Que comportamento esperar do mercado italiano de ações e obrigações

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Créditos: Michele Bitetto (Unsplash)

O resultado das eleições italianas já é claro. A coligação de direita ganhou por uma margem confortável e irá assegurar cerca de 55% dos lugares em ambas as câmaras do parlamento. As análises iniciais das gestoras internacionais não exprimem receio de que o próximo governo, que será muito provavelmente liderado por Giorgia Meloni, se desvie da rota de Bruxelas. “O novo governo cumprirá as regras e irá cingir-se em grande medida ao caminho das reformas e da disciplina fiscal, dado que existem fortes incentivos para isso”, afirma Silvia Dall’Angelo, economista sénior da Federated Hermes.

“Embora algumas das principais figuras políticas tenham mudado, sendo substituídas por pessoas menos conhecidas, não devemos automaticamente assumir alterações gerais na política italiana”, concorda a Invesco. “O acesso ao Fundo de Recuperação da UE depende do cumprimento de regras e reformas fiscais incluídas no acordo. Isto, acima de tudo, é fundamental e reduz drasticamente o risco de que o novo governo implemente medidas inapropriadas”, sublinha a Henley.

Mas… que impacto pode ter o resultado das eleições nos mercados italianos de obrigações e ações? Sergio Bertoncini, estratega sénior de Análise de Obrigações do Amundi Institute; Elena Ferrarese, diretora de Ações Italianas; Cosimo Marasciulo, diretor-adjunto de Obrigações Euro e diretor global de Obrigações de Retorno Absoluto; e Annalisa Usardi, estratega sénior de Cross Asset Research do Amundi Institute, analisaram este aspeto.

Mercado de dívida italiano

Segundo explicam, o desempenho melhor do que o esperado da economia italiana no primeiro semestre de 2022 contribuiu para um contexto favorável às tendências fiscais, apoiando os fatores técnicos.

“Do lado da procura, os dados do BCE sobre a dívida soberana no final de julho mostraram o empenho do banco central em combater a fragmentação. Como tal, o papel do BCE demonstrou ser relevante até agora em 2022. A posição estrangeira é baixa de acordo com padrões históricos. Ao mesmo tempo, os fluxos estrangeiros marginais parecem ser um catalisador menos determinante para os spreads do que em fases anteriores de crescente volatilidade e incerteza, graças ao papel do BCE e ao elevado investimento dos investidores”.

Na sua opinião, estes fatores, juntamente com o Instrumento de Proteção de Transmissão (TPI), deveriam ajudar a contrariar a postura agressiva do BCE. “O spread BTP-Bund demonstrou ser bastante estável no período anterior às eleições. Acreditamos que os riscos idiossincráticos permanecerão contidos e que o spread será impulsionado pela confiança dos investidores nas perspetivas económicas da zona euro. Os investidores podem considerar aumentar a sua exposição aos BTP se o spread voltar à zona dos 250 pontos base”, afirmam. 

Mercado italiano de ações

De acordo com os especialistas, após as eleições gerais, o mercado de ações italiano deve passar por um alívio a curto prazo, com o setor financeiro a recuperar. “Desde do ponto de vista da valorização, a bolsa italiana está relativamente barata. Para assistirmos a uma recuperação estrutural, precisamos de mais clareza sobre as nomeações governamentais, sobre a aprovação definitiva da Lei Orçamental de 2023 e sobre as possíveis mudanças no plano dos fundos Next Generation da União Europeia que o novo governo pode negociar com a UE. Por isso, a incerteza em torno das perspetivas das ações italianas continua a ser elevada”.

Na empresa focam-se em empresas que têm visibilidade sobre o crescimento com alguma proteção contra a forte inflação e que mantêm uma exposição equilibrada aos setores. “Se a coligação de centro-direita cumprir as suas promessas de campanha, poderemos ver um certo apoio fiscal às empresas italianas, o que pode dar lugar a alguns efeitos positivos para o segmento de pequena e média capitalização da Itália”, concluem.