No mais recente Morningstar Executive Forum, a regulação em sustentabilidade foi tema. Anaïs Labigne, da Morningstar Sustainalytics, discutiu como essa regulação promove a transparência e a responsabilidade corporativa, ajudando no combate ao greenwashing. Fala ainda sobre novas medidas e deixa alguns conselhos aos investidores.
A Morningstar Portugal apresentou, em Lisboa, o seu primeiro Morningstar Executive Forum. Um evento que contou com a presença de vários especialistas e analistas da entidade, bem como do panorama nacional da gestão de ativos, para partilharem as suas perspetivas sobre as tendências de investimento. Entre os diversos temas abordados, um foco especial foi dado à regulação no contexto da sustentabilidade. Pode esta ajudar a aumentar a transparência e a responsabilidade das empresas e combater o greenwashing? E de que maneira os investidores e as empresas podem ir além do simples cumprimento das normas e integrar dados ESG de forma estratégica? Estas e outras perguntas quisemos ver respondidas por Anaïs Labigne, Manager de Relações com Clientes da Morningstar Sustainalytics, num painel moderado por Diana Pereira, fund analyst & manager ESG Solutions, da FundsPeople.
Transparência e responsabilidade
Que o aumento substancial da regulação no campo da sustentabilidade é uma realidade, não é novidade para ninguém. Especialmente nos últimos anos. “De acordo com uma análise do Principles for Responsible Investment Association (PRI) sobre a regulação global em matéria de ESG, entre 2019 e 2022 existiam mais de 300 regulações diferentes”, começa por dizer Anaïs Labigne, ao que chama de um verdadeiro “tsunami de regulação”. Ora, se à quantidade adicionarmos a complexidade, é natural que a regulação possa ser percebida como tendo um efeito contraproducente. No entanto, a profissional da Sustainalytics não tem dúvidas de que pode, de facto, ajudar na transparência e responsabilidade das empresas no que toca a práticas mais sustentáveis. De entre muitas iniciativas, destaca a Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD) e a EU Taxonomy.
“A CSRD impacta cerca de 50.000 empresas, incluindo as não europeias que operam na Europa, definindo 12 padrões que cobrem temas ambientais, sociais e de governança com foco na dupla materialidade”, isto é, a avaliação tanto de riscos financeiros e oportunidades, como do impacto nas pessoas e no meio ambiente. No caso da EU Taxonomy, “ajuda a identificar atividades económicas ambientalmente sustentáveis, com a meta de tornar a Europa neutra em matéria de carbono até 2050”.
Quando questionada sobre se as medidas em vigor são suficientes para combater o greenwashing, Anaïs Labigne é bastante objetiva na resposta: “Embora a regulação ajude a mitigá-lo, ela, por si só, não é suficiente”. Na visão da profissional, “a pressão exercida pelos investidores, combinada com a escolha de fornecedores de dados ESG confiáveis e adaptáveis às regulações emergentes, é essencial para assegurar a conformidade com as normas e minimizar o greenwashing”.
Mais regras, mais oportunidades
Em relação a novas regras que os profissionais da gestão de ativos devem antecipar, Anaïs Labigne destaca várias. Uma delas, relacionada com a EU Taxonomy, “é a exigência de que as empresas e os investidores publiquem e divulguem os seus objetivos de mitigação face às alterações climáticas”. Refere ainda uma extensão deste regulamento “para integrar cinco novos objetivos: economia circular, prevenção da poluição, proteção da biodiversidade e recursos hídricos e marinhos”. A implementação da taxonomia social também se configura como uma possibilidade no futuro, segundo a profissional.
Refere, também, a expansão da CSRD para instituições financeiras, como bancos, exigindo-lhes que integrem dados ESG de toda a sua cadeia (isto é, incluindo empresas em que investem e às quais concedem crédito) nos relatórios anuais. Além disso, relembra as regras mais rigorosas para a nomenclatura de fundos, que entrarão em vigor em breve, de acordo com as diretrizes da ESMA, “o que indica maior exigência e rigor nos requisitos para ser considerado um fundo sustentável, por parte do regulador”.
Por último, Anaïs Labigne deixa alguns conselhos para os investidores que queiram ir além da conformidade com as regras e tirar partido dos dados ESG para uma integração mais eficaz nas suas operações e estratégias:
- Antecipar tendências ESG e integrar esses critérios nas operações diárias para evitar custos futuros. Dá como exemplo a transição para uma economia de baixo carbono;
- Evitar uma abordagem superficial, estilo ticking the box, e adotar estratégias ESG autênticas e com impacto;
- Promover planos ESG credíveis por meio do engagement ativo, incentivando a melhoria contínua das práticas ESG e mitigação de riscos. “Para mim, o engagement e a stewardship representam um dos fundamentos da regulamentação”, conclui.