As obrigações soberanas obtiveram ganhos consideráveis desde o início da crise de COVID-19 em março de 2020. A dívida corporativa high yield subiu mais de 25%. O apoio dos bancos centrais e dos governos, seguido da descoberta de vacinas no fim de 2020, juntamente com a reabertura e forte recuperação da atividade económica, combinaram-se para conseguir uma recuperação poderosa.
No entanto, estamos agora numa fase mais madura e complexa do ciclo de recuperação. Os fundamentais são fortes, a atividade económica e a procura dos consumidores continuam fortes, mas as avaliações são elevadas e há incerteza em torno da inflação, do processo de normalização da política monetária e da COVID-19. O que esperar do ativo? Os especialistas da Schroders fornecem seis gráficos para compreender a situação.
A recuperação dos lucros das empresas desde março de 2020 resultou num reforço substancial dos balanços, o que significou um forte apoio aos mercados de crédito. No entanto, é provável que a margem de melhoria seja limitada. “O principal desafio para as empresas este ano será defender as margens contra as pressões de custos, embora possa haver alguma inclinação para tomar medidas mais favoráveis aos acionistas, o que pode comprometer a força do balanço”, alerta James Molony, especialista em obrigações da Schroders.
Os balanços das empresas parecem sólidos

Os fundamentais das empresas europeias foram reforçados com a COVID-19

Para Martha Metcalf, responsável pelas estratégias de crédito dos EUA na Schroders, os fundamentais das empresas são bons, por isso qualquer deterioração virá de níveis muito fortes. “É provável que a dispersão de resultados aumente em resposta à diferente capacidade das empresas para lidarem com o aumento dos custos de produção. Isto significará uma maior oportunidade de seleção de valores do que temos visto nos últimos anos”.
O ciclo tem favorecido a melhoria dos ratings, especialmente no segmento de high yield. “O aumento das subidas de classificação tem sido um apoio ao mercado, assim como a tendência das rising stars, obrigações que subiram de high yield para investment grade, enquanto um número crescente de desvalorizações de fallen angels visto em 2020 completam a viagem de volta ao invesment grade. Este processo está bastante avançado nos EUA, mas a Europa deve começar a chegar a esse nível”.
As tendências dos ratings apoiam o high yield

Embora as avaliações das obrigações corporativas de investment grade não sejam baratas, Saida Eggerstedt acredita que estão bem fundamentadas e devem manter-se estáveis, desde que a redução e os ajustes das políticas se desenvolvam como esperado. “As obrigações norte-americanas de investment grade continuam a oferecer um retorno razoável, em parte devido à subida das yields das obrigações do Tesouro dos EUA, que atraem o interesse de investidores estrangeiros. As yields das obrigações europeias são mais baixas, mas os spreads oferecem mais valor”.
Procura por crédito dos EUA por investidores estrangeiros é forte

No entanto, para a responsável pelo crédito sustentável da Schroders, as áreas de valor mais atrativas encontram-se na Ásia, nos mercados emergentes e no high yield.
“Os spreads sobre a dívida europeia e as obrigações BB dos EUA descontam atualmente taxas de incumprimento de 3,7% e 1,9%, em média a cinco anos, respetivamente. A elevada rentabilidade em euros oferece valor em relação aos EUA, e o spread em euros caiu mais do que o dos EUA, o que é incomum. Isto pode ser, em parte, porque a Europa está mais exposta ao abrandamento da China, às forças cíclicas e aos problemas da cadeia de abastecimento, mas estes problemas devem começar a diminuir. Se aprofundarmos a análise, vemos que os spreads de títulos BB em euros são cerca de 3,5 vezes superiores aos do BBB, bem acima dos níveis históricos”.
Valor oferecido pela Europa em comparação com os Estados Unidos

Para Metcalf, as tendências das classificações devem manter-se favoráveis, uma vez que os lucros obtidos com as rising stars irão ser canalizados para o high yield. “Isto também reduz a duração global ou o risco de taxas de juro em high yield. Mas é preciso ter paciência e esperar que a dispersão aumente e as avaliações sejam mais convincentes”.
Os spreads de high yield de mercados emergentes, explica, estão muito acima das suas congéneres do mercado desenvolvido e há uma maior dispersão, com uma proporção significativamente maior de mercados emergentes a negociar com spreads superiores a 600 e mesmo 800 pontos base. “Isto implica um maior leque de oportunidades ao nível dos valores”, entende.
Valor na Ásia e high yield emergente

Na gestora acreditam que as avaliações do crédito de investment grade asiático são apoiadas por fundamentais estáveis e melhorados, enquanto o high yield oferece abundantes oportunidades para a seleção individual de valores. “Os spreads de crédito asiáticos devem estabilizar no primeiro semestre de 2022, mas podem não convergir com médias históricas, pelo menos no curto prazo, uma vez que os investidores permanecem desconfiados dos riscos políticos da China”, preveem.
Na empresa britânica, veem uma melhoria global dos fundamentais das empresas nos mercados emergentes e uma possível estabilização a nível macroeconómico, embora “a situação dependa muito de cada empresa”, concluem.