Quatro gráficos para entender o que aconteceu em 2019

7059502427_0fde0fbdc6_b
rchew911, Flickr, Creative Commons

Com a radical mudança de hábitos, pareceria que o mercado de há 12 meses não tem nada a ver com o que temos hoje. Os investidores passaram do pessimismo ao otimismo com as primeiras badaladas de 2019. Assim, foto final deixa poucos num mau lugar. Todas as grandes classes de ativos ultrapassaram a inflação, o que dá uma imagem de que o exercício foi uma viagem fácil, com apenas disrupção na economia ou política.

M_G1Com esta imagem final entende-se que o consenso atual aponte para que seja a altura de voltar a comprar risco. Mas está realmente está desobstruído? Nicolo Carpaneda, diretor de investimentos da área de obrigações da M&G, prefere posicionar-se um pouco no lado oposto. Como refere, para ver um ano tão bom como este é preciso remontar a 2010. Quando no ano anterior os mercados vaticinavam uma recessão. Um ponto que preocupa o experto de cara a construir as carteiras para o ano que vem se entende com o gráfico seguinte:

M_G2

 

As correlações das obrigações e ações aumentaram. Tiveram bons resultados tanto as ações norte-americanas e europeias como as obrigações. “Parte do mercado está a dizer que há crescimento. A outra parte vê recessão”, explica. Por isso terá de ter cuidado ao fazer apostas muito grandes. Ou comprar muito risco ou muita proteção em ambos os campos já que se vão comportar a par, o que amplificará para o bem e para o mal.

“O medo de estar fora do mercado poderá a pior armadilha face ao ano que vem”, sentencia Carpaneda. O rendimento tão bom pode dar uma falsa sensação de se ter eliminado o risco todo. Mas o especialista insiste em entender o que há por detrás do rally generalizado. E resume-se a duas chaves:

1. O apoio massivo dos bancos centrais

Isto reflete-se claramente no gráfico seguinte. Nos últimos 12 meses os bancos centrais voltaram a instaurar um contexto acomodatício. Propuseram estímulos monetários quase como se estivéssemos em época de crise. Isso levou a que um quarto da dívida de governo ofereça taxas negativas. “O problema é que 2018 foi uma mostra do que se passa quando se retira o apoio”, recorda.

M_G3

2. O salto dos PMI

Este é um impacto mais recente. Os PMI da indústria foi o foco da preocupação ao longo deste ano, sobretudo se a sua debilidade se estender ao setor dos serviços. Desde outubro deu sinais de que tocou no fundo, pelo que os mercados veem o caminho mais desobstruído. Mas Carpaneda convida a fazer uma análise mais profunda. Como se pode ver no gráfico seguinte, os novos pedidos nos PMI da indústria desceram a nível global, mas nos Estados Unidos a queda do momentum foi mais forte e ainda se prolonga.

M_G4o