Neste contexto, parte da indústria prepara-se para oferecer soluções de liquidez criativas, justificando o crescimento das estratégias aplicadas no mercado secundário.
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A indústria do private equity procura fórmulas para conseguir saídas bem sucedidas dos seus investimentos a meio de um contexto macroeconómico desfavorável. A desaceleração dos mercados de ofertas públicas iniciais (IPO) e a desconexão entre as valorizações de compradores e vendedores provocaram uma diminuição drástica nas oportunidades de saída, afetando a capacidade dos fundos para devolver capital aos investidores.
Na Federated Hermes, destacam que o valor global das saídas apoiadas por compras (buyout-backed exits) em private equity caiu 66% em 2023 em comparação com 2021, deixando uma estimativa de 3,2 biliões de dólares em ativos não vendidos dentro das carteiras dos general partners. No primeiro trimestre de 2024, as saídas em private equity atingiram o seu nível mais baixo em três anos, deixando muitos investidores sem o capital necessário para se comprometerem com novas oportunidades e provocando uma desaceleração geral nas alocações a este setor dentro das carteiras.
Neste contexto, parte da indústria prepara-se para oferecer soluções de liquidez criativas, justificando o crescimento das estratégias aplicadas no mercado secundário, como os veículos de continuação, strip sales, processos de oferta pública e opções de capital preferencial (preferred equity). Estas estratégias oferecem flexibilidade no momento de gerir os ativos, ajudando os investidores a evitarem ficar com ativos para trás no final do ciclo de vida dos fundos, quando os retornos tendem a estagnar.
Com este quadro de referência, a FundsPeople falou com Sanjeev Phakey, responsável de Secundários na Federated Hermes Private Equity, para conhecermos a evolução dos mercados secundários.
Qual é o volume dos mercados na segunda metade de 2024?
Em 2023, o mercado secundário global teve o seu segundo maior ano registado, com 114.000 milhões de dólares em operações, segundo dados da Evercore. Os volumes do mercado secundário foram especialmente elevados na primeira metade de 2024, com estimativas de 70.000 milhões de dólares que o situam no objetivo de ser um ano recorde. Espera-se que os volumes de todo o ano de 2024 ultrapassem os 140.000 milhões de dólares.
As transações lideradas por gestores (GP-lead) continuam a beneficiar das restrições de saída, que permitem devolver liquidez aos investidores ao mesmo tempo que conservam ativos com um bom retorno e uma margem de crescimento contínua.
Os investidores também sentem o impacto sob a forma de menores distribuições, pelo que estão a utilizar o mercado secundário para conseguir liquidez (operações LP-lead). Em consequência, dispõe-se de um significativo volume de capital disponível que está a favorecer o aumento dos preços e os conseguintes volumes das operações LP-lead. A oferta de capital aumentou, o que fez crescer a procura por carteiras diversificadas por limited partners.
Embora o mercado secundário continue a ser dominado por transações de empresas blue-chips, há cada vez mais interesse pelas empresas secundárias do mercado médio, em parte devido à forte opcionalidade de saída e a uma menor dependência dos mercados de OPV (IPO). Ao mesmo tempo, as empresas mais jovens também estão muito solicitadas, dada a sua menor dependência da saúde dos mercados de saída a curto prazo.
Em termos de captação de fundos, que diferenças observa entre as operações LP-lead vs. GP-lead?
Temos observado uma tendência cada vez maior para captar capital em operações GP-lead, e esperamos que esta tendência se mantenha à medida que os investidores estão cada vez mais conscientes da natureza diferente das operações GP-lead em comparação com as operações LP-lead.
Embora o mercado GP-lead se encontre numa fase inicial quanto à capacidade de mostrar rentabilidades sólidas de forma consistente, os dados iniciais sugerem que as rentabilidades estão, em grande medida, em linha com os investimentos em buyouts, com menores dispersões.
Que nível de desconto observa este ano em comparação com os dois anteriores?
Os preços no mercado secundário aumentaram em 2024 tanto nas operações de GP-lead, como nas LP-lead. O aumento dos preços das carteiras de limited partners tem sido mais pronunciado devido a uma combinação de fatores que incluem a oferta de capital, o apoio dos mercados públicos e o surgimento de r"ebentos verdes" nos mercados de saída.
Segundo o relatório Jefferies H1 2024 Global Secondary Market Review, o preço médio (como percentagem do NAV) dos fundos de buyout aumentou de 87% em 2022 para 94% no primeiro semestre de 2024.
Os preços aumentaram em todas as estratégias desde 2022 à exceção do venture, que continua a recuar como resultado da preocupação com os níveis de valorização e a captação limitada de fundos.
“Continuamos a observar uma menor variabilidade na fixação de preços das oportunidades em GP-lead, em que os investimentos mais atrativos e concentrados estão a valorizar ao valor contabilístico (book value) mais recente ou próximo dele”, afirma o responsável.
Tem havido uma discrepância na fixação de preços no que respeita os tail-end funds (fundos que têm mais de dez anos de vida) em comparação com épocas mais recentes, visto que estes fundos costumam depender mais das saídas a curto prazo em contextos de mercado difíceis.
Está a ocorrer uma reativação das fusões e aquisições? Como afetará o mercado secundário?
Segundo o relatório 2024 Global Private Equity Report da Bain & Company, há 3,2 biliões de dólares em ativos não vendidos nas carteiras dos private equity. Por isso, embora se espere que os mercados de fusões e aquisições aumentem na segunda metade de 2024 e para a frente, tem-se acumulado uma importante carteira que apoiará o mercado secundário a médio e longo prazo.
Em concreto, no que respeita os fundos de continuação, estes permitem aos general partners conservar ativos troféu durante um período prolongado e aproveitar todo o seu potencial. Os general partners veem cada vez mais as transações GP-lead como uma opção de saída viável juntamente com as três vias de saída tradicionais de OPV, venda comercial ou venda a um comprador financeiro. “Acreditamos que as GP-lead vão continuar a ser um componente significativo do mercado secundário, independentemente de quando é que o mercado de fusões e aquisições vai recuperar”, conclui.