendes e José França, gestores, fizeram formação na área de análise de dados financeiros com base em Python. “A equipa procura acompanhar a evolução na análise de dados financeiros, através de formação específica ou pela assimilação dos desenvolvimentos ao nível dos serviços de dados e informações utilizados, nomeadamente em base Python”, afirma Rui Nápoles, diretor de Investimentos da entidade.
Quanto ao que essas formações trazem ao mundo da gestão de ativos, o profissional destaca não só a qualidade da informação de gestão, como o “rigor, clareza e objetividade” das análises de investimento. Além disso, considera que estas novas ferramentas permitem uma maior eficiência nos processos de decisão e de acompanhamento dos investimentos.
A melhoria dos processos de decisão é também um dos benefícios destacados por João Zorro, responsável de Ações e Rendimento Fixo da GNB GA, que possui formação na área, embora informal, realizada através de cursos online e livros. Além desse benefício, destaca ainda o facto de estas tecnologias desempenharem “um papel crucial” na gestão de ativos, proporcionando ferramentas e técnicas para analisar dados, fazer previsões, gerir riscos e otimizar carteiras. Na entidade existem ainda mais um profissional a fazer formações na área de dados: Manuel Aguiar, gestor, está a concluir a formação em programação.
Mais eficiência
Por sua vez, Pedro Faria, do BPG, é mais um dos que possui formação em Python. Paulo Pacheco, responsável de Wealth Management da entidade, considera que este tipo de formações “capacitam os elementos destas áreas para automatizar ou adicionar um novo layer aos processos existentes”. Como vantagens da integração da tecnologia na área dos investimentos destaca a “construção de carteiras mais eficientes, a incorporação de novos parâmetros de gestão e a introdução de automatismos”.
Na sucursal em Portugal da Bankinter Gestión de Activos, é o próprio administrador da entidade, José Calheiros, quem possui já formação na área: fez uma pós-graduação em Data Science for Finance. “É uma formação crítica hoje em dia, porque permite ganhar novas valências sobre como integrar, analisar e extrair informação dos dados, o petróleo do século XXI, em contexto de mercados e ativos financeiros”. Dada a importância cada vez maior que os algoritmos e métodos de machine learning têm no processo de decisão, o profissional considera que é fundamental estar habilitado a compreender como funcionam, o que podem trazer de novo e quais as suas limitações.
Na Crédito Agrícola Gest, Duarte Ferreira, gestor de carteiras, possui uma pós-graduação em Data Management. Luís Carvalho, membro do conselho de administração com o pelouro dos Investimentos da entidade, relata que, com o Regulamento SFDR, o volume e o âmbito da informação a tratar aumentou, sendo por isso importante “um conhecimento de processos e métodos que permitam a sistematização da seleção e tratamento dessa informação”.
Por último, no Banco Carregosa, Mário Carvalho Fernandes, CIO, possui um Mestrado de Análise de Dados e Sistemas de Apoio à Decisão, enquanto Luan Pires, analista financeiro, fez formações focadas em Python. “Como responsável pela área de investimentos do Banco Carregosa”, afirma Mário Carvalho Fernandes, “procuro dotar o departamento com os recursos adequados. O acesso à informação e recursos humanos habilitados para trabalhar, digerir, sistematizar e suportar o processo de decisão são essenciais”. Como maiores benefícios destacam a “maior sistematização do processo de tomada de decisão, melhor fluxo de comunicação na cadeia entre analista financeiro e cliente final, aceleração do progresso tecnológico e do valor acrescentado da consultoria financeira”.