O Banco Central do Brasil subiu a taxa de juro de referência em 50 pontos base, para 8%, no passado 29 de Maio.
Os analistas da Bradesco Asset Management (BRAM) analisaram no seu ultimo relatório semanal os dados da inflação no Brasil e a deterioração do mercado de trabalho e as contas externas brasileiras.
O risco de retirada mais cedo dos estímulos monetários pelo FED aliado à aceleração da economia americana deve resultar no fortalecimento do dólar face a outras moedas. Nesse cenário, o câmbio pode ser uma pressão adicional para o cenário de inflação no Brasil que tem melhorado menos do que o esperado. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) de Maio recuou em relação ao fecho de Abril, porém a desaceleração tem sido menor do que a sazonalidade favorável de alimentos poderia indicar. A subida de 0,46% mostrada pelo indicador veio em linha com a projecção da BRAM (0,47%) e ligeiramente abaixo do consenso de mercado (0,49%). Com isso, o IPCA-15 anual foi de 6,51% em Abril para 6,46% em Maio. De qualquer forma, numa perspectiva futura, a dispersão – em linha com as medidas de núcleo de inflação – tende a seguir em baixa nos próximos meses. A estimativa preliminar da gestora brasileira para o IPCA de Maio fica em 0,39%.
Esta melhoria menos intensa da inflação requer uma reposta mais forte da autoridade monetária para recriar a trajectória de convergência do IPCA para as metas. A comunicação do Banco Central, reforçando a necessidade de uma acção tempestiva, também foi um factor fundamental para a nossa expectativa relativamente à taxa de juro de referência. Nos seus últimos discursos, o presidente do Banco Central tem enfatizado que “está vigilante e fará o que for necessário, com a devida tempestividade, para colocar a inflação em declínio no segundo semestre e para assegurar que essa tendência persista no próximo ano”.
No mercado doméstico, a estrutura a termo da taxa de juros registou aumento em todos os seus vértices. O Ibovespa aumentou na contramão das bolsas globais, com uma valorização de 1,5%.
No entanto, o mercado de trabalho continua a deteriorar-se gradualmente, com crescimento modesto da ocupação e baixo crescimento do rendimento real. A estabilidade da geração de empregos no Brasil e o maior crescimento da população economicamente activa (PEA) resultaram na subida da taxa de desemprego em Abril, mesmo com ajuste sazonal. A taxa de desemprego subiu de 5,7% em Março deste ano para 5,8% no quarto mês do ano acima do esperado pelo mercado (5,6%) e em linha com a expectativa da Bradesco Asset Management (5,8%).
Em relação às contas externas brasileiras, também se identifica uma deterioração mais intensa do que o esperado. Essa deterioração tem feito com que o investimento directo estrangeiro não seja mais suficiente para financiar o défice em conta corrente nos últimos 12 meses, o que deixa o financiamento das contas externas dependente do comportamento das captações externas e dos investimentos em portefólio (obrigações e acções).