Reino Unido: novo primeiro ministro, mesmo dilema

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Já se acabaram as metáforas para descrever o limbo em que o Reino Unido se encontra preso. As múltiplas datas limite para estabelecer a sua saída da União Europeia já passaram e o país continua sem ter esboçado sequer as primeiras ideias de como será o Brexit. Na semana passada a Primeira-Ministra, Theresa May, marcou a data da sua saída para sete de junho. A sua demissão, longe de aclarar alguma coisa, acrescenta uma nova pergunta por responder.

A fragmentação do Reino Unido reflete-se claramente no seguinte gráfico que faculta a JP Morgan Asset Management. Quase um terço apoiará um Brexit sem acordo, mas outro terço continua a desejar permanecer na UE.

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Uma das incógnitas que surgem agora é se o novo Primeiro-Ministro será do próprio Partido Conservador ou se vão convocar novas eleições. A chave está em que pouco mudará se as eleições se repetirem. Segundo os últimos inquéritos que analisa Karen Ward, estratega chefe da J.P.Morgan AM para a EMEA, os Conservadores e Trabalhistas estão a perder o apoio de quem quer um hard Brexit a favor de novos partidos. Mas os que querem um soft Brexit ou os  que querem permanecer na UE estão a gravitar na direção dos democratas liberais.

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David Zahn, responsável de ações europeias da Franklin Templeton, vê como mais provável que o novo líder chegue da ala mais eurocéptica do Partido Conservador, o que implicará um empurrão maior ao hard Brexit. Por isso, Zahn não descarta ainda que o Reino Unido saia da UE a vacilar a 31 de outubro ou até antes. Ainda que quisessem, o novo Primeiro-Ministro apenas teria tempo para renegociar uma nova expansão com os membros da UE a quem já lhe está a esgotar a paciência.

Ward é mais céptica com este cenário de um hard Brexit. Primeiro, porque a menos que haja uma grande reconfiguração do parlamento, estes continuariam a impedi-lo, como já fizeram numa votação anterior. Segundo, porque não acredita que os sucessores mais prováveis -  Boris Johnson e Dominic Raab – se arrisquem a levar o país na direção de uma saída sem acordo sem um claro mandato dos seus cidadãos. “Há riscos económicos, pelo menos a curto prazo, dos quais vão querer responsabilizar-se. Há que relembrar que ambos apoiaram o acordo de May na última votação”, refere Ward. Também não vê que a UE faça uma nova extensão enquanto uma parte importante da população do país apoiar o novo referendo.

Como conclusão, o Reino Unido terá um novo Primeiro-Ministro, mas o dilema continua intacto.