Reflexões de Mario Draghi no Amundi World Investment Forum 2023

Créditos: Cedida (Amundi)

A edição de 2023 do World Investment Forum da Amundi contou com um convidado de luxo: Mario Draghi. No seu discurso, o ex-presidente do BCE e ex-primeiro-ministro italiano começou por destacar os quatro desafios fundamentais que vão definir o futuro: a guerra na Ucrânia, a relação com a China, a inflação e a inteligência artificial.

Sobre a guerra, o ex-mandatário italiano considera que “não há alternativa senão ganhar a guerra e alcançar uma paz estável”. Não é uma tarefa fácil, mas ceder seria desistir da Europa. “A Europa baseia-se em valores que foram violados por Putin. Se não lutarmos por eles, a Europa deixará de ser a Europa”, sublinhou. Na sua opinião, a UE deveria começar a considerar a ideia de integrar a Ucrânia na UE.

Quanto à inflação, não há outra opção senão continuar a lutar pela sua redução. No que diz respeito à inteligência artificial, Mario Draghi acredita que terá enormes consequências. “Com uma velocidade de desenvolvimento exponencial, se não for bem gerida, pode ter efeitos negativos muito complicados de resolver”, afirma.

Mudança de regime

Questionado sobre a mudança de regime económico e possível revisão dos objetivos de inflação, Mario Draghi acredita que “os bancos centrais devem continuar a fazer o que fazem. Não podem mudar os objetivos agora, isso criaria problemas de credibilidade e confiança”. O que vai acontecer a seguir dependerá, em grande parte, das políticas fiscais. “Nos EUA, a política fiscal não deixou de ser expansiva e, além disso, não tiveram de se preocupar tanto com o preço da energia. No entanto, na Europa só houve expansão fiscal devido à pandemia e, além disso, o impacto da guerra tem sido muito maior nos preços energéticos”, afirma. Na sua opinião, é inevitável pensar que a transição energética vai dar lugar a um aumento considerável da despesa pública, o que significa mais défice e também taxas mais elevadas. 

O futuro da Europa

No que diz respeito ao futuro da Europa, para Mario Draghi, a resposta da UE à invasão da Ucrânia foi um momento marcante e definidor, sublinhando a necessidade de fazer frente de forma conjunta aos grandes desafios supranacionais: “A luta contra as alterações climáticas, a migração, a construção de uma defesa comum e a gestão da entrada da Ucrânia”, afirma. 

Tendo em conta estes desafios, considera que “é necessário mudar como as decisões são tomadas, porque se tornou obsoleta”. O ex-mandatário reafirma a “necessidade de construir mais Europa”. Uma Europa que trabalhe mais em conjunto, mais em cooperação, mais eficazmente.

Na sua opinião, as comparações com os EUA são, por vezes, desfavoráveis. Por exemplo, no caso da luta contra as alterações climáticas, “a política europeia é demasiado prescritiva e demasiado dependente das despesas públicas e dos impostos”. Em contrapartida, com a IRA nos EUA, há menos prescrição e mais subvenção ao setor privado. “A Europa pode ficar aquém dos seus objetivos se não alterar algumas das suas decisões”, afirmou.