Chamou a atenção a enorme emissão de títulos da Amazon na semana passada, o que pode ter sido uma surpresa para muitos, dado que a empresa divulgou recentemente números fortes do primeiro trimestre.
Os mercados costumam ser difíceis para os investidores em maio. Os emitentes de títulos agarram uma janela de oportunidade após a temporada de lucros do primeiro trimestre e antes da calmaria típica do verão. Isto geralmente traduz-se numa grande oferta no final de abril e início de maio. Daí o velho ditado de Sell in May and go away.
Neste contexto, chamou a atenção a enorme emissão de títulos da Amazon na semana passada, o que pode ter sido uma surpresa para muitos, dado que a empresa divulgou recentemente números fortes do primeiro trimestre, com um impressionante fluxo de caixa operacional de 67.200 milhões de dólares nos últimos 12 meses e 4,2 mil milhões de free cash flow no primeiro trimestre.
Por que é que uma empresa com tanta liquidez no seu balanço decide emitir 18,5 mil milhões de dólares em dívida?
“A Amazon disse que a operação foi para fins corporativos gerais (aquisições oportunistas, capital circulante ...), o reembolso da dívida existente e a recompra de ações ordinárias. Se olharmos para o preço final, parece que esta é uma operação muito oportunista para o emitente, em níveis raramente disponíveis para as empresas, mesmo as mais importantes como a Amazon”, explica Gary Kirk, sócio da TwentyFour AM (boutique da Vontobel AM).
O negócio de oito tranches variou de um título de mil milhões de dólares a dois anos com um preço notável de T + 10 pontos-base, a um negócio de 1,75 mil milhões a 40 anos com um preço de T + 95 pontos-base.
AVALIAÇÃO
“Isso não significa nada em detrimento da Amazon. Tem sido um sucesso incrível e, na minha opinião, justifica a sua forte classificação A1 / AA- em todas as métricas de crédito. No entanto, questionaria qualquer investidor que afirme avaliar um empréstimo corporativo a 40 anos com menos de 1% de spread de crédito acima da taxa sem risco. E questionaria a lógica de investir num título corporativo a dois anos quando por apenas 10 pontos-base a menos poderá comprar o equivalente do Treasury. Com toda a liquidez adicional que este costuma oferecer”.
Para o profissional, não é difícil imaginar que, em algum momento dos próximos dois a 40 anos, será possível comprar esses títulos a preços mais baratos.
“Sem dúvida, acreditamos que esta é uma operação inteligente e um financiamento muito barato para a Amazon. No entanto, para nós, mostra o ímpeto com que se move este ciclo de crédito. E também a necessidade de os investidores serem cada vez mais exigentes na seleção de ativos. Se eu fosse uma grande empresa com classificação investment grade, provavelmente tentaria replicar essa operação; como investidor, simplesmente fico na defensiva”, finaliza o especialista.