A Alfi demonstra a reputação do país como o segundo hub financeiro a nível mundial. Na sua conferência anual sobre mercados privados celebrada no Luxemburgo, a entidade reuniu especialistas que debateram sobre as tendências mais importantes da indústria.
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A associação da indústria de fundos do Luxemburgo, Alfi, demonstra a reputação do país como o segundo hub financeiro a nível mundial e as capacidades de passar os seus serviços para os mercados de ativos privados. Na sua conferência anual sobre mercados privados celebrada no Luxemburgo, a Alfi reuniu especialistas que debateram sobre as tendências mais importantes da indústria: estruturação de veículos num contexto internacional, evolução do mercado, novidades normativas e fiscais, tecnologia, talento e considerações operacionais fundamentais.
Um dos principais temas debatidos foi a liquidez, a partir de vários ângulos. O principal, e o mais recorrente, foi a liquidez periódica (e condicionada) que as estruturas evergreen oferecem. Um termo escolhido por alguns dos oradores para evitar a palavra semilíquidos, e que fazem alusão a uma nova onda de veículos que estão a chegar ao mercado para encher as estantes dos distribuidores e wealth managers.
Mas também foram abordadas as distintas ferramentas para oferecer liquidez aos investimentos em carteira através de financiamento do NAV, fundos de continuação ou fundos secundários. A bolsa do Luxemburgo também tem os seus planos para impulsionar a liquidez em todos os tipos de ativos.
Contexto desafiante
Christopher Hunter, diretor de Investimento na Cambridge Associates e um dos primeiros oradores do evento, falou sobre a pressão em termos de rentabilidade que as estratégias de private equity têm sofrido nos últimos anos. Assinala fatores adversos como a subida das taxas de juro desde 2022 e as restrições ao investimento causadas pelo agravamento das relações internacionais com países como a China e a Rússia, que provocaram um abrandamento nos desinvestimentos.
No entanto, o setor e os investidores reagiram. Um exemplo disso é o rápido crescimento do mercado secundário. Christopher Hunter espera que a liquidez normalize à medida que as taxas de juro forem baixando, o que permitirá aos gestores de ativos explorar um conjunto de oportunidades amplas, mas complexas e em evolução. “Acredito na asset class. Os últimos 15 anos puseram à prova a utilidade do private equity numa carteira”, assinala.
Auge dos fundos evergreen
Prevê-se que o mercado de ativos alternativos (incluindo os hedge funds) atinja um total de 29 biliões de dólares (26,4 biliões de euros) em 2029. Assim o expôs Alex Murray, responsável de Investigação de Ativos Reais da Preqin.
Segundo a sócia-diretora Justina Deveikyte, a sua consultora Novantigo prevê que o mercado mundial de património privado para estratégias de mercado privado cresça até se situar entre os dez biliões de dólares (9,1 milhões de euros) e 13 biliões de dólares (11,8 milhões de euros) nos oito anos que restam até 2032. Isto dará lugar a uma maior concorrência entre os fornecedores de fundos evergreen ou semilíquidos para se ser escolhido para estar entre a oferta de produtos que os bancos privados oferecem.
Enquanto os palestrantes andavam pelo evento, foi ficando claro que os evergreen semilíquidos são uma tendência, que não são adequados para todo o tipo de ativos, que faz falta muita educação e transparência e que, sobretudo numa audiência vinculada ao fund servicing, é necessário dar foco à estruturação.
Do ponto de vista comercial, serão dirigidos fundamentalmente às bancas privadas. Soraya Kamel, responsável de Desenvolvimento de Negócio da Allfunds Alternative Solutions, assinalou que nem sempre existe uma relação entre o que as gestoras lançam e o que os distribuidores exigem, mas, no caso dos semilíquidos, “existe”, afirma. Soraya Kamel afirmou que o objetivo do Allfunds Bank é derrubar as barreiras ao investimento e facilitar o acesso aos fundos do mercado privado, bem como aos UCITS.
Financiamento do NAV
O financiamento NAV no setor dos fundos alternativos tem sido objeto de críticas nos últimos meses, atraindo um maior escrutínio por parte dos reguladores, preocupados com as suas implicações para a alavancagem geral dos fundos de capital de risco e as possíveis reações em cadeia sobre a estabilidade financeira. No entanto, Daniel Sinclair, sócio da Ares Management, e Matthew Kirsch, responsável do Financiamento do NAV da Pemberton Capital Advisors, explicaram a sua capacidade para criar valor, bem como questões de transparência, processos de subscrição e desafios operacionais.
Por sua vez, Daniel Sinclair destacou a flexibilidade da alavancagem a nível de fundo e o seu potencial para potenciar o crescimento e a criação de valor através do financiamento de investimentos adicionais nas sociedades em carteira dos gestores. Algo particularmente relevante no atual mercado de saída, em que os ativos se mantêm frequentemente durante mais tempo do que o previsto.
Matthew Kirsch sublinhou a importância de se compreender as garantias oferecidas pelos gestores de ativos, que devem comunicar de forma transparente aos investidores as razões da alavancagem. Embora uma das razões seja a criação de liquidez para os investidores quando não se dispõe de opções de saída ao preço adequado, os oradores afirmam que estas operações representam apenas 15% do financiamento NAV (o resto foi canalizado para a criação de valor dentro da carteira).
Segundo Matthew Kirsch, o financiamento do valor liquidativo não representa uma alavancagem acrescida ao endividamento existente, visto que costuma ser aplicado a carteiras maduras, uma vez que a alavancagem inicial foi amortizada.
Fundos de continuação
Os problemas que os general partners têm enfrentado no momento de sair dos investimentos nos últimos dois anos impulsionaram a criação crescente de fundos de continuação como sucessores dos veículos de investimento existentes. Segundo Herbert Thomas, diretor-geral da ECE Real Estate Partners, o processo deve ser muito aberto e transparente, e não se deve dar a entender aos investidores que esta é a única opção, mas “os fundos de continuação podem ser muito benéficos para os general partners, os investidores existentes que podem retirar os seus investimentos e os novos investidores”.
De uma ou outra forma, estão aqui para ficar, afirma o responsável de Secundários do Fundo Europeu de Investimentos, Joaquín Ruiz. Assinala que o relatório Evercore Private Capital revelou que a proporção de general partners que tinham estabelecido veículos de continuação e que estavam no processo de fazê-lo ou a considerá-lo tinha aumentado de 30% em 2018 para 80% quatro anos depois. A estratégia dá lugar à possibilidade de conflitos de interesse, segundo Joaquín Ruiz, mas a questão é como é que esses conflitos são geridos.
Fundos cotados
A bolsa do Luxemburgo está a intensificar os seus esforços para impulsionar a liquidez de todas as classes de ativos, inclusive os fundos cotados, com o objetivo de aproveitar o crescente apetite dos investidores não profissionais por uma gama mais diversa de ativos e estratégias, segundo Carlo Oly, responsável de Gestão de Relações do Operador em Bolsa, que reconheceu a importância de um mercado secundário dinâmico, em particular para produtos como os ELTIF.
Embora a bolsa luxemburguesa já seja líder na negociação no mercado primário de obrigações, fundos e outros títulos, esta está a tentar atrair agentes internacionais para o seu mercado secundário, centrando-se inicialmente nas obrigações, mas abrangendo também outros ativos. Carlo Oly afirmou que uma maior liquidez do mercado secundário pode beneficiar os investidores particulares, os quais se pretende atrair com os ELTIF, embora tenha reconhecido que a dimensão restrita do mercado nacional luxemburguês levanta um desafio.