“A evolução das subscrições líquidas de vários produtos financeiros permite confirmar que a estrutura de aplicações financeiras das famílias em Portugal se alterou no período em análise face aos anos anteriores”. De facto, os dados que mostra a CMVM no Relatório sobre os Mercados de Valores Mobiliários de 2020 mostram que no período inicial da década passada, “as baixas taxas de poupança e as crises financeiras conduziram, por um lado, a uma diminuição de importância dos fundos de investimento e dos produtos de seguros, e por outro lado, ao aumento dos depósitos bancários de particulares e sociedades não financeiras”. Assistiu-se, assim, a uma transferência de recursos de fundos de investimento e de produtos do ramo segurador para depósitos bancários.
Subscrição de aplicações financeiras (Esq) e peso relativo do mercado de valores mobiliários (Dir) - Portugal
Já nos últimos três anos da década passada, assistiu-se a um “crescimento nas subscrições líquidas de fundos de investimento nacional (com a exceção do ano 2018), de OICVM estrangeiros colocados em Portugal, de produtos de seguros (nomeadamente fundos de pensões de adesão individual), de certificados de aforro e do Tesouro, e de depósitos bancários”, como mostra a CMVM.
No entanto, fica evidente nos gráficos partilhados pelo regulador e na tabela abaixo é que, apesar desse crescimento, a relação dos ativos sob gestão com o agregado dos ativos de menor risco do património financeiro dos portugueses se encontra em mínimos ou próximo desses mínimos. Mantém-se ou agrava-se, deste modo, o perfil conservador do investidor português num cenário cada vez menos amigável para os ativos mais defensivos.
De facto, o peso dos OICVM nacionais e estrangeiros no agregado de depósitos a prazo, certificados de aforro e do tesouro manteve-se nos 0,08, em linha com o peso médio da década. Já, os ativos sob gestão em FII, da gestão individual de carteiras e os ativos sob gestão totais renovam mínimos da década, nos 0,04, 0,20 e 0,32, respetivamente. De realçar, no entanto, que a quebra relevante dos ativos sob gestão na gestão individual de carteiras em 2020 estará “relacionada com a transferência de montantes consideráveis de carteiras de gestão individual de um operador para a esfera seguradora”.