Stuart Dunbar (Baillie Gifford): “Não é possível dizer como investir com sucesso nos próximos 12 meses”

Stuart Dunbar. Créditos: Mike Wilkinson

É muito complicado prever com precisão as tendências do mercado num período de 12 meses, independentemente da astúcia do investidor e da sua capacidade de prever as condições económicas. Ao contrário do que podemos pensar, é muito mais simples realizar previsões mais acertadas sobre o que irá acontecer nos próximos 10 anos do que nos próximos 12 meses. Assim o garante Stuart Dunbar, sócio na Baillie Gifford, que destaca que isto se deve à existência de certos desenvolvimentos tecnológicos e alterações em alguns modelos de negócio que já podemos ver em curso e que irão, inevitavelmente, superar as práticas existentes na próxima década.

“Este tipo de abordagem não pretende adivinhar o que irá acontecer com as valorizações nos próximos 12 meses, mas, como se tratam de tendências inevitáveis, podemos basear as nossas decisões de investimento nas melhorias operacionais que irão produzir”. Trata-se de um progresso que não depende do crescimento económico geral, mas simplesmente do fornecimento de soluções melhores e mais acessíveis, que respondam às necessidades e aos desejos da sociedade de forma mais eficiente do que as que existem hoje em dia. “Pode-se constatar que as empresas que aproveitam estas oportunidades têm, em consequência, mais probabilidade de verem as suas ações subir a longo prazo”.

Grandes tendências

Desta forma, reconhece não saber o que vai acontecer em 2023, mas que conhece certas tendências que vão alterar radicalmente determinadas indústrias. Cita, por exemplo, o custo dos cuidados de saúde, que está a aumentar de forma insustentável em todo o mundo. Na sua opinião, a única coisa que poderia mitigar essa pressão de forma realista é um aumento drástico da eficiência dos tratamentos e uma mudança profunda na sua execução graças ao diagnóstico e à prevenção precoce.

“Por sorte, estamos perto de uma revolução nos cuidados de saúde: a confluência da queda dos custos da sequenciação genética, o aumento da potência do processamento informático e a inteligência artificial estão a multiplicar a nossa capacidade para realmente compreender as doenças e desenvolver avanços que representam uma disrupção do atual setor da saúde”, explica.

Em segundo lugar, assinala o setor de pagamentos, que experienciou poucas disrupções durante décadas, mas que agora está pronto para sofrer uma transformação. “Tudo está a mudar: através dos nossos telemóveis podemos gerir os nossos serviços bancários, manter várias divisas numa aplicação e os pequenos negócios de retalho podem vender à escala mundial com sistemas de logística integrais e fornecedores de pagamentos internacionais”.

A terceira questão que refere é o trabalho flexível, que considera estar aqui para ficar. “Isto implica um crescimento em áreas óbvias, como as ferramentas de comunicação e a infraestrutura da internet, mas também na transição para redes baseadas na nuvem e a necessidade de um software de segurança mais local e resiliente”.

E, por último, as alterações climáticas, que na sua opinião são reais. “O mundo precisa de reduzir as emissões líquidas de carbono para a atmosfera. Contamos com a maioria da tecnologia necessária para conseguir esse objetivo, mas ainda não podemos aplicá-la à escala”, afirma.

Neste sentido, sublinha que, para atingir o objetivo de zero emissões líquidas de carbono em 2050, é preciso alterar o mix energético e modificar os sistemas de armazenamento e distribuição, algo que mal começou a ser feito. “Claro que traz novo desafios e oportunidades: baterias com armazenamento adaptável, fornecedores de cabos de elevada qualidade para levar a energia eólica marinha para os centros urbanos e tecnologias de captura e armazenamento de carbono”.

Foco no progresso

Tudo isto leva a uma conclusão óbvia: “Não é possível dizer como investir com sucesso nos próximos 12 meses. Sabemos com precisão quando estas inovações disruptivas vão acontecer? Não. Temos a certeza de que procuramos nos lugares adequados? Sim. Pelo caminho, os preços das ações das empresas destes setores vão multiplicar-se para depois passar a valer metade porque os investidores estão a concentrar-se nas notícias a curto prazo? Provavelmente”.

Segundo Dunbar, o mais complicado é esquecer o que irá acontecer ao mercado nos próximos 12 meses e concentrar-se no que é realmente importante: a evolução operacional das empresas. “Como demonstram os dados, a médio e longo prazo (cinco anos e em frente) os preços das ações de uma empresa seguem os seus lucros”. Assim, a sua previsão é a seguinte: “não sabemos o que irá acontecer com as nossas carteiras de ações durante 2023, mas temos a certeza de que o seu valor será muito maior este ano”.