Paulo Gomes (PASS): “O projeto começou com a necessidade de entender como estavam a ser usadas as ferramentas de inteligência artificial”

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Depois de uma longa incursão no mercado de capitais, de mais de 20 anos, os fundadores da fintech PASS sentiram necessidade de expandir, e colocar mais profundamente em prática as ferramentas quantitativas que já usavam. Como conta em entrevista à Funds People o CEO da entidade, Paulo Gomes (segundo a contar da direita na foto de grupo da PASS) o projeto começou com o que apelida de uma motivação básica: “A necessidade de entender por dentro como estavam a ser usadas as ferramentas de ‘Inteligência Artificial’ que estavam a produzir de forma consistente retornos positivos com um risco incorrido bastante controlado”, expressa.

Convicto de que “o futuro da gestão de ativos, cujo o objetivo de obter uma relação de rentabilidade/risco superior e relevante para competir a nível internacional, terá de passar por este tipo de soluções de tecnologia”, Paulo Gomes sentiu-se impelido a lançar esta fintech, motivado também pela conjuntura que abarcava, como diz, “várias alterações ao enquadramento de mercado”. Aponta, por exemplo, a importância da mudança de microestrutura de mercado, mais substancial a partir de 2007/2008, altura em que “começou a ser notória a perda de controlo dos traders humanos face aos fundos de HFT ( High Frequency Trading ), tendo estes passado a controlar a maioria das transações em bolsa”. Lembra ainda fatores como a “persistência de resultados impressionantes de fundos sistemáticos”, ou “a disseminação de abordagens na optimização da alocação de ativos que até então não eram muito divulgadas como por exemplo a construção de portfolios com base em Risk Parity”.

Conhecimento em vários ramos

Ponto assente, para Paulo Gomes, era a certeza de que teriam de “iniciar uma empresa de tecnologia onde se agregassem vários ramos de conhecimento”. Por um lado, conta, “a experiência e o conhecimento de mercados financeiros e do funcionamento de várias  estratégias de hedge funds”, nos quais já investiam nas entidades para as quais trabalhavam, com, por outro lado “a matemática, as engenharias física, aeroespacial, de computadores e informática e outras áreas como línguas e direito”.

Com o apoio do know-how vindo de algumas universidades, “o balanceamento entre “cabelos brancos” e gente jovem brilhante mas ao mesmo tempo com humildade e um espírito crítico construtivo”, conduziu à construção da plataforma que têm hoje em dia. Nela combina-se o “Big Data, com o desenvolvimento de algoritmos feitos em diferentes linguagens, utilizando ferramentas de Machine Learning, Deep Learning e Reinforcement Learning, assente numa arquitetura de hardware versátil que permite High Performance Computing (HPC)”.

Retorno absoluto ou retorno relativo

As soluções providenciadas pela entidade têm por detrás uma filosofia de investimento mais direcionada para a obtenção de retorno absoluto, mas todas as soluções podem ser construídas para retorno relativo. Desta forma, e sistematizando, o CEO da entidade fala de várias:

Asset Allocation – “onde podem ser utilizados vários tipos de optimização, mas onde a estimativa dos retornos, risco e covariância entre os ativos é feita com recurso a combinação de Machine Learning e Deep Learning.”

Estratégias Temáticas “como por exemplo a construção de portfolios com base em Alternative Dataset’s como é caso do Sentimento sobre títulos cotados, Quantamental, estratégias de arbitragem e de reversão para a média ou de exploração de certos tipos de padrão de comportamento”.

Risco Sistémico – “divididas entre risco Endógeno  (onde temos a contribuição das áreas de sistemas complexos e no nosso caso mais particular da (ins)estabilidade das populações ( neste caso constituído pelo mercado de capitais) e  risco Exógeno através da medição e antecipação dos processos de contaminação em conjunto com medidas de conectividade entre as várias empresas do sistema financeiro”.

Previsões de Comportamento de preços (commodities) ou de risco de recessão. “Aqui a ideia é servir quer os clientes industriais quer os financeiros. Começámos por fazer previsões para o Brent, onde alcançámos taxas de acerto na ordem dos 67 a 70% e entretanto já começamos a aplicar ao açúcar com taxas de acerto semelhantes, embora um pouco mais abaixo na ordem dos 64 a 66%.”

Distinção

As soluções previamente apresentadas permitem, entre muitas outras coisas, apresentar ao cliente um backtest com pressupostos o mais realistas possível. “Conseguimos dar a entidades de pequena e média dimensão a possibilidade de não terem de passar pela curva de experiência e de tempo, nem pela exigência de investimentos consideráveis para conseguirem reproduzir o mesmo tipo de soluções que dispomos”, diz Paulo Gomes.

Mas a distinção do trabalho que efetuam mede-se, em primeiro lugar, “pelos resultados obtidos pelos modelos”, que apresentam. Em segundo lugar, acrescenta, como vantagem “a transparência do modelo de negócio, onde o cliente tem absoluto controlo e a responsabilidade sobre a utilização das soluções em mercado”, sendo ainda permitido ao cliente “controlar o risco, o seu dinheiro e os seus ativos, que permanecem na sua conta”.

Os céticos e os mais decididos

Bancos, Sociedades Gestoras de Fundos ou de Patrimónios e Family Offices. Estes são o típico cliente que procura os serviços da PASS. Empresas financeiras, na sua maioria de “média ou pequena dimensão”, que realça o profissional, “não têm condições para fazer investimentos quer ao nível de recursos humanos, quer ao nível de hardware”.

Nos clientes que abordam há dois tipos de reação, conta Paulo Gomes. Os que “já têm algum know-how sobre o tema, o que torna todo o processo mais simples e com resultados mais rápidos”, mas também os mais cépticos. Têm “receio que as suas carreiras sejam afetadas, mas rapidamente se apercebem que a nossa visão não é de substituição do humano, mas sim numa perspectiva de complementaridade e aí, aquilo que parecia uma ameaça torna-se numa vantagem, pois permitimos a essas pessoas tornarem-se os líderes da transformação digital e da inovação nesta área dentro das suas instituições”.

Mas o saldo é óbvio: “Muitos destes clientes já perceberam que só através da incorporação de tecnologia, como aquela que é desenvolvida por nós e por outras empresas semelhantes a nós poderão ter futuro e capacidades distintivas”, conclui.