Roger Miners (BNP Paribas AM): “O cash é o novo rei do atual mercado. A boa notícia é que temos os principais monetários”

Roger Miners. Créditos: Cedida (BNP Paribas AM)

Das grandes crises nascem grandes revoluções. Da grande depressão dos anos 20 surgiu a primeira verdadeira regulação das contas financeiras que as empresas cotadas devem apresentar. E, na opinião de Roger Miners, diretor de Distribuição para a Europa da BNP Paribas AM, a pandemia gerou uma nova revolução financeira sob a forma de uma norma que define pela primeira vez o conceito de investimento sustentável. Uma transformação do eixo do investimento: do binómio retorno-risco para o trinómio retorno-risco-impacto.

O cliente continua a esperar retornos positivos, mas agora também exige que não tenha um efeito adverso no clima”, afirma Roger Miners. E é uma tendência estrutural que o diretor, que acaba de completar uma ronda de visitas a 11 países europeus que cobre, detetou em todos os principais mercados financeiros da Europa. “É um fenómeno de longo prazo”, insiste.

Uma aposta estratégica

Por isso, a integração da sustentabilidade no negócio da BNP Paribas AM continua a ser uma aposta estratégica. “Há cinco anos, sentimo-nos bastante corajosos ao definirmo-nos como uma casa ESG”, afirma Roger Miners. Claro que, apenas dois anos mais tarde, com a vaga do investimento sustentável que a pandemia desencadeou na Europa, esta deixou de ser uma qualidade diferenciadora.

E agora, os ventos na indústria voltam a mudar de direção. As conversas sobre ESG estão agora a acalmar e até se tornaram um debate político nos Estados Unidos. “O engraçado é que nos sentimos mais confortáveis num contexto como o atual do que quando todas as gestoras se definiam como pioneiras em ESG”, reconhece o diretor. 

“Haverá clientes que não quererão fazer negócio connosco por causa disso, o que considero uma decisão válida”, afirma Roger Miners. Por outro lado, haverá muitos outros que valorizam o investimento sustentável. Além disso, o especialista observa que os clientes interessados estão a distinguir entre as gestoras para quem o ESG é apenas marketing e aquelas realmente comprometidas.

E isso terá ramificações nos fluxos. Após a forte correção de 2021, as estratégias temáticas verdes sofreram muito com os efeitos do mercado e com as saídas de capital. Essa recuperação ainda não chegou totalmente, mas Roger Miners conta que já observa um aumento na procura. “Não são grandes movimentos nos fluxos, mas os clientes têm claro que os temas centrados na sustentabilidade fazem parte da sua aposta estrutural”, afirma.

A sua estratégia em ETF

O que acontece é que os clientes ainda não decidiram com que gestor de ativos o fazer. Assim, de momento, esta primeira reentrada no tema está a ser feita através de ETF. Um interesse que a BNP Paribas AM está a captar graças à sua gama de ETF ESG, afirma Roger Miners. “Estamos a ver que a marca por detrás de um ETF se tornou um fator de distinção para o investidor. Os clientes estão a escolher os ETF da BNP Paribas AM porque confiam nas nossas credenciais ESG”, afirma.  

Essa especialização é o epicentro do modelo de negócio da empresa francesa para o segmento de ETF. “O nosso plano não é tornarmo-nos num provedor de ETF gigante, mas ganhar em nichos específicos”, explica Roger Miners.

Não obstante, ter uma gama de produtos cotados está a ser essencial para a gestora num contexto de mercado como o atual. “Estamos num mercado muito complicado. O investidor com uma carteira tradicional 60/40 perdeu 10-20% no ano passado. Ainda não estão abertos a tomar uma decisão de elevada convicção e de gestão ativa”, afirma. Roger Miners afirma que o investidor europeu ainda está na fase que antecede essa decisão estratégica. “Estamos perto, mas ainda não estão a tomar as grandes decisões de alocação de ativos”, insiste.

Como acrescentar valor em monetários

É no mercado monetário que o capital se está a movimentar. A classe de ativos recebeu, este ano, entradas históricas, numa resposta mista ao regresso do cupão em obrigações e como refúgio da incerteza. E é um interesse que o BNP Paribas AM está a captar. A gestora já gere um volume de mais de 80.000 milhões em fundos do mercado monetário em euros e outros 8.000 milhões em dólares. Mas, só este ano, já capturou 16.000 milhões na sua gama de monetários. “O cash é o novo rei do atual mercado. A boa notícia é que temos os principais instrumentos do mercado monetário neste momento”, defende Roger Miners.

Mas, num produto baseado em liquidez, é possível ser verdadeiramente diferenciador? Na opinião do diretor, sim. Em primeiro lugar, porque para o investidor, o gestor por detrás do monetário é importante. “Tendo em conta a atual incerteza no setor financeiro, o investidor vai escolher uma casa em que confia”, garante. Em segundo, pode-se gerar valor acrescentado em rentabilidade num monetário. “A flexibilidade do nosso processo de investimento permite-nos ser um dos mais rápidos a capturar uma melhoria da yield de uma obrigação e isso, pouco a pouco, irá refletir-se na rentabilidade total do monetário”, explica. E em terceiro lugar, a dimensão. Roger Miners considera que um volume significativo é um fator relevante para o cliente e a BNP Paribas AM tem muitos dos maiores monetários do mercado.