Desde a entrada em vigor da componente verde da MiFID muito se tem escrito sobre o tema. De uma forma geral, ninguém se opõe à existência de regulamentação que incentive investidores, gestores e empresas a um maior contributo para a causa ambiental, social e de governança. No entanto, muitas são também as críticas apontadas, nomeadamente, no que respeita ao questionário de preferências que as entidades financeiras têm que disponibilizar aos seus clientes. A falta de clareza das respostas aliada ao parco conhecimento por parte dos investidores sobre estas matérias são alguns dos obstáculos apontados. Poderão estar as suas respostas vinculadas, predominantemente, a uma vertente emocional? Esse foi um dos tópicos discutidos num evento organizado entre FundsPeople e a Amundi, no qual os participantes Cristina Carvalho, Elisabete Pinto Pereira e Jorge Botelho Silveira demonstraram a crença de que sim.
Preferências de sustentabilidade: uma questão emocional?
Para Cristina Carvalho é evidente o interesse crescente por parte dos investidores em integrar a componente de sustentabilidade nas suas carteiras. A profissional faz referência ao fundo de green bonds ultra curto prazo da Amundi, lançado há apenas um ano, como um produto que responde, precisamente, “à procura por parte dos investidores institucionais, dentro do universo de rendimento fixo de mais curto prazo, por essa mesma componente”.
Mas a abordagem do tema da sustentabilidade manifesta-se, inclusive, em práticas concretas. A responsável da Amundi enfatiza a importância de ações como a exclusão de empresas não alinhadas com o estabelecido no Acordo de Paris e ainda o acompanhamento que é feito pela entidade a empresas que necessitam de maior suporte para adotarem práticas mais sustentáveis. “É o que nós chamamos de improvers, que são empresas que estão numa fase inicial dessa transformação e que, portanto, necessitam de maior apoio do que uma que já esteja mais avançada. E isso leva tempo”, explica.
Paralelamente, Cristina Carvalho considera fundamental que haja um claro compromisso entre as gestoras e os investidores “através de aconselhamento, disponibilidade de ferramentas e serviços que levem a uma tomada de decisão de investimento mais consciente”. Deste modo, a profissional acredita que os investidores tomarão decisões com base no conhecimento e informação que possuem e menos devido a estados emocionais.
1/3A profissional do novobanco revela que “têm vindo a ser feitas melhorias progressivas para integrar critérios de sustentabilidade na seleção de ativos” por parte da entidade. As métricas incluem, por exemplo, “Políticas de Exclusão ou Principais Impactos Adversos”.
Elisabete Pinto Pereira conta, inclusive, que a entidade que representa implementou “um questionário de preferências de sustentabilidade”, ao abrigo da MIFID II, e admite que tem sido um processo exigente “devido à escassez de informação e à falta de clareza ou divergência de dados”. Sobre esta matéria, considera ainda que este tipo de questionários, acabam por ser “muito emocionais”, ou seja, o investidor acaba por responder de forma mais circunstancial, influenciado por um determinado contexto. “E o que, também, acontece frequentemente”, diz, “é os clientes dizerem que não têm preferências e não avançam”.
Desta feita, de modo a obter mais e melhores respostas, a responsável do novobanco explica que a entidade está “a testar um módulo informático em paralelo, mas independente do questionário, que incide, sobretudo, em questões de finanças comportamentais”. Este sistema visa extrair informação mais precisa sobre as preferências dos clientes “para que lhes possa ser feita uma proposta de investimento que vá ao encontro dos seus objetivos e tenha em conta o seu perfil de risco que, no final, é isso que o cliente procura”.
2/3Para o responsável pela Gestão de Ativos na BBVA AM, investir em empresas que sigam práticas ESG acaba por aportar uma segurança adicional aos gestores e explica o porquê: “Por um lado, promove um maior acompanhamento e interação com essas empresas e, por outro, a competente estratégica das empresas está melhor definida, portanto, os riscos de gestão estão mais mitigados”. No entanto, acredita que é necessário maior clareza de conceitos e procedimentos nesta área para que todos saiam beneficiados e o impacto na sociedade seja, verdadeiramente, positivo.
Relativamente às preferências declaradas dos investidores, também Jorge Silveira Botelho concorda que, muitas vezes, estas refletem alguma componente emocional e assinala a literacia financeira (ou falta dela) como uma das razões para justificar tal comportamento. É preciso investir em fazer chegar ao cidadão comum os argumentos que fazem do ESG um fator crítico de sucesso para as nossas vidas e para as gerações futuras. "Nesse sentido, a base é ter-se a consciência da necessidade de se estender o fator temporal dos investimentos", conclui.
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