Retalho vs Institucional: a forma como se encara o ESG em Portugal

Juan Carlos Dominguez Ramon Carrasco Daniel Oingarrón
Juan Carlos Dominguez Ramon Carrasco Daniel Pingarrón

Numa conversa entre três vendas de gestoras internacionais, falou-se da relação com o cliente na era pós-COVID, mas abordou-se ainda o investimento sustentável e o investimento temático.

Aproveitar o melhor da era pré-COVID e o melhor do que se implementou no pós-pandemia. Não há dúvidas para os profissionais de vendas das gestoras internacionais de que há um balanceamento a ser feito entre o digital e o físico nos próximos tempos. Aproveitando precisamente as vantagens do digital, reunimos três profissionais de vendas para dar voz a temas de negócio, que ultimamente são fundamentais abordar.

Ramón Carrasco, business developer da Carmignac, Juan Carlos Dominguez, head of advisory na AXA Investment Managers, e Daniel Pingarrón, sales manager na Natixis Investment Managers, concordam precisamente que a virtude vai estar no meio: entre o digital e o presencial.

Com a COVID-19 a relação com o cliente mudou drasticamente e tudo passou para o digital. No futuro acho que vamos aproveitar o melhor da era antes do COVID, e o melhor depois. Creio que vamos combinar as duas formas de relacionamento, porque temos de aproveitar as duas formas da melhor maneira”, começou por referir Ramón Carrasco.

Embora confesse que sente a falta do regresso ao mundo físico, Juán Carlos Dominguez não podia estar mais de acordo com as palavras do colega, e recorda tempos em que as plataformas digitais demonstraram valor acrescentado. “Os encontros digitais foram muito úteis em determinados casos. Por exemplo, por questões de agenda anteriormente era difícil promover um encontro entre um determinado portfolio manager que estava nos EUA - ou em qualquer outro local do mundo - para que viesse a Lisboa ou ao Porto visitar três ou quatro clientes institucionais. Esses encontros agora são muito mais fáceis”, aponta.

Também evocando o passado, Daniel Pingarrón lembra como a presença do digital foi determinante. “Entre março e maio de 2020 tivemos a maior volatilidade de sempre, e drawdowns de quase 30% nos mercados acionistas, bem como os mercados de crédito a colapsarem... foi uma altura em que se teve de fazer um esforço maior para ser ainda mais transparente”, recorda.

Retalho menos interessado em ESG

O investimento sustentável não poderia ficar de fora desta conversa, e tal como já tinha acontecido noutra conversa com responsáveis de vendas, também neste encontro os participantes atestaram algum atraso dos clientes portugueses, nomeadamente os de retalho relativamente à procura de produtos ESG. O profissional da Natixis IM, por exemplo, fala do interesse que sentem dos clientes institucionais. “Temos visto uma grande melhoria no interesse dos clientes institucionais portugueses nos tópicos ESG. Os investidores de retalho talvez estejam um pouco mais atrasados, comparativamente com o que vemos com outros países”, reiterou. Enumera a título de exemplo o interesse das seguradoras e planos de pensões, nomeadamente nos últimos 12 meses.

Do mesmo modo, Ramón Carrasco observa que “em Espanha, e também em Portugal, alguns clientes institucionais quando investem num fundo, esse fundo deve estar incluído numa focus list, e essa focus list normalmente exige que os fundos estejam classificados como artigo 8 ou 9”. Os investidores de retalho, por seu lado, “não têm essa estrutura na sua mente”. O foco deles, recorda, é apenas o do retorno e o da volatilidade.

Por outro lado, Juan Carlos Domingues acrescenta outro foco de procura que na AXA IM têm sentido. “Vemos por exemplo as bancas privadas a fazer um push de serviços com um standard ESG mais elevado e os institucionais, por seu lado, mais conscientes da necessidade de investir ESG, pois são obrigados a fazer esse reporte”, sublinha.

Investimento temático

O investimento temático é outro dos temas que nos últimos meses – ou até anos – foi ganhando importância. Na Carmignac, por exemplo, consideram nos fundos de ações que gerem quatro grandes estratégias. A principal delas é o new consumer, onde se inserem temáticas como “o e-commerce ou experiência digital”. Segue-se a economia digital, ou seja, “tudo o que está relacionado com big data, conectividade, fintech”. Em terceiro lugar, o especialista aponta a saúde, onde se inserem a “saúde avançada, e onde se destaca atualmente a relevância da inovação médica”. Por fim, o profissional de vendas fala das mudanças climáticas, “onde incluem temas como a mobilidade futura, a transição energética, etc.”.

Do lado da AXA, o percurso em investimento temático já é longo, com a compra, em 2005, de uma boutique focada em investimento por setores e em growing Investing. “Temos tentado enfrentar estes temas de uma forma alargada. Por exemplo, temos uma estratégia chamada clean economy, e este fundo não se foca num nicho, mas sim num espetro alargado. Cobre biodiversidade, clean tech, clean energy, etc.”, pontualiza o responsável de Vendas.

Na perspetiva de Daniel Pingarrón, o mercado português está a receber bem estas estratégias. “Muitos investidores estão a aumentar o peso destas estratégias no seu orçamento de risco, mas eu aproveitaria para clarificar alguns mal-entendidos que poderão surgir sobre este tipo de investimento”, elucida, explicando com mais detalhe. “É verdade que a probabilidade de uma ação temática ser mais sustentável é maior do que a média, mas na nossa opinião os critérios ESG devem considerar-se em todo o portefólio, e não apenas numa parte dele”, reitera.

Veja a discussão completa no vídeo em baixo: