Após as medidas do BCE nos últimos dois anos, a Zona Euro continua a enfrentar problemas e desequilíbrios graves e que se repercutem num crescimento económico relativamente baixo (cerca de 1,5%) e numa pressão deflacionista. Muito se tem falado da importância e do real impacto na economia dos programas de quantitative easing (QE) nos EUA e na Europa.
O BCE acabou de tomar novas medidas para reestabelecer a confiança, fomentar o crescimento económico e evitar a deflação. Se o elogio é geral, até porque o BCE foi um pouco mais além do previsto e teve um efeito de recuperação dos mercados bolsistas (ações e outros ativos com risco), existem dúvidas sobre que percentagem do dinheiro chega efetivamente à economia.
Por isso, considero que seria determinante a Comissão Europeia e o BCE ponderarem a constituição de um mega fundo de investimento que, baseado em determinados critérios de alocação de dinheiro, o fizesse chegar diretamente às empresas.
Os critérios de atribuição teriam que ser genericamente os seguintes: os fundos seriam destinados a todas as empresas (pequenas, médias e grandes) e a seleção dos apoios teria que ser baseada em critérios de eficiência operacional e de mercado, ou seja, apoiar de facto as empresas que merecem ser apoiadas. A seleção dos apoios seria feita diretamente pela equipa do fundo de investimento, apoiada nos técnicos do BCE e dos bancos centrais de cada país. A equipa do fundo seria diversificada, com colaboradores oriundos de diferentes países, para haver um conhecimento do tecido empresarial em cada caso.
Com a criação desse fundo, as empresas ao se candidatarem poderiam receber fundos com uma maturidade de longo prazo, uma parte dos fundos poderia até revestir as características dos famosos coco’s dos bancos ou outra forma de financiamento mas com um horizonte temporal longo. As empresas portuguesas ao receberem essa liquidez, poderiam substituir empréstimos bancários com spreads de crédito elevados e poderiam desenvolver novos projetos de investimento, alguns dos quais estão eventualmente na gaveta há vários anos, porque as empresas estão bastante endividadas e/ou não conseguem fontes de financiamento equilibradas (em maturidade e em custo).
Os bancos ao serem reembolsados, reduziriam o seu nível de alavancagem e ficariam com margem de manobra para encontrar outras oportunidades de negócio e apoiar outros projetos, além de que ficariam menos pressionados em termos de capital.
Com os fundos de longo prazo a chegarem diretamente às empresas, estas poderiam melhorar a sua estrutura de capitais de financiamento e teriam maior capacidade de investimento. E só com investimento é que é possível criar emprego. A canalização de dinheiro diretamente para as empresas teria que ser efetivamente controlada em termos da eficiência e da performance demonstrada por estas, ano após ano ou semestre após semestre. A economia certamente ficaria a ganhar!
(imagem: SolvencyIIWire, Flickr, Creative Commons)