Princípio de acordo sobre o teto da dívida nos EUA: primeiras reações das gestoras internacionais

Créditos: Raúl Nájera (Unsplash)

A probabilidade de que o Congresso aprove um projeto de lei para aumentar o teto da dívida antes da data X aumentou após o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o líder da Câmara de Representantes, o republicano Kevin McCarthy, anunciarem que tinham chegado a um princípio de acordo e de a secretária do Tesouro, Janet Yellen, ter anunciado que a data X seria um pouco mais tarde do que se pensava, a 5 de junho.

Tal como explica Lizzy Galbraith, economista política na abrdn, o acordo alcançado entre McCarthy e Biden endurecerá os requisitos de emprego para os programas de ajuda alimentar e introduzirá limites de despesa durante dois anos. Para o ano fiscal de 2024, a despesa discricionária não destinada à defesa permanecerá praticamente estável, enquanto a despesa em defesa irá aumentar 3,5% em relação aos níveis de 2023. 

“É pouco provável que o projeto de lei seja submetido a votação antes de quarta-feira e deve ser aprovado na Câmara antes de passar para o Senado. Um prazo ligeiramente mais longo daria ao Congresso mais tempo de o conseguir. As primeiras reações dos representantes indicam que é provável que o projeto-lei seja aprovado, mas será importante acompanhar se a oposição ao projeto cresce fora da ala direita do Partido Republicano, o que indicaria maiores dificuldades para a sua aprovação”, avisa a especialista.  

Mercados descontam o acordo

Paolo Zanghieri, economista sénior na Generali Investments, reconhece que um panorama político mais polarizado e a dependência dos republicanos de um pequeno grupo de partidários de linha dura para manter a sua magra maioria na Câmara dos Representantes aumentaram o risco de acidente em comparação com 2013 e, sobretudo, com 2011, quando as disputas custaram aos EUA uma diminuição de escalão na notação de crédito da S&P. “Os mercados financeiros estão a descontar essa possibilidade, como demonstra o aumento dos CDS a curto prazo e, sobretudo, da yield dos T-bills com vencimento no início do verão”, sublinha.

Por sua vez, Gilles Moëc assinala que “a quantidade de reduções fiscais diretamente imputáveis ao acordo será mínima e é provável que cause apenas uma pequena mossa na trajetória de crescimento dos EUA para o próximo ano”. O economista-chefe da AXA Investment Managers considera que poderia ter sido muito, muito pior, uma vez que oposição inicial partidária dos republicanos nesta negociação era muito dura.

No IRA não se toca

“O projeto de lei aprovado na Câmara de Representantes no final de abril foi concebido pelo Congressional Budget Office (CBO) para reduzir a despesa federal em 1,6% do PIB já em 2023. Isto teria, com toda a probabilidade, desencadeado uma recessão muito significativa nos Estados Unidos”, afirma. Por outro lado, o que Gilles Moëc considera muito positivo neste acordo é que “a Lei da Redução da Inflação (IRA) permaneceu fora do âmbito do debate. Aquela que é provavelmente a peça legislativa mais encorajadora nos EUA em décadas, devido ao seu potencial crescimento, é objeto de consenso”.

Por último, avisa que “uma questão crucial é que todas as discussões se estão a centrar numa fração muito pequena do orçamento norte-americano, que não consegue fazer frente aos desafios - de enormes proporções - que as finanças públicas enfrentam”. Neste sentido, Gilles Moëc sublinha que “a deriva a longo prazo das finanças públicas norte-americanas continua por resolver”. 

A Alger, sócia do grupo La Française, concorda. Na sua opinião, o acelerado ritmo de crescimento previsto para a dívida federal pode permanecer no centro das atenções muito depois deste debate sobre o teto da dívida, uma vez que o CBO estima que a dívida federal dos EUA irá aumentar para 52 biliões de dólares em 2023. “Isto corresponderia a aproximadamente 137% do PIB, um valor consideravelmente superior ao máximo de 119% atingido após a Segunda Guerra Mundial. Além disso, segundo o CBO, espera-se que os custos dos juros federais aumentem de menos de 2% do PIB em 2022 para 3,6% em 2023 e 6% em meados do século”.