Reações das gestoras internacionais à vitória de Lula da Silva no Brasil

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Créditos: Rafaela Biazi (Unsplash)

Os resultados das eleições brasileiras revelaram um resultado muito próximo e um país dividido. A vitória foi finalmente para Luiz Inácio Lula da Silva, que ganhou com 50,9% dos votos, contra os 49,1% do seu rival, Jair Bolsonaro. Os principais atores, incluindo alguns aliados do atual presidente, elogiaram o processo, e os governantes de vários países-chave, entre eles os Estados Unidos, a China e vários países da América Latina, felicitaram Lula da Silva. A questão agora é se o atual presidente irá facilitar uma transição tranquila e suave.

Claudia Calich, gestora do M&G (Lux) Emerging Markets Bond Fund, espera ver uma recuperação dos mercados brasileiros no caso dos resultados não serem questionados e na ausência de grandes protestos. “Para o futuro, os próximos marcos serão o anúncio de nomeações-chave, particularmente para o Ministério da Economia. O Congresso está dividido, o que deverá abrandar e funcionar como contrapeso para várias iniciativas, incluindo o orçamento para 2023 e a discussão da regra fiscal”, destaca a gestora brasileira da M&G Investments. Xavier Hovasse, responsável pelas Ações Emergentes na Carmignac, concorda.

“Este resultado é favorável para o mercado, uma vez que deve conduzir a um prémio de risco político mais baixo dos ativos brasileiros profundamente subvalorizados. Após o resultado das eleições, a combinação de um menor risco político e de uma dinâmica macroeconómica positiva favorece uma revalorização das ações e do real, que negoceiam a baixo custo em comparação com a média histórica e mesmo em comparação com outros grandes mercados emergentes”, afirma. 

Também concorda com Calich que o Congresso, que é uma instituição poderosa no Brasil, provavelmente irá bloquear qualquer tentativa de Lula da Silva de dar um passo atrás na privatização de grandes empresas, tal como fez no passado. “A próxima questão-chave será a nomeação do ministro da Economia, que confirmará definitivamente a ortodoxia das políticas monetárias no futuro”, explica.

Na frente macroeconómica, as coisas também lhe parecem bem. “A melhoria da balança comercial, graças à subida dos preços das matérias-primas, incluindo os produtos agrícolas, onde o Brasil lidera as exportações mundiais de uma série de produtos, como o açúcar, a soja, o café e o mineral de ferro, é um bom presságio para o crescimento económico”. De acordo com Hovasse, a inflação também se move na direção correta.

“Depois de ter atingido o máximo de 12,1% em abril, a taxa da inflação do Brasil baixou para os 7,2%. Isto permitiu ao banco central interromper as subidas de taxas de juro e o mercado prevê um ciclo de cortes de taxas no futuro. Neste caso, Lula da Silva colheria os dividendos económicos de ter sido a primeira grande economia a atuar seriamente contra a inflação através de uma política monetária agressiva no ano passado”, conclui o especialista.