A DNB AM promoveu em Lisboa um pequeno almoço em que o passado e o presente do investimento em tecnologia se confrontaram e analisaram, com a “ajuda” de quatro profissionais nacionais que se dedicam ao investimento neste sector.
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Debater o investimento em tecnologia atualmente numa mesa redonda é, seguramente, um desafio distinto face há 20 anos. Foi com esse mindset que a DNB Asset Management (que recentemente registou os seus fundos em Portugal) quis juntar em Lisboa três profissionais da área de gestão de ativos nacional de forma a debater o antes e o depois daquele que é um tema que dá, literalmente, “pano para mangas”. Mikko Ripatti, senior client portfolio manager na entidade gestora nórdica, António Dias, da IM Gestão de Ativos (IMGA), Fátima Só, da GNB Gestão de Ativos e Rui Araújo, da BPI Gestão de Activos, foram portanto os protagonistas de um interessante confronto entre passado, presente e futuro no investimento nesta temática.
Fátima Só começou por recordar que há 20 anos o sector da tecnologia se restringia a uma parte muito específica: o hardware. Hoje em dia, por seu lado, trata-se de um sector “bastante diversificado”, que deixou de “trabalhar num segmento muito isolado, acabando todas as indústrias por utilizar o que a tecnologia produz”. A especialista resume: “O sector passou a ser mais de serviços prestados a todas as indústrias”. Em complemento ao referido, António Dias acrescentou que, em traços genéricos, “a grande diferença resume-se à valorização”. “Há uns anos a CISCO era a empresa tecnológica mais valiosa do mundo, com 500 biliões de dólares de capitalização bolsista e, agora, sendo uma empresa muitíssimo maior em termos de receitas tem metade dessa capitalização bolsista. A grande diferença é que hoje em dia existem lucros, e há uma economia sustentada na tecnologia, enquanto há 20 anos isso era apenas uma promessa”, atestou.
Embora não contemporâneo da efervescência da tecnologia, Rui Araújo também lançou para o debate sua perspetiva de antes e depois, colocando na equação o tópico dos lucros. “Qualquer pequena empresa com uma ideia de alguma forma de fazer dinheiro e com um endereço de web conseguia, provavelmente, chegar ao mercado, não tendo lucros nos seus resultados. Hoje em dia já existem empresas bastante bem estabelecidas, com lucros gigantescos”, afirma. Mikko Ripatti lembrou, em tom de brincadeira, que “há 20 anos tudo estava atento à internet, mas não passavam de promessas em powerpoint”. Promessas que, como recorda, “fora algumas exceções, passaram a ser reais hoje em dia”. Já com uma perspetiva de futuro, o profissional assinalou que “o desafio é, investindo em tecnologia, saber limitar-se a sectores que se conhece bem, já que a tecnologia está em todos os lados”.
EUA vs Global
Do tema “antigamente” surgiu também a concentração do sector tecnológico nos EUA, ou a perspetiva de que esse cenário já não se materializa “tanto assim”. António Dias apontou que atualmente tendo em conta o “outsourcing ao nível do fabrico”, os EUA já não estão no centro do mundo no que toca a este sector, e países como Taiwan ou a China ganham outra importância. Uma importância da Ásia também sublinhada por Fátima Só, que lembrou ainda o tema da guerra comercial ligado ao vértice da geografia. “Hoje quando falamos nas guerras comerciais o que está em causa é a tecnologia; fala-se dos produtos agrícolas e de outros produtos, mas no fundo a guerra trata-se de uma guerra tecnológica”. “As empresas acabam por ser empresas globais. Mesmo uma empresa americana como a Intel ou qualquer outra, em tudo o que faz, usa componentes asiáticos ou vice-versa. A globalização aconteceu e a tecnologia é a prova disso. Qualquer telefone tem componentes de todo o mundo. Não sei como será o fim desta guerra, mas acho que não há volta a dar na tecnologia”, sentenciou.
Apesar destas dinâmicas relatadas, Rui Araújo acredita que ainda é “o capital americano que percebe e financia este tipo de tecnologia”, existindo um cluster interessante nos EUA, mais concretamente na Califórnia. Recorrendo a dados concretos, o profissional da BPI GA lembra que na “composição do S&P 500 a tecnologia tem um peso no índice de cerca de 30%, enquanto na Europa se tratam apenas de 6%, ou seja, o capital que financia não é assim tão global”. Deu mais um exemplo nesse sentido: “se formos ver o ETF Global de tecnologia vemos que 77% são empresas americanas. Se olharmos no entanto em termos de receitas vemos que a distribuição é um pouco mais global”, indicou.
A experiência de Mikko nos países nórdicos da Europa deu ainda lugar a outra comparação geográfica. “Há 20 anos o peso dos países nórdicos, com a Nokia, Ericsson, etc, era maior. O nosso fundo, inclusive, chegou a chamar-se Nordic Technology. Mas isso era quando o hardware ainda era o mais importante”, recorda. Quando o software foi ganhando mais importância, prosseguiu, “Sillicon Valley começou a ganhar muito mais peso”.
Onde reside o valor ?
Mas... e o valor, onde reside afinal hoje neste segmento? Na perspetiva de Fátima Só, trabalhando neste segmento “tem de se fazer uma avaliação a nível fundamental, e perceber se esse negócio está bem estruturado, e se já tem clientes”. No seu trabalho, diz, prefere “olhar para negócios mais bem estabelecidos, em áreas que estejam a inovar, em que exista um mercado interessante”. Da experiência de gestão de fundos de tecnologia da casa nórdica, Mikko Ripatti salientou que acham “o sector de software um pouco caro”, muito embora a visão relativa aos semicondutores seja de pouco otimismo... e justifica porquê. “Creio que tem a ver com uma certa abordagem que temos que foca muito na valuation. Tipicamente não gostamos de pagar caro, ou múltiplos altos, para depois ficarmos a torcer para que eventualmente a empresa cresça a esses múltiplos. Gostamos mais de cash flows que existem na atualidade. Se olharem para a nossa carteira verão que não temos nomes como a Amazon”, concluiu.