Decidido o tema de investimento a incluir nas carteiras, há toda uma camada de análise que o gestor de carteiras poderá ter de incluir, perante a decisão do melhor veículo para o canalizar. O investimento nas energias renováveis e na transição energética não é uma exceção e, para gestores ou advisors que têm tal amplitude de ação, as soluções podem materializar-se de formas muito distintas. Foi para perceber de que forma se assemelham ou diferem as opiniões que a DNB Asset Management e a FundsPeople promoveram uma discussão entre quatro profissionais sobre esta temática e a melhor forma de a abordar.
Renováveis e transição energética: a melhor forma de materializar o investimento
“Nós somos, claramente, defensores da gestão ativa, neste e noutros setores. Acreditamos que há uma grande vantagem em ter a capacidade de ir acompanhando de forma dinâmica a evolução do tema da transição energética”, introduz Pedro Silveira Assis. Para o sócio da Baluarte, há, por um lado, o tema da transição entre energias tradicionais e energias renováveis e, por outro, também o tema da “transformação daquele que é o objeto do investimento em energias renováveis”. “Nós vemos evidência desta evolução na composição das carteiras dos fundos especialistas nesta área. A capacidade de adaptação à transformação energética, a par com a capacidade de previsão dos ciclos de declínio e de menor rentabilidade prospetiva, é muito bem capturada pelos gestores ativos”, expõe. O profissional observou essa capacidade no contexto da recente subida das taxas de juro, que fez com que o investimento em energias renováveis tenha sido um “segmento com uma rentabilidade diferencial bastante negativa em relação às ações globais”. “Neste contexto, vários gestores ativos nesta área de investimento conseguiram mitigar, significativamente, o efeito dessa desvalorização”, conta.
Já perante a questão de se os mercados privados capturam uma parte importante da rentabilidade que há para extrair do tema, Pedro Silveira Assis considera que “há espaço para todos, mas que há também oportunidades claras fora dos mercados públicos”. “Vemos que a rentabilidade que se tem obtido diretamente nesses projetos nem sempre transporta diretamente para a rentabilidade dos títulos das empresas cotadas que têm este objeto de investimento, entre outros”, diz. Deixa, ainda, claro que o pilar de Corporate Finance e M&A da Baluarte tem permitido capturar algum desse potencial em benefício dos investidores institucionais.
1/4Para Mikko Ripati, cuja entidade que representa inclui um fundo ativo de energias renováveis, também fica claro que a gestão ativa é o caminho a seguir. Considera que só essa abordagem pode capturar a evolução e inovação neste segmento de mercado ao invés de apenas aqueles projetos e abordagens que no passado foram um sucesso. “As novas tecnologias e as novas empresas são, frequentemente, as que mais geram valor e um investidor passivo não vai conseguir aproveitar essas oportunidades. Muitas tecnologias estão a surgir, mas poucas vão ser verdadeiramente importantes”. Por outro lado, diz, “a gestão passiva não captura o valor acrescentado das empresas que estão a fazer a transição da produção de energia não verde para verde”, diz.
Para o profissional, é muito importante, também, que se preste a devida atenção aos planos das empresas e à sua efetiva execução. “Muitas empresas têm os seus planos em apresentações powerpoint, mas não estão comprometidas com esses planos. Só um gestor que se envolva com as empresas consegue perceber quais são aquelas que estão, efetivamente, a fazer esse caminho”.
Representando uma entidade principalmente focada no investimento em ações cotadas, Mikko Ripati acredita que haja uma parte do valor que tenha sido já capturado antes das empresas chegarem aos mercados públicos. “No entanto, a longo prazo, as boas empresas cotadas oferecem sempre muito potencial para os investidores”.
2/4José França partilha da opinião dos restantes intervenientes: “Concordo a 100% que é um setor ou tema que beneficia muito da gestão ativa”. Contudo, tal como Pedro Assis, comenta que há espaço para diferentes abordagens de investimento. “Acredito que há espaço para tudo e a gestão passiva é muito útil para aqueles investidores que querem uma exposição mais granular a temas como a energia solar ou outras partes específicas do mercado. Há de facto espaço para a gestão passiva, embora seja um segmento de nicho e na maioria das vezes é a gestão ativa que providencia os maiores benefícios”, diz.
O gestor percebe, também, que algum do valor é capturado pelos investimentos privados, no que ao investimento em energias renováveis e transição energética diz respeito, mas acredita também que os líderes do futuro nesta temática vão ser aqueles que são já as grandes empresas cotadas. “Estas vão estar bem posicionadas para fazer as parcerias ou as aquisições que desbloqueiam valor, ou mesmo até para desenvolver internamente as novas tecnologias”. “Tem acontecido muito”, diz. Dá como exemplo a Rolls Royce. “A empresa tem desenvolvido pequenos reatores nucleares que podem vir a ser o futuro da energia limpa. É uma inovação que está a ser desenvolvida por uma empresa cotada que tem o centro do seu negócio numa área distinta”, expõe.
3/4Raul Afonso, por seu lado, lembra que o investimento em energias renováveis e a transição energética têm um potencial que vai além do investimento em ações: “Não é óbvio que os ganhos estejam reservados para as ações”. Segundo exemplifica, as empresas de energias renováveis dos Estados Unidos tinham, até recentemente, a possibilidade de emitir obrigações com um incentivo fiscal que lhes conferia um perfil mais atrativos na perspetiva do investidor.
Para o profissional, não podemos ignorar as oportunidades que surgem no mundo do rendimento fixo, e as green bonds associadas a projetos de energias renováveis são um bom exemplo disso. É por isso que acredita também no valor da gestão ativa e, ainda mais, no caso particular das carteiras multiativos. “A transição energética é transversal a várias classes de ativos e apenas um gestor ativo pode aceder a diferentes classes de ativos e aproveitar este tipo de oportunidades”, diz. Finalmente, lembra também outras vertentes como o investimento em contratos de carbono. “Não são para todos os investidores, mas para aqueles que são mais sofisticados pode ser interessante como fator de diversificação”.
4/4