Analisamos o que são os fundos ELTIF, quais as suas principais características, os prós e contras de investir neles e um caso prático para que o mundo do investimento de retalho conheça este novo veículo e valorize o encaixe que poderá ter numa carteira.
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ELTIF é a sigla de European Long Term Investment Fund (Fundo de Investimento a Longo Prazo Europeu). Trata-se de um veículo fechado com uma data de vencimento predefinida, desenvolvido pela UE através do Plano Junker. Tem um duplo objetivo. Por um lado, canalizar o capital para as empresas europeias de pequeno e médio tamanho. Por outro, facilitar aos investidores de retalho europeus o acesso, de uma forma regulada, a classes de ativos institucionais que historicamente só tinham estado disponíveis para clientes profissionais.
Entre as principais características dos fundos ELTIF está o facto de se poder personalizar este tipo de ativo. O requerimento mais importante é que no fim do período de construção da carteira, pelo menos 70% dos ativos do veículo têm de estar investidos em instrumentos de longo prazo emitidos por empresas públicas ou privadas com uma capitalização inferior aos 500 milhões de euros. O período de construção da carteira não pode ser superior a metade do vencimento do ELTIF (máximo de cinco anos de construção da carteira). Um ELTIF limita o investimento em instrumentos que não sejam a longo prazo a 30% no fim do período de construção da carteira do fundo.
Instrumento nos quais pode investir e requisitos de diversificação
Os fundos ELTIF podem investir em instrumentos emitidos a longo prazo por empresas públicas ou privadas não cotadas. Também podem investir noutros ELTIF, sempre que não ultrapassar os 10% da carteira. O valor agregado do investimento noutros ELTIF não pode superar os 20%. Um fundo ELTIF não destina mais de 10% a uma única empresa ou instrumento, podendo chegar até 20% se o agregado das posições acima dos 10% não superar os 40% do capital. A sua alavancagem máxima é de 30% e o seu vencimento não pode ser superior à vida do fundo.
Entre as suas principais restrições ao nível de investimento está o facto de só poderem utilizar derivados para realizar estratégias de cobertura, não permitem a exposição a matérias-primas e também não permitem as vendas a descoberto. Alguns produtos oferecem janelas de liquidez uma vez finalizado o período de construção de carteiras. Outros não. Tudo depende do subjacente. Por lei, um ano antes do seu vencimento, a gestora emite um comunicado que explica o processo de liquidação do fundo, indicando avaliações, potenciais compradores, calendário de liquidação e preços.
Por agora, a oferta de fundos ELTIF à disposição dos investidores é ainda limitada. Há algumas entidades que ainda estão no processo de registo dos seus produtos. No passado mês de maio, a Muzinich anunciou o lançamento do Muzinich Firstlight Middle Market, o seu primeiro veículo sob a regulação ELTIF na Europa. A entidade comercializa-o através da sua sicav luxemburguesa. “ELTIF está para alternativos, assim como UCITS está para fundos de investimento tradicionais. Dá acesso ao investidor de retalho a dívida privada, empréstimos sindicados, private equity, investimento em infraestruturas... classes de ativo nas quais este tipo de cliente não poderá entrar. Tudo isso de uma forma regulada”, explicam Rafael Ximénez de Embún, responsável da Muzinich para a Península Ibérica e América Latina, e Jesús Belascoain, membro da equipa de vendas da entidade.
Vantagens e desvantagens
Tendo em conta os ativos em que investe, tanto Ximénez de Embún como Belascoain defendem que se trata de um veículo que pode desempenhar um papel muito importante dentro das carteiras dos clientes pela descorrelação de retorno que aporta e pelo potencial da rentabilidade que pode oferecer tendo em conta os baixos níveis de taxas de juro atuais. Não obstante, existem algumas restrições.
Por exemplo, não são trespassáveis. Por outro lado, se o investidor dispõe de um património financeiro inferior a 500 000 euros, não pode destinar mais de 10% a ELTIF. Se a quantidade for superior, sim. Antes de ELTIF, a única forma de aceder a um investimento deste tipo era através de um Fundo de Investimento Livre (FIL). “Tratavam-se de produtos aos quais o público retalhista tinha acesso, mas não contavam com mínimos elevados, geralmente a partir de 100 000 euros. No caso dos ELTIF, o mínimo que marca a regulação é de 10 000”.
Caso prático
Cada produto sob regulação ELTIF pode estruturar-se de uma forma diferente. Tomando como referência o fundo da Muzinich, o fundo oferece valor da unidade de participação mensal e reparte 85% dos rendimentos que recebe via cupões semi-anuais. Conta com um período de captação de ativos definido, que concluirá em novembro. Uma vez que termine, a sua vida vai prolongar-se por seis anos. A partir do terceiro ano, oferecerá janelas de liquidez penalizadas, ou seja, a favor do fundo. Como subjacentes tem dois tipos de ativos: empréstimos sindicados (que ocupam a maior parte da carteira, com aproximadamente 80% do total) e dívida privada.
No caso deste produto, durante o período de captação de ativos, os investidores entram no valor do fecho de cada mês. “Operacionalmente consideramos que isto é mais fácil de fazer através de chamadas de capital (capital calls) por várias razões. Entre eles, porque se simplifica a tarefa administrativa face às redes de distribuição. Desde o dia um que o participante está a investir no produto, com um horizonte de investimento de longo prazo”. Por último, no que diz respeito às expectativas de rentabilidade, a yield esperada bruta está entre os 5 e 6%, face aos 3% da yield bruta do high yield europeu.