Rachel Golder (Goldman Sachs AM): "Os retornos do high yield serão mais baixos que os observados em 2016, mas serão positivos"

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“Enquanto continuamos a acreditar que estamos na parte final do ciclo de crédito, este tem sido um ciclo invulgarmente comprido, que ainda não está a mostrar sinais de sobreaquecimento”, afirma Rachel Golder, gestora do GS Global High Yield (classificado como Blockbuster Funds People). “Os mais recentes avanços fazem-nos sentir otimistas em relação à possibilidade de termos, ainda, um período de dados económicos e corporativos saudáveis”, acrescentou a gestora da Goldman Sachs AM.

Ainda que Golder admita que “a eleição de Trump seja grande parte desta estimativa”, clarifica que se se sentem otimistas, é “pelas condições anteriores à eleição”. A saber: a melhoria do mercado laboral, melhoria da inflação, dados marco procedentes dos PMI positivos, aumento da confiança do consumidor, os resultados das estatísticas da Reserva Federal norte-americana relativamente aos níveis de concessão de crédito… Golder acrescenta a tudo isto “a melhoria da saúde corporativa, à medida que é diluída a recessão das matérias primas”, o que permite prever “taxas de incumprimento baixas a partir de agora e o crescimento da receita e do lucro corporativo”.

Relativamente às promessas de Trump, Golder destaca a possibilidade de uma redução dos impostos, o compromisso para investir em infraestruturas e a possível desregulação e amnistia fiscal para a repatriação do dinheiro no estrangeiro, como “positivas para a economia dos Estados Unidos e para a saúde dos mercados de capitais”. Considera que “o mais provável é que tenham um impacto real a partir de 2018, porque o processo legislativo para implementar este tipo de iniciativas requer algum tempo”. Em todo o caso, a gestora indica que “o potencial momento económico, induzido por reformas políticas em 2018, torna-nos relativamente construtivos em relação ao investimento em ativos de risco norte-americanos em 2017”. É por isso que se declaram como “modestamente positivos” em high yield para este ano.

No entanto, Golder alerta para a existência de “razões para manter a cautela”, ao que acrescenta: “Os mercados não estão a assumir um prémio particularmente alto pela volatilidade e incerteza, e poderão ser vulneráveis a qualquer alteração do atual sentimento otimista”. Aponta como exemplo deste otimismo, que se aproximava da euforia, o fato de que o VIX atingiu mínimos record, este ano.

Para Golder, a maior fonte de potencial volatilidade que pode alterar este mercado otimista será “a reação às iniciativas políticas de Trump, particularmente aquelas relacionadas com o comércio e com as relações internacionais”. Também lhe preocupa que a Fed execute uma repentina subida de taxas, ainda que neste caso demonstre a sua confiança em que “a Fed, comandada por Yellen, continuará a aplicar subidas graduais, dependentes dos dados”.

A especialista não está alheada das tensões internacionais, que poderão contagiar o mercado norte-americano para um sentimento risk-off. Refere-se às eleições gerais previstas na Europa, mas atribui maior relevância à escalada de endividamento da China: “Estamos preocupados que as atuais políticas da China, que apoiam o crescimento à custa do balanço corporativo e governamental, sejam insustentáveis a longo prazo”.

Posicionamento do fundo

Golder continua a procurar títulos que ofereçam uma rentabilidade superior à média ou que sejam catalisadores para uma apreciação de capital. Contudo, recentemente reduziu alguma da exposição a longo prazo de títulos de maior duration “que possam ser mais suscetíveis a subidas de taxas”. Por setores, afirma que continua com uma opinião positiva no setor das telecomunicações, “onde o crescimento do consumo está a beneficiar negócios como o wi-fi ou a televisão por cabo”; acredita, também, que se o quadro regulatório for flexibilizado poderá “apoiar a atividade de fusões e aquisições”.

A gestora afirma que está, neste momento, mais positiva nos segmentos da energia, mineiro e de metais industriais que no passado, em grande parte, graças à solidez da procura global e da decisão da OPEP em dezembro do ano passado, de baixar os níveis de produção. Não obstante, admite que “em muitos casos parece que as valorizações esgotaram o seu potencial”. Pelo contrário, reduziu a exposição no setor da saúde, devido à possibilidade de que Trump consiga a completa revogação do Obamacare e de que o governo norte-americano decida controlar o preço dos fármacos.

A gestora está à espera que a dispersão, à medida que o ciclo se estende, entre os diferentes nomes do universo de high yield aumente, pelo que outra das decisões que tomou foi a de rever, de novo, as coberturas dos nomes que estão atualmente no portefólio para “minimizar a nossa exposição a possíveis taxas de incumprimento futuras, ao mesmo tempo que procuramos identificar títulos com momentum positivo”. A exposição geral ao risco é relativamente neutral em relação ao índice de referência. A intenção de Golder é gerar um rendimento superior ao índice “através da seleção de valores e algum do posicionamento em setores já expostos”.

De qualquer das formas, a especialista avisa que os “retornos em 2017 serão mais baixos que os observados em 2016, ainda que acreditemos que serão positivos”. A gestora acredita que “exista, em todo o caso, algum espaço de manobra para uma maior compressão dos spreads”, tendo em conta que estes estiveram ainda mais baixos (335 pontos básicos em 2014, comparados com os 410 atuais), mas clarifica que “os spreads vão terminar o ano um pouco mais altos que o seu nível atual, pelo que espero que os retornos totais se situem modestamente abaixo do cupão”.

A sua previsão para a taxa de incumprimento é de 2,5%, para este ano, 1% se excluirmos o setor energético. “A rentabilidade atual do mercado está, neste momento, abaixo dos 6%, e acreditamos que um cupão perto dos 6%, em combinação com os benefícios da seleção de títulos, irá compensar contra as pressões gerais, como as taxas de incumprimento e da subida das taxas de juro”, conclui.