Mark Lacey, responsável de matérias primas da Schroders, e Felix Odey, analista de Energias renováveis na entidade, apresentam quatro gráficos para explicar a situação que a Europa enfrenta.
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A subida dos preços do gás e da eletricidade ocupou as manchetes das últimas semanas. A Europa parecer ser o centro da tormenta, embora não seja a única que está a viver um forte aumento dos preços.
A China também sofre escassez de energia e está a racionar a eletricidade em algumas províncias. Muitos dos fatores que impulsionam a oferta e a procura por detrás das subidas de preços são também de natureza global.
No entanto, tal como explicam Mark Lacey, responsável de matérias primas da Schroders, e Felix Odey, analista de Energias renováveis na entidade britânica, há alguns fatores específicos da Europa que poderão servir para manter os preços elevados e não há uma solução fácil para que voltem a baixar rapidamente. Apoiando-se em quatro gráficos, ambos os profissionais quiseram explicar os motivos que explicam os motivos desta situação e porque é que a crise energética na Europa não tem uma solução fácil a curto prazo.

Os preços da eletricidade disparam
A maior parte da subida do preço da eletricidade deve-se à escassez de gás natural. O gás natural considera-se desde há algum tempo um combustível de transição para a nova geração de energia. Comparativamente com o carvão, produz a mesma energia, mas com metade das emissões CO2. “Não é em absoluto uma solução a longo prazo se queremos alcançar os objetivos de emissões líquidas zero (a menos que se possa aplicar a tecnologia de captura de carbono), mas é um remendo útil enquanto se abandona o carvão”, recordam.
No entanto, devido em parte ao seu duvidoso futuro a longo prazo, o investimento em gás natural tem sido insuficiente. “Muitas empresas integradas de petróleo e gás têm mostrado relutância em financiar novos projetos, dado que o seu objetivo mais amplo é a transição para as energias renováveis. Enquanto isso, os baixos preços regionais do gás em anos anteriores provocaram a paralisação ou o adiamento de vários projetos de exportação de gás natural liquefeito. Os projetos que tinham servido para abastecer em 2019, 2020 e 2021 agora apenas poderão abastecer os mercados mundiais de gás em 2025 e mais à frente”.
Ao mesmo tempo, o gás armazenado é escasso em todo o mundo, assinalam Lacey e Odey. O gráfico seguinte indica como os níveis de armazenamento de gás na Europa estão muito abaixo da média à medida que nos aproximamos dos meses mais frios de inverno.

A falta de vento afeta a produção renovável
De acordo com os especialistas da Schroders, a falta de disponibilidade de gás coincide agora com um aumento da procura. Os recentes fechos das centrais de carvão e o clima desfavorável estão a afetar outras fontes de geração de energia. O gráfico seguinte mostra como a velocidade do vento no Reino Unido tem sido muito inferior ao habitual durante grande parte do verão e até setembro. “Isto afetou negativamente a geração de energia eólica”.

Não há respostas fáceis
Para Lacey e Oley, não há uma solução rápida para superar a escassez de gás neste momento. “O campo de gás de Groningen, nos Países Baixos, que a dado momento foi o maior produtor de gás da Europa, reduziu drasticamente a sua produção na última década devido ao risco de terramotos provocados pelas perfurações”.
Portanto, a Europa depende em grande medida da Rússia para o fornecimento de gás, mas os níveis de armazenamento russos reduziram-se juntamente com os do resto do mundo. “Os volumes ainda estão a recuperar depois do incêndio da fábrica de Novy Urengoy em agosto e a Rússia continua à espera que a Europa aprove o gasoduto Nordstream 2. Acreditamos que é pouco provável que os volumes de gás da Nordstream 2 cheguem ao mercado europeu antes do final do ano”, avisam.
Além disso, os especialistas veem pouco factual que a energia eólica possa acudir ao resgate de imediato e ajudar a baixar os preços gerais da eletricidade. O gráfico seguinte mostra como a energia eólica costuma representar uma grande proporção da procura de eletricidade na Europa no quatro trimestre, mas que poderá ter um deficit de novo no primeiro trimestre.

Portanto, não prevêm que a atual situação nos mercados elétricos europeus se suavize até junho do ano que vem, aproximadamente. “E, claro, a eletricidade não pode simplesmente substituir o gás. O Reino Unido, por exemplo, depende do gás para quase todas as suas necessidades de aquecimento”, concluem.