É uma das perguntas que está na boca de todos: voltará a inflação? Análise dos cenários possíveis e qual será o que gera mais consenso.
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É uma das perguntas que está na boca dos investidores: voltará a inflação? No momento de dar uma resposta, não há consenso. Os economistas-chefe de algumas gestoras estão divididos. Alguns acreditam que sim, que desta vez o risco de que esta aumente é mais elevado do que nunca. Outros, pelo contrário, não contemplam um aumento significativo dos preços. A UBS Asset Management pôs em cima da mesa quatro cenários possíveis, indicando em que contexto aconteceria cada um deles.
Cenário bullish
Neste cenário, a economia mundial e os mercados de capitais voltarão rapidamente à normalidade do mundo pré COVID-19 com um crescimento moderado e baixa inflação, como resultado do aparecimento de uma vacina de sucesso. A economia e os mercados readaptar-se-iam rapidamente e aconteceriam poucas disrupções permanentes, já que as linhas aéreas, os hotéis e outros setores vulneráveis conseguiriam sobreviver.
Cenário base
O crescimento económico voltará na segunda metade de 2020 e voltará gradualmente à normalidade. A desglobalização, os persistentes surtos de COVID-19 e o comportamento mais precavido de consumidores e empresas vão dificultar o crescimento. A inflação começará baixa e voltará a subir, alcançando a trend inicial.
Estancamento
Este cenário será uma combinação de crescimento lento e baixa inflação. A japonização. A economia sairá da recessão induzida pela pandemia com um forte crescimento que diminuirá rapidamente e continuará num nível baixo.
Estagflação
Projetar-se-ia uma combinação de profunda recessão seguida de baixo crescimento e aumento da inflação. As restrições de oferta limitarão o crescimento e, por fim, desencadearão pressões inflacionárias. Os bancos centrais vão lutar relativamente à direção que a política monetária deverá tomar: taxas de juro mais altas para combater a inflação ou taxas de juro mais baixas para estimular a economia.
Em todos os cenários, na UBS AM esperam que as medidas normais da inflação diminuam drasticamente nos próximos meses. “No cenário bullish, aumenta para um nível de 2% e a Fed começa a subir as taxas em 2023. No caso base, a inflação está ligeiramente abaixo dos níveis objetivo da maioria dos bancos centrais (2%). No caso do estancamento, inicialmente está e mantém-se baixa. Nos cenários da estagflação, a inflação começa baixa, mas um estímulo monetário e fiscal agressivo desencadeia uma maior inflação, que eleva e perturba os mercados”.
O ponto de maior consenso
Neste cenário base, no qual a inflação está abaixo do objetivo dos bancos centrais, é talvez o ponto no qual existe uma maior coincidência nas análises. “As nossas expectativas de inflação estão abaixo dos objetivos dos bancos centrais durante os próximos três anos. Comentou-se muito sobre a possibilidade de que o estímulo massivo terminará a ser inflacionário. Acreditamos que, efetivamente, o BCE ou a Fed serão capazes de eventualmente retornar aos seus objetivos de inflação e até há uma certa margem para um objetivo inflacionista superior, mas não acreditamos que isso possa ocorrer nos próximos dois ou três anos”, revela David Page, responsável de Análise Macroeconómica na AXA IM.
Há três fontes de pressões inflacionistas: o endividamento dos governos, o gasto público e o balanço dos bancos centrais. “A evidência histórica demonstra que o endividamento dos governos não conduz a períodos de inflação. Para o demonstrar, analisámos três momentos onde a dívida do Reino Unido alcançou picos históricos: O período napoleónico, a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial. Nos cinco anos posteriores a estes episódios a inflação foi inferior e é preciso ir a prazos de 10 e só no caso da Segunda Guerra Mundial, para encontrar uma pressão inflacionista superior, apesar de marginal. Em suma, períodos de forte endividamento são mais consistentes com um cenário de inflação fraca, porque tendem a coincidir com períodos de procura frágil”, afirma o especialista.
Quanto ao gasto público, este é um catalisador mais plausível da inflação. “Não obstante, apesar de considerarmos que a resposta fiscal em todo o mundo está a ser crucial para apoiar a atividade económica no contexto de um forte choque pandémico, consideramos que o nível atual de gasto público não é suficiente para compensar a queda da procura e empurrar a inflação acima dos seus objetivos de médio prazo”.
Por último, a expansão monetária inflacionista dos bancos centrais concorre num momento em que há choque económico deflacionista. “De facto, o impacto inflacionista da expansão do balanço da Fed no período 2007-2014 é apenas observável e só ligeiramente mais óbvio no caso do BCE em 2011-14”, conclui.