Que potencial de crescimento resta ao petróleo?

refineri_CC_81a_petro_CC_81leo
Globovisión, Flickr Creative Commons

Tal como antecipavam os mercados, a segunda e última reunião do ano da OPEP – com Viena como pano de fundo – terminou com uma extensão do corte na produção até finais de 2018, tanto pelos países que integram o grupo como os seus aliados, incluindo a Rússia. Numa análise prévia, as empresas antecipavam reações negativas perante qualquer cenário que não contemplasse uma extensão. Portanto, o que devem esperar os investidores daqui para a frente?

Sophie Chardon, especialista da Lombard Odier, destaca a pequena margem de surpresa que surgiu desta reunião: a Nigéria e a Líbia, previamente isentos do acordo, também concordaram em limitar a sua própria produção ao seu nível de 2017. Chardon afirma que esta reunião “enviou outro sinal positivo ao mercado do petróleo” e destaca que a comunicação empregue “foi crucial e teve sucesso”, o que garantiu a estabilidade da preço do Brent (de referência na Europa) e do WTI (de referência dos Estados Unidos) nos dias posteriores a esta reunião.

“Acreditamos que esta reunião é a confirmação de que a diplomacia petrolífera e o racional económico prevalecem apesar das recentes tensões geopolíticas”, continua a especialista. Recorda que a Arábia Saudita, Rússia, Emirados Árabes Unidos e Kuwait são os principais contribuintes para os cortes e necessitam de garantir a estabilidade do preço, dada a sua alta dependência económica da evolução do ouro negro. O prognóstico da especialista é que, a médio prazo, “os fatores técnicos e fundamentais que sustentam o mercado de petróleo provavelmente continuarão a ser favoráveis”, ainda que refira que agora a tendência de subida “é limitada”.

Assim, o alcance que esperam obter na Lombard Odier situa-se entre os 50 e os 65 dólares por barril para 2018, com uma média de 57 dólares por barril no preço Brent. “Acreditamos que a OPEP está obrigada a permanecer num modo de gestão de mercado no futuro imediato, o que é uma boa notícia, já que agora entramos num período de preços sazonalmente mais débeis”, acrescenta Chardon.

Quanto à produção de óleo de xisto, a especialista acredita que o ambiente atual de preços poderá prolongar-se sempre que os produtores norte-americanos “continuem a poder aumentar significativamente o seu gasto de capital”. Não obstante, adverte que, se o WTI conseguir manter-se acima dos 55 dólares, então “existe um risco significativo de que estes produtores possam usar as maiores quantidades de fluxo de caixa para acelerar a atividade de perfuração e finalização, alimentando mais a volatilidade do mercado”.

Cuidado com o posicionamento do mercado

Nicolas Robin, gestor de carteiras de matérias-primas na Columbia Threadneedle Investments, acredita que “um maior grau de visibilidade sobre os cortes na produção, combinada com um bom crescimento da procura de petróleo e uma produção de petróleo mais lenta do que o antecipado, asseguram que o objetivo de reduzir os inventários globais de petróleo está a progredir adequadamente”. Segundo Robin, a combinação afortunada destas tendências é o que explica que a firme recuperação dos preços do petróleo nos últimos dois anos: é importante recordar que, em 2015, alcançaram-se níveis de choque a bater mínimos históricos de 30 dólares por barril.

Apesar das boas perspetivas, nem tudo é cor de rosa. O gestor denuncia que “o posicionamento do mercado é extremamente longo e as posições longas especulativas estão a superar os níveis vistos durante o primeiro trimestre”. Em linha com o que foi exposto pela especialista da Lombard Odier, a melhoria dos preços “permitiu aos produtores de petróleo de xisto fazer coberturas e incrementar a extração”. Em contrapartida, o especialista mostra a sua preocupação em relação ao impacto das reformas impulsionadas na Arábia Saudita pelo princípe herdeiro, Mohammed Bin Salman, afirmando que “fizeram com que o Médio Oriente seja menos estável do que foi durante muito tempo, o que poderá ter impacto sobre a produção”.

Como resultado desta visão de mercado, a gestora optou por continuar a ser construtiva com o petróleo a médio prazo, ainda que esclareça que atualmente subponderam os valores do setor da energia, por considerar que “as margens de refinação atualmente são muito altas e estão destinadas a comprimir-se”.

“O Rally do petróleo dos últimos meses deu um empurrão de confiança à OPEP, mas a organização está longe de controlar o preço do petróleo”, comenta Norbert Rücker, responsável de análise macro e matérias-primas da Julius Baer. O especialista recorda que os dois aliados inesperados do grupo foram uma boa notícia para os mercados financeiros desde o verão e a materialização da tão desejada expansão global sincronizada: “O sólido momento económico alimenta o uso do petróleo e a procura crescente foi o fator que guiou o ajuste na oferta de petróleo”, afirma. Rücker partilha os receios do gestor da Columbia Threadneedle sobre o posicionamento do mercado, pois comenta que “a construção de significativas posições longas sobre futuros do petróleo feitas por hedge funds expandiram o rally e movimentaram a curva de futuros do petróleo até uma situação de backwardation”.

A previsão de Rücker é que, daqui em diante, se relance o ajuste do equilíbrio entre oferta e procura no mercado global de petróleo e que “se reverta parcialmente”. São duas as razões em que se apoia: “Por um lado, o crescimento da procura do petróleo deverá desacelerar no mundo ocidental, onde o ciclo de negócio está muito avançado. Por outro lado, deverá acelerar a produção de petróleo”.

Neste sentido, o especialista fixa-se no facto de, nos Estados Unidos, os investidores em petróleo de xisto estarem cada vez mais a exigir lucros mais sustentáveis em vez de crescimento, “mas com o petróleo acima dos 55 dólares por barril, as empresas de xisto provavelmente geram ambos”. A isto junta-se o facto de se ter incrementado o número de “poços abertos” e o consequente avanço da atividade de perfuração, razão para que Julius Baer perfira ter uma postura cautelosa, ao ver mais potencial de queda do que de subida. “A procura por lucros continuam a ser um risco-chave a vigiar”, conclui Rücker.