Quando o controlo do risco é a grande prioridade

Andrea Delitala
Cedida

O fundo Pictet Multi Asset Global Opportunities tem como grande objetivo o de maximizar a rentabilidade de acordo com um “orçamento de risco” disponível, e isso apenas é possível com um forte controlo da  volatilidade, permitindo investir sem grandes preocupações sobre o que está a acontecer no fundo. “Somos muito risk aware”, começou por dizer sobre este produto com selo Favorito dos Analistas e Consistente Funds People, Andrea Delitala, numa recente apresentação em Lisboa.  

Para o head of euro multi asset portfolios e gestor do fundo, existem várias vantagens que tornam o produto especial. Se o grande expertise da Pictet AM na área temática tem muita influência na forma como gerem a uma parte da estratégia de ações, há que falar daquela que é provavelmente a caraterística mais importante do portefólio: o controlo da volatilidade. “Trabalhamos à volta de um orçamento de risco que ronda os 5%, que conta com um limite máximo de volatilidade ex ante de 8%. O movimento de risco deste produto pode ser pensado como sendo na mesma zona de risco das obrigações europeias entre 5 e 7 anos”, inferiu.

A primeira decisão de alocação no fundo é precisamente aquela que se refere à alocação do risco. O profissional explica que precisam de ter “uma medição muito precisa das valuations de mercado, especificamente no que toca aos factores determinantes que estão a afectar os mesmos”.

volatility budget

Escudados por uma espécie de muro “de controlo de volatilidade” – como é visível no gráfico acima - o profissional entende que de forma a satisfazer a promessa feita aos investidores, “têm de monitorizar ex ante a volatilidade”. Assim, quando estão particularmente otimistas tendem a mover-se ligeiramente acima dos 5% de volatilidade, enquanto que quando estão mais cautelosos, e mais conscienciosos do risco, tendem a estar abaixo desse target. “Contudo, em circunstâncias normais nunca excedemos o limite dos 8%”, assegura o profissional.

Desafiando o consenso de mercado, na entidade tentam encontrar as classes de ativos cujo valor não esteja completamente refletido pelo mercado. O segundo passo no processo de investimento do produto é precisamente a alocação de ativos. Andrea Delitala conta com um amplio universo de classes e estratégias de investimento à sua disposição, dada a flexibilidade do fundo, que em média,  apresenta uma alocação de cerca de 30% a ações e aproximadamente 70% distribuído por  obrigações, estratégias alternativas, commodities e liquidez.

Mudanças recentes

Cientes de que “a criação de liquidez já não está nos níveis de outrora” – com a política monetária preconizada pelos Bancos Centrais a mudar – o especialista assinala algumas das mudanças mais recentes. “No portefólio tivemos de diminuir a duração. Fizemo-lo antes da eleição de Trump, mas na verdade esse movimento começou ainda antes, como resultado de uma ampla visão de mercado, nomeadamente em março, quando detetámos que o BoJ (Bank of Japan) em julho e o BCE em março, tinham alterado algo na sua visão de política monetária”, recordou.

Ainda no rol de mudanças mais recentes, apontou aquele que foi um dos movimentos mais importantes durante o ano passado, em termos macroeconómicos: “Foi importante declararmos para nós mesmos que a repressão financeira tinha terminado. Estávamos conscientes de que nos moveríamos de um regime para outro. Isso permitiu-nos não sofrer - como aconteceu com muitas estratégias defensivas – com a má performance das obrigações”, indica. Atualmente sobreponderam ações europeias e subponderam ações norte-americanas, enquanto que no campo do fixed income estão com uma duração curta em obrigações, cerca de 1.8.

O terceiro passo de construção do portefólio passa pela seleção dos ativos. Neste caso o gestor, deu o exemplo de uma parte da componente de açoes  que é investida com uma abordagem temática, tão característico da Pictet. “Tentar tirar o máximo de ideias que estão por detrás das megatendências é o que fazemos a este nível, mas sempre tendo em conta a pergunta: conseguimos daqui extrair algum alfa?”, refere. Muito do trabalho, a este nível, passa por decompor os vários temas, sectores e regiões, para que depois possam executar uma análise que tem por base as métricas mais comuns, como as valorizações ou o earning momentum. Deste brain storming sai um ranking de temas, que permite adicionar valor à estratégia, chegando a uma espécie de “alfa temático”.

Por fim, e também crucial, é o passo da construção do portefólio e da sua otimização. Nesta fase, faz-se uma avaliação final do risco analisando a correlação da carteira. Vários episódios de mercado podem servir de exemplo sobre a necessidade de proteção de um portefólio, e Andrea Delitala lembrou por exemplo um dos últimos que envolveu o BCE. “Mario Draghi ficou aquém das expetativas de mercado em setembro passado, quando apareceu a garantir a continuação do quantitative easing. Se bem se lembram, ele falhou na decisão de quanto é que iria comprar em obrigações depois de dezembro. As obrigações, obviamente, sofreram com isso, mas também as ações, via contágio”, recorda.

Para o responsável, este tipo de episódios em que os Bancos Centrais começam a sua retirada de estímulos, “serão uma das grandes preocupações para os gestores de ativos”. Apelida-os de “correlation shocks”, e recorda que a ‘mãe’ de todos eles foi o chamado taper tantrum.

Consciente destas nuances, fala da necessidade de se criarem “vias secundárias de construção dos portefólios, em que as correlações têm um papel central”. Enfatiza que por exemplo a duração “já não é uma boa forma de hedge na carteira e, portanto, há que procurar alternativas, dando o exemplo da volatilidade como hedge para as carteiras, sempre ponderando o seu custo”. Em suma, o especialista fala de um “portefólio robusto”, no qual não embarcam em “apostas fortes, só porque acreditam que determinado evento poderá ter lugar”.

Andrea Delitala terminou salientando a consistência da sua abordagem, dizendo que eventualmente poderão perder os investidores mais agressivos, mas que continuarão sempre a ser fiéis aos princípios e directrizes mais conservadores, que representam o perfil da grande maioria dos investidores desta estratégia.