Selecionadores de fundos: assim será o mundo numa indústria pós-pandemia

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Caston Corporate, Flickr, Creative Commons

O confinamento global causado pela pandemia revolucionou numa questão de meses um setor tão social como o do investimento. O papel de uma gestora passou de ser oferecer um serviço discricionário para oferecer um serviço de assessoria aos seus clientes. Tendência que começavam a surgir na indústria foram acelerando, afirma Jean-François Hautemulle, fundador da consultora Terres Neuves Consulting Limited: um acesso mais rápido à informação, maior uso da tecnologia e ferramentas digitais e baseadas no big data, assim como uma maior complexidade na oferta de produtos. Mas também mudaram as relações.

Numa conferência organizada pela Allianz Global Investors, Hautemulle identificou três grandes mudanças que já se consolidaram com esta crise:

  • A maneira como os selecionadores de fundos e as gestoras interagem;
  • O tipo de conteúdo que oferecem;
  • O trabalho de forma mais inteligente; menos viagens e mais trabalho a partir de casa.

Mas como reconhece o especialista, o grande desafio desta nova normalidade continua a ser o contacto. “Este é um negócio de pessoas”, recorda. De facto, conta que em países onde a mobilidade está menos restringida começam a haver reuniões em pessoa entre selecionadores e gestoras. “Há uma entidade que permite reuniões nos jardins do cliente”, brinca.

Uma prática que está a surgir é a de compactar em formato vídeo um resumo da estratégia do fundo e enviá-lo previamente ao selecionador. Desta forma, a reunião em pessoa pode ser otimizada e começar diretamente pelas perguntas mais em detalhe e personalizadas. “Trata-se de tornar o contacto limitado mais eficiente”, explica.

Pelo contrário, há práticas anteriores que continuam num limbo. O que em inglês se denomina cold calling, por exemplo. Hautemulle também sentencia que os grandes eventos que reúnem grandes grupos de selecionadores e várias gestoras são coisa do passado. “São muito caros e as gestoras aperceberam-se que conseguem mais audiência com seminários virtuais”, assegura.

O que provavelmente vai persistir num pós-pandemia será uma mistura entre virtual e presencial em grupos mais personalizados. Isto deixa no ar o verdadeiro valor destas megaconferências: o networking. Segundo conta Hautemulle, há gestoras que montaram encontros via Zoom, mas acaba por não ser a mesma coisa.

Também há mudanças relevantes na forma de comunicar. O serviço ao cliente tornou-se mais eficiente. Onde vamos agora ver a transformação é nos gestores: deverão evoluir de comunicadores a locutores. Ser muito mais eficiente no que transmitem e no tempo que têm para o fazer. Há consenso no setor quanto ao efeito de fatiga relacionado com o Zoom. Antes um almoço de trabalho poderia durar comodamente duas horas. Agora o especialista calcula que 45 minutos é o tempo ótimo de uma videoconferência.

Nesta linha, Hautemulle vaticina a morte do e-mail. “As pessoas estão a procurar ferramentas mais interativas”, conta. Tudo se resume num objetivo: que mensagem chave receba a atenção necessária. E no mundo digital, vale mais o breve, o essencial e o relevante.