No fim de 2019, um banco central europeu, o Banco da Suécia, optou por subir as taxas de juro.
O fim do ano de 2018, quando praticamente não houve nenhum ativo que tenha escapado ao mau comportamento do mercado, ficou marcado pela ideia generalizada de que 2019 marcaria o fim da política acomodatícia de taxas de juro que já celebrou 10 anos. Quem iniciaria essa mudança de rumo, diziam na altura as gestoras, seriam os EUA. Mas a possibilidade de que a guerra comercial iniciada por Trump acabaria a dificultar ainda mais o débil crescimento dos EUA foi suficiente para que a Fed de Jerome Powell abortasse essa missão de normalização monetária.
De facto, as esperadas subidas de taxas em 2019 nos EUA transformaram-se em novos cortes, ao ponto de a Reserva Federal baixar as taxas em três ocasiões este ano e, além disso, agora ninguém espera que mude essa postura em 2020. Também o fará o BCE de Christine Lagarde, que tem a difícil tarefa de manter o espírito do “whatever it takes” de Draghi ao mesmo tempo que inicia a tarefa política de convencer os governos da necessidade de implementar políticas fiscais para sustentar a economia.
Não obstante, a menos de 15 dias de terminar 2019, aconteceu uma surpresa. Um banco central europeu, o Banco da Suécia, optou por subir as taxas de juro. Subiu 25 pontos base até atingir níveis de 0% e, segundo explicam da J.P.Morgan AM, tal movimento “não está em linha com outros bancos centrais do mundo, já que mais de 40 bancos centrais cortaram as suas taxas de juro mais de 60 vezes se os considerarmos conjuntamente”. A medida, que ninguém espera que se repita pelo menos no curto prazo, tendo em conta as débeis perspetivas económicas e também a inflação da Suécia, parece ter sido um teste levado a cabo pela Suécia para testar como se comporta a economia sem o apoio de taxas negativas. “Durante as reuniões recentes ficou bastante claro que os formuladores de políticas estão mais cautelosos acerca das taxas negativas se tornarem num estado de coisa mais permanente e o efeito que poderá ter nas expectativas das pessoas”, afirmam na ING Economics.
De facto, cada vez são mais os especialistas que referem que manter as taxas em níveis negativos durante mais tempo pode causar mais prejuízos do que benefícios, mais na economia do que nos mercados. “Acreditamos que a política de taxas negativas poderá causar mais dano do que ganhos às economias e aos mercados, devido ao seu impacto nos bancos, nas empresas de seguros e nos fundos de pensões, assim como também um possível efeito adverso no consumo”, explicam da PIMCO.
Ainda assim, nas previsões que no fim de 2019 fazem as gestoras de fundos, nenhuma contempla uma mudança de critério nem por parte do BCE nem da Fed, ainda para mais tendo em conta que os EUA celebram em 2020 eleições presidenciais e que não é habitual que com este tipo de celebrações políticas como pano de fundo se levem a cabo variações significativas na política monetária. Ou isso pelo menos é o que aponta um recente questionário da Bloomberg a economistas. Segundo o mesmo, 94% deles esperam que a Fed se mantenha sem mudanças na sua política durante 2020. Claro, que como se viu em 2018 as previsões não são, nem pouco mais ou menos, uma ciência exata.