Questões-chave da reunião em Jackson Hole

Jerome Powell
Jerome Powell. Créditos: Cedida (Fed)

O Simpósio anual de Política Económica teve início esta quinta-feira em Jackson Hole, Wyoming, Estados Unidos, organizado pelo Banco da Reserva Federal de Kansas City. O evento reúne, durante três dias, bancos centrais, ministros das finanças, profissionais do mundo académico e participantes nos mercados financeiros de todo o mundo, mas desde a crise de 2007 que se tornou numa reunião fundamental da Reserva Federal com os mercados. Este ano não será uma exceção.

A mudança no discurso de Jerome Powell de há apenas três anos é um mero reflexo de como a política monetária deu uma reviravolta em pouco tempo. No verão de 2020, o presidente da Reserva Federal previu uma longa vida às taxas baixas. No entanto, no seu discurso de sexta-feria, os especialistas esperam que adote um tom restritivo, para uma batalha contra a inflação que ainda não foi ganha. 

"Chegar aos 3% foi bastante simples. Mas o empurrão final para os 2% pode exigir algumas concessões significativas - como uma possível recessão para que a inflação desça para o objetivo", afirma Jack Janasiewicz, gestor e estratega de Solutions, o departamento de análise de carteiras da Natixis IM. Não esquecer que a Fed tem um duplo mandato: pleno emprego e preços estáveis. Até que ponto estará a Reserva Federal disposta a empurrar a economia para uma recessão para atingir esse objetivo?, pergunta JackJanasiewicz.

O lema de 2023: mudanças estruturais na economia mundial

O tema da reunião deste ano é mudanças estruturais na economia mundial. Para James McCann, economista-chefe adjunto da abrdn, isto poderá abrir a porta a um debate sobre até que ponto as taxas de juro neutras poderão ter subido na sequência da pandemia. Como bem comenta, Jerome Powell tem-se mostrado consistentemente cético quanto à utilização de estimativas incertas das taxas de juro neutras para calibrar a política. "Na verdade, pode usar isso como uma oportunidade para reiterar o benefício de deixar o fluxo de dados dizer à Fed quão restritiva a política se está a tornar", interpreta James McCann.

Na opinião de Mondher Bettaieb-Loriot, responsável de Dívida Corporativa na Vontobel, podemos estar a caminhar para uma configuração restritiva durante mais tempo, com o banco central a implementar cortes de taxas a partir de 2024, à medida que a inflação continua a desacelerar e até que a economia regresse a uma inflação subjacente de 2%. "Quando esse nível for atingido, poderão considerar a possibilidade de voltar a colocar as taxas reais num nível neutro, como indicado por Williams, presidente da Fed de Nova Iorque", comenta Mondher Bettaieb-Loriot.

Não esperem uma decisão antes da reunião de setembro

Como comenta John Plassard, da Mirabaud, o simpósio de Jackson Hole deste ano chega no momento certo. No meio da confusão sobre as metas da Fed e do BCE, os bancos centrais devem dar respostas aos investidores algumas semanas antes das suas próximas reuniões, vistas como cruciais. “A questão é, claro, se a Fed está perto de uma pausa nos seus aumentos de taxas de juros, ou se há novas subidas nos planos”.

Mas as gestoras internacionais concordam que é improvável que o discurso de Powell nos deixe pistas sobre a decisão que vão tomar na reunião do FOMC em setembro. Entre esta quinta-feira e o dia do encontro serão conhecidos os dados de emprego e um novo IPC, dois números que podem virar a decisão da Fed para qualquer direção.

O que John Plassard acha que Powell terá de responder é: a América está a caminho de uma recessão? Powell disse na semana passada que o banco central não estava a tentar desencadear uma recessão ao aumentar as taxas de juros e que não acreditava que tivesse de o fazer enquanto luta para controlar a inflação, que está no seu nível mais alto em décadas. “Alguns economistas, incluindo o ex-secretário do Tesouro Larry Summers, acreditam que Powell está excessivamente otimista sobre a capacidade da Fed de controlar os preços sem aumentar o desemprego e desencadear uma recessão”, disse o especialista da Mirabaud.