Qual é o momento de mudar o perfil de investidor

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Créditos: Art Lasovsky (Unsplash)

A elevada volatilidade vista nos mercados no último ano de COVID-19 juntamente com a grande incerteza que trouxe consigo a pandemia pôs à prova os investidores. Os dados demonstram que ao contrário do sucedido noutras crises, nesta, foram mais aqueles que optaram por manter-se investidos nos piores momentos de mercado do que os que optaram por desfazer posições, inclusive se isso supusesse assumir perdas pontuais. Os primeiros fizeram bem, já que em 2020 foram mais os ativos que acabaram em positivo do que em terreno negativo.

Algo que reforça cada vez mais a ideia de que permanecer é sempre a melhor opção para um investidor de longo prazo. Os vaivéns de mercado não são por si só uma desculpa para mudar o perfil de um investidor, mas existem casos em que convém rever esse perfil.

Ian Tam, CFA e diretor de Investment Research para a Morningstar Canadá, elaborou uma lista desses momentos que podem constituir uma boa  causa para que um investidor reconsidere a estrutura da sua carteira.

Para isso identifica os dois tipos de capital com os quais conta qualquer pessoa: o capital humano, que é a capacidade de ganhar dinheiro com o tempo, e o capital financeiro, que é quantidade atual de dinheiro que se tem disponível para investir. Em linhas gerais, quanto mais altos forem ambos, melhor. No entanto, o habitual é que os jovens tenham muito capital humano e pouco financeiro e os mais velhos, justamente o contrário. “Na altura de eleger uma estratégia de investimento, a sua capacidade de risco tem muito que ver com a soma do capital financeiro e humano. Quanto mais capital tenha (humano ou financeiro), mais risco poderá assumir. Há etapas da vida nas quais o equilíbrio entre o capital humano e o financeiro mudará e, nesse momento, é possível que deseje considerar a revisão da sua estratégia de investimento”, afirma o autor.

Não há número concreto de quantas etapas vitais podem levar a uma mudança de estratégia financeira, mas Ian Tam identifica as mais frequentes e reproduzimo-las em seguida:

Perda de emprego – Quando se perde o emprego, o capital humano potencial diminui. Há que sentar-se a analisar se essa situação pode estender-se muito ou pouco no tempo. “Se se trata de uma mudança permanente, a sua capacidade para suportar o risco também diminui e, portanto, pode ter sentido uma revisão da sua estratégia de investimento para um enfoque mais conservador”, assegura.

Mudanças no círculo familiar – Não é o mesmo trabalhar para uma pessoa do que trabalhar para sustentar a si à sua família. “Se neste momento é o responsável pelo cuidado económico de um ente querido, pode acontecer que não tenha a mesma capacidade de resistir ao risco. Uma vez mais, pode valer a pena rever a sua estratégia de investimento a favor de um enfoque mais conservador”, afirma.

Oferta/herança – Se recebe uma oferta em dinheiro ou uma herança de um familiar, é o capital financeiro aquele que aumenta e isso pode justificar uma estratégia de investimento mais agressiva.

Reforma – Quando alguém se reforma, passa da fase de acumulação de capital para a fase de resgate. Trata-se de um acontecimento importante que sem dúvida requer uma revisão do enfoque de investimento que implique uma transição para investimentos mais conservadores.

No entanto, há que ter em conta que o aumento da esperança de vida alargou o tempo que passamos reformados, o que exige que essa transição não seja muito brusca. Mais, num contexto de taxas de juro 0% e inflação em subida que se acaba por repercutir muito negativamente nas rentabilidades reais dos produtos mais conservadores.