Num pequeno-almoço promovido pela AXA IM, um dos temas abordados foi o possível impacto das novas tendências tecnológicas na gestão de ativos. As opiniões não variaram muito: todos acreditam que a indústria pode beneficiar muito destas tecnologias.
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A tecnologia, e mais especificamente a Inteligência Artificial, têm ganho cada vez mais protagonismo. Com o surgimento de ferramentas como o ChatGPT, começa-se a observar os efeitos que podem ter no mundo. Num pequeno-almoço promovido pela AXA IM, o possível impacto das novas tendências tecnológicas na gestão de ativos também foi tema.
Algumas entidades já fazem uso destas novas tecnologias. Francisco Falcão, diretor de Investimentos da Hawkclaw Capital Advisors, por exemplo, usa ferramentas que ajudam a resumir toda a informação. “No mundo das obrigações, seguimos cerca de 60 a 80 empresas e precisamos de acompanhar os seus resultados e o desenvolvimento do negócio. É, por isso, bastante útil, uma vez que não dispomos de uma equipa muito grande”, afirma.
Os benefícios de utilizar Inteligência Artificial
O profissional acredita que tudo o que é repetitivo será completamente substituído pela Inteligência Artificial (IA) e Ruben Tiago Silva, fund selector da BPI Gestão de Ativos, concorda: “No caso de um grande banco, isso é particularmente evidente em funções de backoffice. No futuro, algumas dessas tarefas serão substituídas, com as pessoas que atualmente as realizam a terem de passar por um processo de upskilling e/ou reskilling”. Mas não é apenas aqui que estas novas tendências tecnológicas se podem fazer sentir. Ainda relacionado na configuração do negócio bancário, Ruben Tiago Silva afirma que a “blockchain também terá um grande impacto”.
A IA também pode ajudar em termos de comunicação atempada e de maximização da interação com o cliente. Assim o afirma Geoffroy Citerne, especialista de Investimentos sénior da AXA IM. “Temos muitos clientes em várias partes do mundo, e o que podemos ver agora é que estes clientes querem a informação no dia seguinte ou até no próprio dia”. No entanto, explica o profissional, isto nem sempre é possível, uma vez que as equipas são de reduzida dimensão. “Mantemos a relação, mas também a podemos melhorar utilizando algum tipo de IA”, acrescenta.
Assim, todos os presentes concordaram que a IA vai facilitar muitas tarefas, desde a elaboração de relatórios, ao contacto com os clientes até à organização do trabalho. “É um passo em frente que nos vai ajudar muito”, afirmou ainda Juan Carlos Domínguez, responsável de Advisory da AXA IM. Vai, entre outras coisas, ajudar a poupar dinheiro neste setor “excessivamente regulamentado”.
Do lado dos investidores de retalho, Vítor Ribeiro, fundador da FutureProof, acredita que estes “beneficiarão muito com a IA na gestão do seu património”, possibilitando custos mais baixos de gestão e mais informação. Esta última questão, assinala, é muito importante, uma vez que os investidores de retalho muitas vezes não têm uma noção holística da sua situação financeira a cada momento. “Avaliam a carteira, se estão a ganhar ou a perder retorno, se são calculados com ou sem comissões… qualquer informação é importante”, afirma.
No entanto, não é só de novas tendências que este tema é feito. Os algoritmos e outras ferramentas de screening já existem há muito tempo e, segundo Francisco Falcão, têm “coisas boas e coisas más”. Segundo conta, o algoritmo baseia-se sempre em dados anteriores e tem embebido o comportamento humano na sua criação. “Essa é a questão do desenvolvimento do processo e do risco de ajuste de curvas”, afirma o profissional. É como desenvolver um algoritmo para se ajustar a um determinado período. “Quando acontecem eventos como a pandemia, não se pode confiar cegamente no sinal de algoritmos, uma vez que são situações de mercado completamente anormais”, acrescenta ainda Ruben Tiago Silva. Como tal, Geoffroy Citerne salienta também a importância “de monitorizar e regulamentar estes avanços”.
Há coisas que a tecnologia não substitui
Mas há coisas que a IA não poderá substituir: os investidores irão precisar de alguém com quem falar. “É aí que penso que a presença humana é importante”, esclarece Vítor Ribeiro, acrescentando que “a história nunca se repete, mas o comportamento humano sim. É importante porque estamos sempre a tentar encontrar alguém que nos diga o que queremos ouvir”.
Para Rina Guerra, gestora de ações do Banco Carregosa, a tecnologia não pode substituir a avaliação subjetiva da empresa. “Pode, isso sim, dar-me muitas ferramentas para que eu possa chegar a uma conclusão”, diz. Desta forma, não nega a ajuda que podem proporcionar, especialmente em termos de research. “Mas acho que a parte humana do meu trabalho também é muito importante para os clientes e, neste caso, para eu escolher uma empresa ou não”, acrescenta. Enquanto investidora em ações quality, pensa que será um “pouco mais difícil as máquinas substituírem totalmente a tarefa”. Acredita também que estas tecnologias funcionam melhor com modelos quantitativos. “Só vejo coisas boas e não coisas más”, revela a gestora.
E, além disso, há sempre um lado mau de qualquer evolução. Para Ruben Tiago Silva, as pessoas poderão ser as principais afetadas. "Com o aumento exponencial na capacidade de filtragem de informação através do recurso a ferramentas de inteligência artificial, com produção automática de relatórios/resumos para o gestor de carteiras, a empresa, provavelmente, irá necessitar de menos funcionários. Neste aspeto, poderá existir uma grande diferenciação entre empresas. Dependerá do grau de evolução de cada uma e da sua capacidade de realocar essas pessoas para as novas funções que serão criadas". O profissional reconhece, contudo, que “é natural que numa revolução estrutural, o desemprego aumente durante as primeiras fases de adaptação à nova realidade”.
Mas Juan Carlos Domínguez contrapõe esta ideia. “Quando estudava, lembro-me de um professor dizer que podíamos ter uma fábrica totalmente automatizada, mas que iríamos precisar sempre de alguém para a supervisionar”. E não é só a supervisão que depende dos humanos, mas também a manutenção. Desta forma, para Francisco Falcão a questão mais importante está mesmo no reskilling: “Precisamos sempre de alguém que se encarregue da manutenção do software, de todas as capacidades”, afirma.