Pré-acordo de Brexit: primeiras reações das gestoras

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Após meses de negociações, parece que o Reino Unido e a Europa finalmente esboçaram as linhas do seu divórcio. Segundo vários comunicados emitidos ontem à noite, parece que ambas as frentes definiram um rascunho das palavras para a saída do Reino Unido da União Europeia, incluindo mecanismos desenhados para assegurar que o Brexit não cria uma fronteira fechada na Irlanda do Norte. O mercado reagiu com uma breve celebração que se refletiu na libra, embora tenha durado pouco tempo, à medida que os mercados recordavam que ainda falta passar o entrave da ratificação do acordo no Parlamento britânico.

Segundo explica Paul O’Connor, diretor da equipa de multiativos da Janus Henderson, o plano geral parece ser que o gabinete dê a sua aprovação esta quarta-feira - coisa que se cumpriu ao final da tarde -, depois, conseguir passar um acordo formal para uma reunião com a UE no final de novembro antes de procurar a ratificação do Parlamento britânico em dezembro.

Logo de manhã, ainda não se conheciam os detalhes do pré-acordo. Só perto das 21 horas é que a UE tornou o documento público, de quase 600 páginas de comprimento. Antes de fazer alguma ideia sobre as medidas propostas, os especialistas previam que não será uma proposta que agrade a todos.“Os “brexiteers” do Partido Conservador de May anunciaram que vão lutar contra o acordo, uma vez que o consideram como uma grande concessão à UE. O Partido Laboral disse que vai fazer cair qualquer acordo que não garanta os benefícios económicos que representa ser atualmente membro da UE. E o DUP da Irlanda do Norte, entre outros, vai ler com atenção a solução proposta para a fronteira com a Irlanda”, recorda David Alexander Meier, da equipa de Macro Research da Julius Baer.

Apesar de May ter conseguido a aprovação do seu gabinete, contra todas as expectativas, ainda é demasiado cedo para apostas categóricas. “Este é um acordo de mínimos e ninguém pode ter ilusões sobre o complicado que foi ter chegado a esta posição. Mas ainda não chegámos ao final desta etapa. O problema estará nos detalhes sobre a questão da fronteira irlandesa. Tudo depende dos detalhes e, em última instância, de se Theresa May poderá conseguir que o Parlamento o aprove. Há uma espada de Dâmocles sobre May, que está nas mãos dos seus próprios parlamentares, pois ainda tem que os convencer – tanto os seus deputados, como o resto do Parlamento – e não temos garantias de que vá ser aprovado”, comenta Stephanie Kelly, economista política da Aberdeen Standard Investments.

Os próximos dias serão essenciais, comenta Meier, sobretudo porque o tempo para tirar uma solução da cartola está a esgotar-se.

Possíveis impactos segundo o cenário

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As implicações para os mercados variam significativamente caso o acordo se pareça mais com o tratado CETA de Canadá ou com o que a Noruega tem para permanecer na área económica europeia (EEA). Como se pode ver pelas estimativas elaboradas por Shamik Dhar, economista chefe da BNY Mellon Investment Management, as previsões podem levar a tomarem uma posição tanto curta, como longa na libra. 

Outros especialistas, como Luca Paolini, estratega chefe da Pictet AM, são mais otimistas. "A Inglaterra é o nosso mercado desenvolvido favorito em 2019. É um dos mercados menos cíclicos e mais defensivos, com muitas empresas relacionadas com o consumo básico e farmacêutico. Além disso, a libra está barata. Ainda não se sabe que tipo de Brexit irá haver e tem de se esperar, mas a maioria das notícias negativas estão deduzidas. O seu mercado de ações tem uma exposição pequena domesticamente, e com uma libra debilitada, os seus exportadores podem ter boas hipótees. De qualquer maneira, mesmo que o Brexit não seja bem-sucedido, não esperamos uma saída maciça de capitais", defende.