Radiografia da indústria de hedge funds: as coisas estão mal

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Os hedge funds estão a ter um ano agridoce. Doce, porque as rentabilidades médias colhidas por todas as categorias continuam a ser positivas. E “agri” porque, apesar dos bons resultados obtidos e do esforço que a indústria tem feito ao longo dos últimos anos para baixar comissões, as saídas de dinheiro destes não cessam. Segundo dados da eVestment, empresa americana com um negócio orientado para prestar serviços de análise a investidores institucionais, entre janeiro e agosto deste ano os reembolsos no sector alcançaram os 63.600 milhões de dólares. É um número que se soma aos 37.200 milhões que se esfumaram no ano passado e que deixaram o património total dos hedge funds nos 3,25 biliões. O que se está a passar?

Para responder a esta pergunta é preciso analisar os números com muita atenção. Em primeiro lugar, é importante ressaltar que quase metade das saídas de dinheiro que a indústria de hedge funds está a sofrer este ano afeta principalmente as estratégias long/short equity, das quais já saíram 31.000 milhões. Estas estratégias não foram capazes de capitalizar a grande procura que existiu nos últimos tempos por produtos alternativos que ajudem a descorrelacionar carteiras e diversificar o risco. E isso deve-se, fundamentalmente, aos maus resultados obtidos em termos de rentabilidade.

“A história das saídas de long/short equity continua a ser a mesma... reduzem-se os resultados. Houve uma insatisfação por parte dos investidores com os produtos que tiveram um mau comportamento em 2018, o que se opôs a um claro entusiasmo com os produtos englobados dentro da mesma categoria que registaram bons resultados. Infelizmente, para a indústria, o último grupo não é grande e, em consequência, são poucos os gestores de long/short que estão a ter sucesso no momento de captar dinheiro este ano”, explicam na eVestment.

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Se aprofundarmos um pouco mais os dados, podemos entender a influência que a rentabilidade está a exercer sobre a evolução dos fluxos. Existe uma clara relação. Assim, por exemplo, as estratégias long/short equity com mais de 1.000 milhões de dólares em ativos sob gestão que em 2018 conseguiram gerar uma rentabilidade superior a 5%, captaram este ano quase 25.000 milhões. Pelo contrário, as que em 2018 registaram rentabilidades abaixo de 0% viram como entre janeiro e agosto saíram quase 43.000 milhões. Os que estão na faixa dos 0-5% de rentabilidade mantêm-se praticamente estáveis a nível de fluxos.

Dentro do long/short equity, a categoria de hedge funds mais popular, com um património estimado na ordem dos 760.000 milhões, o investidor aposta claramente nos gestores que obtiveram melhores resultados no ano passado. Acontece exatamente o mesmo nas estratégias global macro, a segunda tipologia de hegde funds da qual está a sair mais dinheiro este ano (-18,600 milhões). Os produtos com mais de 1.000 milhões de ativos que em 2018 ofereceram aos seus clientes um retorno superior a 5% viram este ano entradas próximas dos 6.000 milhões, enquanto os que obtiveram rentabilidades negativas sofreram reembolsos que, no conjunto, somam 22.000 milhões.

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Rentabilidades obtidas em 2019

No que respeita a resultados obtidos em conjunto, o Hedge Fund Aggregate – indicador que permite analisar a evolução da indústria – acumula este ano uma rentabilidade de 6,7%, face aos 18,3% do S&P 500 e de 11,6% de 50% MCSI World / 50% Citi WGBI. São distâncias muito importantes sobre ambos os índices, semelhantes à mesma brecha de 2017 (em 2018 os resultados andaram de mãos dadas).

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Por categorias, o ano está a ser muito positivo para todas as estratégias de hedge funds, precisamente o contrário do que no ano passado, quando apenas uma registou em média um retorno positivo, a das divisas. Além dos fundos de futuros geridos (+12,6%), são precisamente os hedge funds de long/short equity, os mais danificados este ano pelos reembolsos, os que estão a ter retornos mais elevados, com uma rentabilidade média para a categoria de 8,3%. Seguem-no os quantitativos direcionais de ações (6,8%), global macro (6,4%) e arbitragem de convertíveis (6,3%).

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Uma das dúvidas habituais dos investidores de hedge funds é se as estratégias maiores (as que contam com um volume de ativos superior aos 1.000 milhões) se comportam melhor que as pequenas ou se é precisamente ao contrário. Este ano, por exemplo, os hedge funds com menos de 250 milhões em ativos são os que estão a gerar as rentabilidades mais elevadas (7,14%). Não obstante, em 2018 os mais pequenos encaixaram perdas (-6,1%) que praticamente duplicaram as dos produtos de maior tamanho (-3,3%). De todas as formas, para tentar chegar a uma conclusão, este é um dado que convém analisar categoria por categoria.

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Por domicílio do produto, tanto os hedge funds americanos como os europeus registam saídas de dinheiro este ano, um pouco mais no caso dos últimos (32.600 milhões face aos 29.000 que perdem os domiciliados nos Estados Unidos). Esta é a radiografia atualizada sobre o que está a acontecer atualmente na indústria de hedge funds.