Richard Ford (Morgan Stanley Short Maturity Euro Bond): “É demasiado cedo para dizer que tudo está fora de perigo”

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Richard Ford. Créditos: Cedida (Morgan Stanley IM)

Por agora, Richard Ford acredita que é demasiado cedo para falar de uma possível mudança de rumo dos bancos centrais e de uma inflação mais baixa. Para o gestor do Morgan Stanley Short Maturity Euro Bond, fundo de obrigações a curto prazo com Rating FundsPeople 2022, as subidas das taxas previstas pelos principais bancos centrais serão provavelmente o mínimo que podemos esperar tendo em conta a inflação persistente e a força do mercado de trabalho nos EUA.

“Uma vez que a inflação continua elevada, as condições financeiras, isto é, as taxas de juro, as yields de vencimentos mais longos e os spreads de crédito devem manter-se em cotas elevadas durante um período substancial para reduzir a inflação. Isto evitará qualquer aumento sustentado das yields e dos spreads. Os aumentos que temos visto, em julho e nos últimos dias de setembro, mostraram ser de curta duração, visto que a mudança esperada pela Fed não se verificou”, sublinha.

A volatilidade no Reino Unido, sinal de aviso

Na sua opinião, à medida que a autoridade monetária americana continua mais agressiva, a probabilidade de se produzir um overshoot aumenta, o que pode resultar num abrandamento económico significativo. “A volatilidade observada no Reino Unido nas últimas semanas é como um aviso aos investidores para garantir que as suas instituições financeiras podem suportar yields mais altas. As tensões no sistema e o ciclo de feedback negativo da economia devem-se à alavancagem”.

Na sua opinião, a questão no mercado de obrigações do Reino Unido não se prendia com a solvência, mas com a alavancagem. “Tratava-se de contrair empréstimos para obter rentabilidades maiores. É difícil saber quanta alavancagem financeira do setor privado existe na economia global, mas o grau de dispersão de rentabilidade provavelmente dependerá de quem tem o investimento ou o modelo de negócio mais, ou menos, alavancado. A Fed foi clara neste assunto. O balanço tem de estar preparado para uma economia em abrandamento e para yields mais altas, de maneira prolongada.

A sua visão sobre as obrigações europeias

Segundo Ford, as obrigações europeias continuam a ter dificuldades com as taxas de inflação mais altas do mundo. “Os investidores sempre pensaram na Europa como uma economia de baixa inflação e de estagnação secular. Atualmente, temos estagflação. As obrigações provavelmente continuarão a sentir dificuldades à medida que o BCE tenta aumentar as taxas de juro o suficiente para reduzir a inflação, reconhecendo ao mesmo tempo que uma parte significativa da inflação, talvez entre 40 a 50%, se deve a fatores que, como a energia, não podem controlar”

No entanto, considera que o que não podem fazer é permitir uma espiral inflacionista e deixar que a inflação atual se instale na economia, mesmo a níveis significativamente inferiores aos da atualidade. “A boa notícia é que os mercados de obrigações, na sua maioria, compreendem isto e descontam as subidas significativas das taxas de juro e dos spreads de crédito. Infelizmente, é demasiado cedo para dizer que tudo está fora de perigo. É provável que os riscos ainda estejam enviesados para yields mais elevadas, mesmo à custa de um abrandamento económico mais profundo”.

Nos EUA, acredita que há poucas coisas que possam impedir que as yields norte-americanas a 10 anos ultrapassem novamente o nível de 4% durante o que resta do ano. “E, embora as obrigações estejam, sem dúvida, mais atrativas que em julho, somos cautelosos e sabemos que há mais correções no futuro. Os investidores devem continuar pacientes na hora de adicionar risco de taxas de juro e de crédito às carteiras. A maioria dos mercados emergentes, embora continuem a aumentar as taxas, permanecem no meio de uma inflação demasiado alta e de novas subidas de taxas”.

Posicionamento atual

Durante o trimestre, a subponderação em duração permaneceu -0,17 anos em comparação ao índice de referência no final de setembro. A posição é expressa através da subponderação em obrigações soberanas (sobretudo em Itália, Espanha e França). O fundo tem uma posição longa fora do índice de referência em obrigações relacionadas com o governo, principalmente em mercados desenvolvidos. Além disso, a certeira tem uma posição longa em obrigações soberanas de mercados emergentes (investment grade denominado em euros: principalmente Chile, México, China e Indonésia).

No geral, a subponderação em crédito medida pela spread duration manteve-se durante o trimestre, com preferência por valores financeiros em detrimento dos industriais e de serviços públicos. A carteira também manteve a sua posição longa fora do índice de referência em covered bonds dada a yield atrativa que o gestor aprecia.