Quanto cairão os mercados se Janet Yellen subir as taxas em junho?

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As atas da reunião de abril do Comité Federal do Mercado Aberto deixaram claro que a Reserva Federal dos Estados Unidos deseja aumentar as taxas de juro de referência seja na reunião de junho, seja na de julho, caso estejam reunidas as condições necessárias. A maioria dos membros do Comité disseram que seria apropriado elevar as taxas em junho, se a economia norte-americana continuar a melhorar. E, por agora, o crescimento norte-americano do segundo trimestre parece fortalecer-se, recordam da MFS Investment Management. “Embora o relatório do desemprego norte-americano do mês de abril, publicado há duas semansa, tenha sido ligeiramente mais débil do que o projetado, vários dados recentes assinalam um aumento tanto na atividade económica como na inflação”, dizem da entidade. Os especialistas da gestora colocam em cima da mesa os últimos indicadores conhecidos.

A produção industrial dos EUA aumentou uns sólidos 0,7% em abril, impulsionada pela produção dos serviços públicos, enquanto que o índice de preços no consumidor avançou aproximadamente 0,4%, a maior leitura mensal em mais de três anos. A construção de novas casas aumentou a um ritmo mais rápido do que esperado em abril, cerca de 6,6%, enquanto que as licenças de construção cresceram cerca de 3,6% face ao mês anterior. “Os dados mais recentes estão de acordo com a retórica de linha mais dura por parte da Reserva Federal”, asseguram da MFS IM. Isto faz com que as probabilidades de que o mercado protagonize um movimento de subida tenham aumentado. Segundo o CME Group FedWatch, a probabilidade que os participantes atribuem a um próximo aumento de taxas de juro pela Fed é de 26% em junho e de 53% em julho. Há poucos dias a percentagem em ambos os casos estava abaixo dos 10%.

São alguns os economistas que acreditam que fazer tal movimento seria um erro. Entre eles está Steen Jakobsen, economista chefe do SaxoBank. “A Fed deu oportunidade de subir as taxas na sua reunião de junho, mas estou muito céptico acerca das propostas, visto que o banco central está a interpretar a recente melhoria dos dados económicos americanos como um aumento no momentum global. A economia ainda está a funcionar muito abaixo do seu potencial, pelo que se Yellen elevar as taxas, finalmente terá que voltar a baixá-las numa data posterior. Continuo a achar que a Fed vai cometer um erro ao ter em conta dados de reversão à media como um percursor para a mudança líquida no momentum em geral, enquanto que o que realmente está a suceder é que a economia norte-americana está a melhorar desde o crescimento da recuperação (e a produtividade) para uma menor velocidade de escape. A inclinação da Fed para um bias mais hawkish durará muito pouco”.

Jakobsen considera que a debilidade da Fed continua a ser o jogo em geral, mas acredita que há risco de que se desespere com a contínua normalização da sua política, fazendo de junho a data provável para um aumento das taxas. Produzindo-se este cenário, o economista não tem nenhuma dúvida de quais seriam as consequências. O especialista estimou qual seria a recessão dos mercados inclusive qual seria a resposta da autoridade monetária ao comportamento dos investidores. “Subindo as taxas em junho, o mercado cairá rapidamente dentre 10% e cerca de 15%, e voltaria a estabelecer-se um tom dovish. O resultado seria que Janet Yellen teria que voltar a baixar as taxas de juro nas reuniões seguintes”, assegura.

Outros como, Suzanne Hutchins, da equipa de Real Return da Newton (boutique da BNY Mellon IM) – pensa que as taxas de juro poderão subir em junho, embora os indicadores em que a Fed se está a fixar sejam errados. “Acreditamos que a autoridade monetária está a focar-se em indicadores ‘defeituosos’, como o emprego e a inflação. Ambos os factores estão distorcidos e não dão sinais de que se possa confiar neles. Relativamente ao emprego, muita gente abandonou o seu posto e trabalho e tem estado no desemprego desde há muitos anos, pelo que não se pode considerar emprego. De igual modo, muita gente está em níveis de salário mínimo, pelo que se vêm obrigados a ter vários empregos. Estas circunstâncias não estão refletidas nestes dados”, afirma a especialista. Relativamente à inflação, Hutchins entende que a inflação a longo prazo é muito moderada. Acredita que embora possa haver um breve aumento da inflação no final do ciclo, não vai ser prolongada.