Será mesmo verdade?

Nem queria acreditar no que li já por diversas vezes na comunicação social que o governo se prepara para forçar o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) a aumentar a exposição da sua carteira a títulos do tesouro português de 55% para 90%. E continuo a não querer acreditar!

Mas estes senhores, alguns dos quais economistas, não aprenderam nas universidades por onde andaram (os que andaram em full time!) que em gestão de activos financeiros e de investimentos em geral, há um princípio dos mais sagrados que se chama diversificação.

Se 55% já é uma posição de elevada concentração num tipo de activo financeiro, então 90%!... Como dizia o Astérix: “estes romanos são loucos”!

O FEFSS é um dos principais instrumentos de garantia das nossas pensões presentes e futuras. Se já existem dúvidas sobre a sustentabilidade da segurança social (população cada vez mais envelhecida, elevado desemprego jovem, número de nascimentos no mínimo desde 1975), como é que se pode brincar com o fogo?

A curto prazo, claro que a ideia é baixar o rácio da dívida públuca em % do PIB que está nos 127% e continua a subir. É a chamada contabilidade criativa. Mas então, e o risco? Ninguém pensou nessa particularidade? E se houver um perdão de dívida?

No mês de Junho, a rendibilidade até à maturidade das obrigações do tesouro (OT’s) a 10 anos portuguesas subiu em poucos dias cerca de 1% ou 100 pontos base, chegando quase a 7% (depois de este ano ter andado nos 5,20 / 5,30%).

O impacto de uma subida de 100 pontos base na rendibilidade até à maturidade (consequência da subida dos juros no mercado ou da subida do prémio de risco exigido pelos investidores) e atendendo à duração por exemplo da obrigação a 10 anos recentemente emitida, será uma queda do preço das obrigações superior a 7%.

Deste modo, passando o FEFSS a deter 90% em dívida pública portuguesa, embora até possa estar tudo investido em OT’s com maturidades mais curtas, o risco aumenta consideravelmente.

Claro que se não houver um azar e o FEFSS guardar as OT’s até à maturidade, receberá o valor nominal e aí não terá perdas. Mas, se houver necessidade de pedir um perdão de dívida ou o fundo ter que realizar liquidez numa altura conturbada, como vai ser?

Como dizia um amigo meu há uns tempos: eu estou a pagar a reforma dos meus pais mas duvido muito que os meus filhos paguem a minha!

Tenham mais juízo senhores decisores! Façam um refresh dos vossos conhecimentos: existem nas universidades, nomeadamente no ISEG que conheço bem, uns cursos de pós graduação que vos podem ajudar!

 

Foto: Sczoron, Flickr, Creative Commons