Stephen Marsh (T. Rowe Price): “Uma seleção bottom-up minuciosa dos títulos, olhando para todo o espectro de qualidade de crédito é o que produz o melhor valor para o investidor”

Créditos: T.Rowe Price

Da T. Rowe Price, Stephen Marsh é um dos especialistas da divisão de Fixed Income e conhece por dentro e por fora as estratégias high yield da entidade gestora. De entre as múltiplas abordagens que a casa de investimento disponibiliza, o especialista destaca o T. Rowe Price Global High Income Bond Fund, fundo com a classificação de consistente do Selo FundsPeople, que nasceu para dar resposta à evolução do mercado global de emissões high yield no pós Grande Crise Financeira (GCF). Nomeadamente, conta Stephen Marsh, dar resposta “ao crescimento do peso das emissões de empresas europeias na última década num mercado que era bastante mais centrado nos Estados Unidos”. É o irmão mais novo do T. Rowe Price Global HY Bond Fund, com mais de 15 anos de história, também conta com a mesma classificação do Selo FundsPeople. Por isso mesmo, o primeiro acaba por ter pouco mais de metade do portefólio alocado a emissões norte-americanas e um peso relevante de emissões de mercados emergentes, enquanto o segundo ultrapassa os 70% de emissões de empresas dos EUA. 

Maior qualidade não significa menor oportunidade

Mas como diferem os mercados? “Os mercados europeu, norte-americano e de mercados emergentes têm pesos setoriais muito distintos, bem como uma distribuição diferente das emissões por rating de crédito. Os EUA são muito mais focados na energia, por exemplo, e, porque assim é, tipicamente, apresentam menor qualidade e mais volatilidade. Claro que, quando temos a mesma volatilidade para valuations semelhantes, aumentamos a nossa inclinação para a Europa e mercados emergentes”, conta. 

Adicionalmente, segundo o gestor, maior qualidade não significa menor oportunidade, e é aqui que se cimenta o grande argumento pela gestão ativa neste universo. “Uma seleção bottom-up minuciosa dos títulos a incorporar em carteira, olhando para todo o espectro de qualidade de crédito é o que produz o melhor valor para o investidor”, exclama Stephen Marsh. Para o especialista, equipas locais que falam os idiomas e conhecem a administração das empresas, “que sabem o que estas estão a fazer no sentido de regenerar os balanços, melhorar as métricas de crédito ou que saibam quais os ventos contrários e os de feição que impactam o negócio”, fazem toda a diferença. “E cada região é única”, acrescenta. 

A pandemia e os fallen angels

“Como resposta à pandemia vimos muitas empresas  a reforçar drasticamente os seus balanços. Vimos também uma quantidade massiva de fallen angels, empresas que foram forçadas, como resultado da pandemia a entrar no mercado de high yield. 27% do mercado está a um notch ou dois de regressar a investment grade”, conta Stephen Marsh. Para o profissional da T. Rowe Price, esta fotografia do mercado tem representado uma clara oportunidade, especialmente quando as equipas gestoras têm os recursos para distinguir os fallen angels das falling knives. 

Mas a grande oportunidade do momento, que realça o especialista, é aquela parcela da carteira que está alocada a mercados emergentes. “E se aumentarmos o zoom, na realidade, falamos dos mercados asiáticos. E com mais um pouco de zoom, é na China que vemos a maior oportunidade”, detalha. 

Ao longo dos últimos anos, a sobre/sub-exposição a este mercado tem se revelado muito dinâmica. “No pico da pandemia alocámos bastante capital à China nos segmentos de maior qualidade. O país esteve sempre à frente dos restantes mercados. Primeiro porque aí surgiu o COVID, mas depois porque, em virtude do regime político, implementaram os confinamentos de forma mais rápida e eficaz. Quando vimos um sell-off nos mercados, a China não foi tão penalizada”, explica. “Quando a volatilidade começou a subir e, subsequentemente, disparou durante 2021, estávamos significativamente abaixo do peso nos emitentes chineses e nos nomes de imobiliário chineses, o que ajudou o desempenho relativo nas estratégias de HY”, acrescenta.

Posteriormente, como conta Stephen Marsh, viu-se uma onda grande de novas emissões, de empresas que procuravam reforçar os seus balanços, particularmente nos EUA. “A este nível investimos em alguns negócios mais afetados pela pandemia, que conhecíamos muito bem e que precisavam de capital para reforçar os balanços. Negócios que acreditávamos que poderiam sobreviver dois anos ou mais de stress significativo. Nesta fase estávamos underweight na China”, explica. 

Stress no curto prazo, oportunidade no médio prazo

Entretanto, rebentaram as questões em torno do setor imobiliário na China. “A Evergrande não apanhou os nossos gestores de surpresa. Era já uma empresa muito pobre em termos fundamentais e de balanço. Isso não mudou. O que mudou foi a legislação sobre o setor, que está a causar stress no curto prazo, mas que afetou de forma positiva e saudável as perspetivas para o setor no médio prazo”, conta. Stephen Marsh aponta assim que a equipa identificou oportunidades de investimento fantásticas, cujas “emissões de dívida estão a refletir no preço probabilidades pouco realistas de default”. Como conta o especialista, no setor imobiliário chinês, encontramos emissões BB ou B a transacionar com spreads de 1.200 ou 1.800 pontos base, respetivamente. “Muito boas oportunidades. No entanto, como disse anteriormente, é muito importante ser extremamente cauteloso e seletivo na escolha dos ativos a incorporar na carteira”, alerta.