Especialistas da Goldman Sachs AM analisam a evolução das bolsas emergentes entre janeiro e março, e revelam as perspetivas macro para a China, Índia, Rússia e México.
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A visão estratégica que dominava o consenso de mercado no início do ano não podia estar mais errada: face a um hipotético colapso dos emergentes como consequência da implementação de políticas protecionistas nos EUA e de uma Reserva Federal mais hawkish, o certo é que o MSCI Emerging Markets fechou o primeiro trimestre do ano com uma interessante subida de 11,4%, face aos 5,1% do MSCI Developed Markets.
“As ações emergentes estiveram animadas pelo otimismo em torno do crescimento, devido aos fortes dados económicos e à subida dos preços dos metais e das ‘soft raw materials’”, dizem da Goldman Sachs AM. Os analistas da entidade consideram que estas forças contribuíram para neutralizar “as preocupações crescentes sobre a incerteza política e sobre o protecionismo vindo da nova administração norte-americana”. Os especialistas também recordam que a reação do mercado à subida de taxas em março foi ‘morna’, porque a Fed comunicou uma mensagem cautelosa relativamente ao futuro da subida de taxas, e em parte por causa da presença de um dissidente no Comité Federal do Mercado (FOMC).
Três produtos da gama de emergentes da Goldman Sachs AM estão classificados com Selos Funds People: o Goldman Sachs Emerging Markets Debt Portfolio, é Blockbuster e Consistente Funds People, enquanto que o Goldman Sachs Emerging Markets Corporate Bond Portfolio e o Goldman Sachs Emerging Markets CORE Equity Portfolio são ambos Consistentes Funds People. A entidade indica em seguida uma atualização da sua visão macro para mercados emergentes chave.
#India
Tem sido o mercado emergente mais rentável, com um retorno de 17,1% durante o primeiro trimestre. Dois acontecimentos vinculados às Modinomics contribuíram para o otimismo neste mercado: a publicação de Orçamentos Gerais que da Goldman Sachs classificam como “pragmáticos”, e a vitória do partido que está no governo nas eleições estatais.
“As previsões para a Índia continuam a sobressair em relação a outros mercados emergentes e desenvolvidos. O ritmo de recuperação dos lucros nos últimos dois anos e meio de certa forma dececionaram, mas acreditamos que teve impacto no enfoque da Administração Modi sobre a redução dos deficits gémeos herdados do regime anterior”, explicam da entidade.
Os analistas consideram que a aprovação do orçamento para o atual exercício reflete este compromisso com a consolidação fiscal. Também constatam que o Executivo começou a tomar mais medidas para estimular a economia rural da Índia; juntamente com o investimento contínuo em infraestruturas e uma maior racionalização fiscal, “poderá ajudar a iniciar o ciclo de recuperação de lucros”.
Da Goldman Sachs indicam que a drástica retirada das notas de 500 e 1000 rupias de circulação tem tido um impacto negativo apenas temporário. Efetuam uma dupla observação sobre a medida: “A desmonetização fracassou no seu objetivo de reduzir significativamente o dinheiro negro no sistema, pois, na verdade, menos de 5% do dinheiro em circulação foi efetivamente eliminado. No entanto, ainda se pode argumentar que esta medida atuou como um poderoso sinal anticorrupção, ao mesmo tempo que melhorou significativamente a capacidade do governo indiano para aumentar daqui em diante a recolha de impostos”.
#China
As ações chinesas avançaram cerca de 12,9% no trimestre. Os dados macro foram bons: os principais PMIs ofereceram leituras superiores aos 50 pontos e o crescimento do PIB chinês no quarto trimestre de 2016 foi de 6,7% em linha com as expetativas de mercado; o objetivo oficial do Governo para este ano situa-se em torno dos 6,5%.
Os especialistas destacam as medidas tomadas recentemente para reduzir o excesso de capacidade, endividamento, contaminação e corrupção, embora realcem que estes objetivos “parecem ir contra o desejo percebido por parte do governo de manter o crescimento por causa do 19º Congresso do Partido Comunista Chinês”. Por exemplo, no que diz respeito ao endividamento, indicam que “o recente ênfase no endurecimento dos controlos de capital é muito deliberado”.
A visão da Goldman Sachs AM é que “o Governo precisará de contratar muitas das empresas estatais para evitar uma restrição repentina das condições financeiras”; esta influência “é provavelmente negativa para os acionistas minoritários”, por apresentar potencial de retornos inferiores nos próximos anos. Por esta razão, a entidade optou por subponderar a sua exposição a esta classe de empresas, especialmente bancos chineses e empresas ligadas ao sector industrial.
#México
O Banco Central do México (Banxico) executou recentemente a sua quarta subida consecutiva de taxas, facilitando a subida do Peso depois de várias semanas em queda. Graças a esta manobra, a bolsa mexicana tem sido a mais rentável das emergentes em março. Sobre o cumprimento das ameaças de Donald Trump, da entidade consideram que “não está claro até que ponto essas medidas são apenas retórica ou se vão ser implementadas formalmente”. Constatam de facto que a incerteza está a ter impacto sobre o contexto dos negócios, “especialmente por coincidir com um momento em que o crescimento nacional desacelerou, o investimento em infraestruturas foi débil e a opinião política sobre a Administração atual tem estado em a decrescer”.
Os especialistas consideram que, das promessas de Trump, a mais provável seja a renogociação do NAFTA: “No entanto, não deverá ser entendido como algo negativo. Os termos do NAFTA foram delineados pela primeira vez há 20 anos e temos visto uma mudança considerável nos motores económicos e nos fluxos comerciais desde então. Voltar a debater alguns elementos do acordo poderá de facto ser bastante lógico.
Na Goldman Sachs ressaltam desta forma o impacto positivo da estabilização do preço do petróleo sobre a economia mexicana. “Embora a Pemex continue a ser totalmente estatal, as receitas do governo estão muito vinculadas ao sector, pelo que uma estabilização dos preços poderá ajudar a proporcionar ao governo alguma flexibilidade que não teve nos anos recentes”.
#Rússia
Embora a Rússia também tenha beneficiado da recuperação dos preços do petróleo, “o desafio continua a ser a fraqueza de um bom governance, em grande parte dos sectores da energia e materiais, que lideraram o rally”. “Esta preocupação resulta, em primeiro lugar, da relação direta ou indireta que muitas dessas empresas têm com o governo e, como tal, o problema de interesses não-coincidentes entre investidores de retalho e o estado enquanto dono maioritário”, explicam.
É importante recordar que a Rússia tem eleições marcadas para 2018; “os investidores estão à espera da chegada de um maior alívio fiscal, provavelmente em forma de subsídios e aumentos salariais no sector público, o que serviria de apoio para a economia em geral”.