Primeiras reflexões sobre como a crise na banca está a afetar os investidores: a perspetiva da State Street Global Advisors

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Créditos: Loic Leray (Unsplash)

Perguntas, muitas. Pânico, nenhum. Nas duas últimas semanas o relógio na indústria de gestão de ativos parou. Os debates sobre a inflação, a reabertura da China, ou o ESG viram-se eclipsados pelo início da crise de confiança no setor bancário. Como era de esperar, a queda do SVB nos Estados Unidos e do Credit Suisse na Europa tem estado na vanguarda das perguntas dos investidores nestes dias. “Precisavam de saber a sua exposição tanto a empresas individuais como a nível setorial. E numa segunda vaga houve muitas perguntas sobre o impacto no setor do real estate”, conta Rebecca Chesworth, estratega sénior de Ações e Setores da SPDR ETF (parte da State Street).

Mas isso foi no momento inicial da preocupação. Agora, nota, começam a surgir dúvidas sobre se o próximo movimento dos bancos centrais continuará a ser no sentido ascendente ou se começarão as reduções de taxas. Ainda se fala da incerteza em torno da banca, mas mais devido às suas implicações para a inflação e taxas de juro, vê Rebecca Chesworth. E essa sensação da especialista é apoiada pelo que vemos nos fluxos de capitais.

Fluxos defensivos, não saídas de pânico

A maioria das entradas da última semana foram para obrigações. Principalmente para o refúgio em obrigações de curto prazo. Ou seja, não para crédito, mas para governamentais, como Tesouro norte-americano ou governamentais europeus de prazos curtos (um a três anos). Esta postura defensiva também é observada nos fluxos para ações, onde predomina o interesse pelos dividend aristocrats, devido ao seu viés defensivo para ações de qualidade.

Também o podemos ver nos significativos fluxos que os ETF com um perfil semelhante ao observado receberam nas últimas semanas. Rebecca Chesworth interpreta-o como investidores a reservarem liquidez para estarem prontos para agir no momento certo. “É uma das razões pelas quais não vimos saídas substanciais de fundos. É cada vez mais fácil movimentar-se entre diferentes classes de ativos via ETF e agora encostar o dinheiro temporariamente em monetários já não requer perda de património. Pelo contrário, os títulos do Tesouro americano está a dar 4%”, explica.

E, ainda assim, a especialista não percebe a transferência massiva de ações para obrigações. Apesar do regresso das yields positivas. “Os investidores ainda têm muito presente a memória do ano passado, quando as correlações entre obrigações e ações se tornaram positivas. O debate sobre a evolução da tradicional carteira 60/40 continua”, afirma Rebecca Chesworth. Nessa linha, a especialista percebe que os clientes procuram progressivamente integrar vieses nas carteiras através da sua alocação de ativos setorial. “Em 2022 houve uma dispersão de 100% entre os retornos no setor americano com melhor desempenho (energético) e no pior (serviços de comunicação)”, relembra. Uma acertada seleção em carteiras continua a ser essencial.

Convicção na banca europeia

Falando de alocação setorial, Rebecca Chesworth concorda com essa visão construtiva sobre a banca. De facto, a equipa mantém a sua visão positiva sobre o setor financeiro em geral. Mas se tivesse de ser mais específica na sua abordagem, a especialista oferece dois conselhos. Primeiro, não saltar para a piscina de imediato. “Nas próximas semanas o setor ainda vai passar por muito ruído de mercado. Vamos ver diálogos sobre possíveis alterações na regulação financeira, pelo que haverá mais volatilidade”, prevê. Segundo, a ter de olhar para as financeiras, fazê-lo de uma perspetiva de setor e não de indústria. Tradicionalmente, investir num índice financeiro (que inclui, por exemplo, seguradoras, serviços financeiros, etc.) a longo prazo funcionou melhor do que investir num índice exclusivamente bancário.

Fonte: Bloomberg Professional L.P., a 16 de março de 2023

Dentro das financeiras, na gestora encontram melhores oportunidades na banca europeia em detrimento da norte-americana. Por um lado, o BCE ainda não está tão avançado no ciclo de subidas de taxas como a Reserva Federal. Por outro, as valorizações são mais atrativas nas ações europeias em termos de valor de price-to-book.

Mas a sua maior convicção atualmente está no setor industrial. Um setor alheio ao debate sobre a subida de taxas ou inflação e que beneficia dos planos de desenvolvimento industrial aprovados pelos países desenvolvidos, especialmente nos EUA no enquadramento da recuperação da economia pós-pandémica.