Sotiris Boutsis (Fidelity Global Financial Services Fund): “Basileia está a provocar cansaço entre os políticos”

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Jonathunder, Wikimedia Commons, Creative Commons

O Fidelity Global Financial Services Fund é um fundo sectorial que investe no sector financeiro. O produto, com selo Blockbuster e Consistente da Funds People, é gerido por Sotiris Boutsis, da Fidelity International desde janeiro de 2010, que perante o crescimento sólido que a economia tem demonstrado e com a política monetária favorável, continua a ser otimista em relação ao sector financeiro. Expressa esta visão através da compra de títulos que beneficiam da conjuntura macroeconómica positiva e que podem gerar alfa. “Neste momento, o fundo deve ser seletivo nos títulos que utiliza para investir nesta tendência já que numerosos valores, especialmente nos Estados Unidos, descontaram já este efeito positivo”, afirma.

Sotiris_BoutsisBoutsis acredita que continuam a existir oportunidades em alguns valores de grande capitalização nos Estados Unidos e na Europa em geral. Também está atento aos possíveis beneficiários da liberalização ou, mais provavelmente, da racionalização da situação normativa atual. “O recente relatório do Tesouro dos Estados Unidos sobre a regularização do sistema financeiro mostra vontade de aliviar os custos absurdos de cumprimento normativo enfrentado por muitos negócios financeiros. Na maioria dos casos, isso representa uma aplicação mais benévola da normativa atual, como a norma Volcker, em vez de uma alteração dramática na legislação. Em resultado, estas poderão ser perspetivas mais favoráveis para os rácios de capital dos bancos e uma possível melhoria dos índices de eficiência”.

O gestor considera que títulos como o Bank of America e J.P.Morgan vão beneficiar deste cenário. Noutras áreas do mercado americano, a carteira está exposta a seguradoras como a Allstate e a Progressive, que estão a conseguir melhorar os preços dos seguros de automóveis, num período de fortes perdas devido à frequência e gravidade dos acidentes. A força da recente temporada de furacões também alterou as perspetivas dos preços das reguladoras. Os danos provocados pelos desastres naturais ascenderam os 100.000 milhões de dólares este ano (mais do que os prémios cobrados pelas empresas), o que – segundo Boutsis pode criar um deficit de capacidade que se traduzirá num incremento dos preços dos resseguros. “Assumi uma posição numa resseguradora americana bem gerida para aproveitar esta situação”, revela.

No que respeita à Europa, o responsável do fundo acredita que a região oferece oportunidades interessantes pois a desconexão entre as rentabilidades da dívida dos Estados Unidos e do velho continente é maior do que se pode explicar recorrendo aos spreads e inflação. “Isto deverá provocar uma subida das expectativas das taxas, em conjunto com um ligeiro amadurecimento monetário da parte do BCE. Em consequência disto, sou mais otimista sobre as apostas orientadas para rendimento na Europa, sobretudo porque os bancos desta região estão mais expostos às subidas das taxas do que os Estados Unidos uma vez que o nível de partida destes é muito mais baixo. A confiança poderá fortalecer-se se houver mais certezas em torno da Basileia IV”.

O gestor reconhece que “surgiram sinais de que o contexto macro da Basileia está a provocar uma certa fadiga entre os políticos, que se esforçaram para que os bancos emprestem num ambiente com taxas de juro negativas e forte regulação. Assim, posições como a da CaixaBank, Société Générale e Intesa Sanpaolo beneficiaram das subidas das taxas e das melhorias proporcionadas por decisões de gestão que afetam os valores e que não estão reconhecidas nas cotações atuais”. No que respeita ao Reino Unido, a incerteza relacionada com o Brexit prevalece, mas – segundo Boutsis – está descontada em grande parte. “Entre estas posições, destacam-se os bancos reestruturados, como o Royal Bank of Scotland, que está quase a ponto de deixar os problemas para trás e tem margem para otimizar a estrutura de capital e financiamento, e o Barclays, onde os resultados da restruturação deverão ser mais evidentes a partir de agora”.

Dentro das seguradoras, Beazley destaca a Prudential como valor de crescimento devido à sua exposição a seguros especializados e ao mundo digital, e está a recuperar de um período de incerteza em torno das regras de capital de Solvência II e as normas do Departamento de Trabalho do governo dos EUA. “Conta com um negócio vigoroso na Ásia que poderá beneficiar se a China abrir mais o seu mercado segurador a empresas estrangeiras. Na Ásia, a AIA está bem posicionada para aproveitar a mesma oportunidade de crescimento estrutural, já que os governos asiáticos querem fechar o fosso que existe no mercado segurador da região. Além disso, vários países estão a beneficiar de uma melhoria dos seus próprios ciclos”.

Dá como exemplo a Tailândia, um país que – segundo o gestor  - apresenta atualmente um elevado superavit da conta corrente, viu a sua economia a estabilizar e beneficiará dos planos para aumentar o investimento em infraestruturas. “Tudo isso deverá ser favorável para os custos do crédito, que são elevados atualmente. De igual modo, os bancos coreanos são ainda interessantes. Entidades como o KB Financial sanearam os seus balanços e têm potencial para elevar as suas margens através de mudanças na composição do seu negócio. As seguradoras coreanas como a Hyundai Fire & Marine, uma empresa na carteira que há pouco tempo se tinha visto forçada a congelar os preços de alguns serviços, também vão poder por fim aumentar as tarifas e o governo dispõe-se a tomar novas medidas para financiar o aumento das coberturas”.

Em geral, Boutsis assegura ter aproveitado oportunidades promissoras em todo o mundo, apesar de algumas áreas de mercado terem subido fortemente. “Como sempre, continuo focado nos fundamentais e num processo coerente que dá prioridade à melhoria das rentabilidades empresariais e à robustez dos balanços”, conclui o gestor da Fidelity.