Sobem as taxas de juro, ganham as grandes empresas tecnológicas

O impacto das subidas agressivas de taxas de juro a que assistimos, em resposta à elevada inflação, é um tema que já foi amplamente debatido. Em mais um pequeno-almoço organizado pela FundsPeople, desta vez em parceria com a DNB Asset Management, exploramos o impacto deste fenómeno, em particular no setor tecnológico. Para isto, contamos com quatro especialistas da gestão de ativos  que, num tom genericamente positivo, deixaram o seu outlook para o setor.

Em termos de valorizações o impacto é praticamente evidente e consensual. Para Mikko Ripatti, responsável pela Península Ibérica da DNB Asset Management, o efeito é “equivalente ao sentido em todos os outros setores”. “O impacto da subida de taxas de juro é mais notável em empresas sem um modelo de negócio bem estabelecido, que ainda não apresentam lucros. Ao utilizarmos uma taxa sem risco superior, num modelo de desconto de fluxos de caixa, quanto mais olharmos para a frente, menor será o múltiplo que estamos dispostos a pagar pela empresa”, explica o responsável da DNB Asset Management. Raul Afonso, economista-chefe na MFO, concorda com o responsável nórdico e reafirma: “Ocorreu um aumento de custo de capital que obrigou a ajustar modelos de valorização e, consequentemente, a baixar o preço que estamos dispostos a pagar por certas empresas. Negócios mais novos ou mais especulativos apresentam agora um desconto significativo, unicamente ligado a uma questão da valorização”.

Os beneficiados e os prejudicados

No mesmo comprimento de onda segue Vítor Ribeiro, fundador da Future Proof. O especialista divide o setor em dois principais grupos. De um lado, as empresas “que produzem tecnologia que todos usamos no nosso dia a dia”. Do outro, as empresas que “procuram produzir tecnologia que vamos usar daqui a alguns anos”. “No longo prazo, ambos os tipos de empresas deverão prosperar, mas, se olharmos apenas para o curto prazo, os investidores devem-se posicionar junto do primeiro grupo, pois estas devem sofrer menos”, explica Vítor Ribeiro. Prontamente, concordou Raul Afonso: “As tecnologias mais especulativas serão mais afetadas por subidas da taxa de juro, enquanto uma tecnologia que já está presente no nosso dia a dia é menos suscetível a impactos de subidas de taxas de juro”.

Nuno Sousa Pereira, CIO da Sixty Degrees, levanta outro ponto importante para justificar a opinião dos colegas. “As grandes empresas tecnológicas têm muitos recursos financeiros nos seus balanços, pelo que de certa forma conseguem também ir buscar retorno resultante da subida de taxas de juro”, explica o CIO. O representante da Sixty Degrees destaca ainda que estas empresas “tradicionalmente financiam-se a dois ou três anos, pelo que pode demorar a notar-se o efeito das subidas de taxas no balanço”. Adicionalmente, se “conseguirem passar a inflação para os seus consumidores, poderão sair beneficiadas devido à redução natural do peso da dívida”. Vítor Ribeiro acrescenta ainda uma oportunidade no setor: “A liquidez disponível numa altura como a atual pode, inclusive, levar a aquisições de empresas mais novas, com um desconto muito considerável”.

“Já houve alturas no passado onde as taxas de juro subiram significativamente e o mercado tecnológico continuou a apresentar retornos muito interessantes”, revela Mikko Ripatti. Em jeito de conclusão, o responsável da DNB AM finaliza com uma janela de oportunidade: “É quando o dinheiro está mais caro que a generalidade das empresas sente mais a necessidade de aumentar eficiências e reduzir custos. Aqui, também, a tecnologia oferece a solução. Esta posiciona-se como um dos setores onde estar investido para capturar este efeito”.