Portugal surpreende com uma emissão a 20 anos

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Créditos: Sharon Pittaway (Unsplash)

Portugal foi pela primeira vez em 2022 ao mercado para emitir 3.000 milhões de dívida a muito longo prazo, nomeadamente, a 20 anos. A operação, realizada a uma yield de 1,2%, mostra que o IGCP (Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública) "acaba por tirar partido do ainda baixo nível de taxas de juro" para fazer esta emissão de longo prazo "com um prémio de risco inferior ao custo médio que a dívida nacional apresenta”, como comenta Filipe Silva, diretor de Investimentos do Banco Carregosa.

Para o profissional da instituição financeira, o leilão a 20 anos foi uma surpresa para o mercado, visto que se esperava um novo benchmark para Portugal a 10 anos. "Não obstante, a procura acabou por ser muito forte, numa altura em que assistimos a uma subida generalizada dos prémios de risco das dívidas soberanas europeias. Os fatores que têm levado a esta subida não são novos. Uma inflação persistente, elevados preços da energia, interrupção da cadeia de abastecimento e os efeitos de novas variantes do vírus. Para contrabalançar todos estes efeitos, os bancos centrais têm ajustado as suas políticas, anunciando a retirada de estímulos. Numa fase posterior perspetiva-se que iniciem um ciclo de subida das taxas de juro", explica.

A distribuição dos investidores nesta emissão por geografia e perfil de investidor foi a seguinte:

As opiniões da gestão de ativos

As opiniões de diversos profissionais do mundo da gestão de ativos nacional apontam para que o ambiente de política monetária se mantenha amigável para Portugal. Perante a perspetiva de uma eventual subida das taxas de juro, João Paulo Caldeira da Silva, do departamento de desenvolvimento e marketing de retalho no novobanco, referia recentemente que se mantém neutro "em relação à dívida pública europeia", considerando que vê "pouco espaço de manobra para uma mudança substantiva na política monetária do BCE".

No mesmo sentido, Carlos Pinto, senior investment manager na Optimize Investment Partners vê o BCE, como "mais atrasado no tappering do que o seu par americano", pelo que "deverá ficar-se pela redução do plano de compras mensais a partir de março de 2022, assim que o atual programa termine. A mexida nas taxas de juro ainda não deverá ser tema para 2022", diz.

Eduardo Monteiro, head of discretionary portfolios of HNWI na BPI Gestão de Ativos destacava como "a dívida acumulada dos dois lados do atlântico é muito elevada e, por outro lado, as compras por parte do Banco Central Europeu são uma forma “escondida” de redistribuição entre países, o que é essencial para uma moeda única como o euro". Deste modo, dizia, "as subidas de taxas deverão ser graduais e contidas na sua dimensão".