Stuart Dunbar (Baillie Gifford): “Se encontrar as empresas realmente disruptoras, a sua carteira não irá depender da macroeconomia”

Stuart Dunbar. Créditos: Mike Wilkinson

Os últimos três anos têm sido uma montanha-russa para as ações growth. Stuart Dunbar sabe-o bem. Como sócio da gestora escocesa Baillie Gifford, especialista em ações com um viés growth, viveu em primeira mão a subida vertiginosa da rentabilidade dos seus fundos no auge do rally em 2020. Nesse ano, o Baillie Gifford Worldwide Long Term Global Growth Fund, um dos seus fundos mais importantes, fechou o ano no primeiro percentil da sua categoria com um retorno de 84%. Mas como em  todas as montanhas-russas, uma grande subida precede uma dolorosa descida.

E os fundos da Baillie Gifford não têm sido a exceção. Como o próprio Dunbar reconhece, aproveitaram a subida, mas não deixaram de cair. De facto, o mesmo fundo que esteve no primeiro percentil em 2020, move-se em 2022 para um percentil abaixo da sua categoria, com uma queda de 40%. “O mercado deixou-se levar pela euforia e agora deixa-se levar pelo pessimismo'', afirma Dunbar.

É um movimento que não desagrada em absoluto à gestora escocesa. “Não prestamos demasiada atenção à evolução dos mercados a curto prazo, uma vez que não temos ideia para onde esta se dirige. A única coisa que nos interessa é o aumento dos lucros das empresas a longo prazo, dado que a médio e longo prazo (cinco ou mais anos) os preços das empresas refletem os lucros que geram”, defende Dunbar. O partner da Baillie Gifford não se debruça muito sobre o retorno de um ano. Nem quando estavam no topo, nem agora que estão no fundo.

Um mercado demasiado bidimensional

A equipa da Baillie Gifford tem estado focada em analisar a solidez das suas empresas em carteira. As ações growth estão a ser penalizadas pelos receios do mercado de que os custos financeiros subam. Mas isto é algo que não preocupa a Baillie Gifford. “A grande maioria das nossas empresas têm um cash flow positivo. Ainda que cheguemos ao ponto de uma recessão, as empresas têm liquidez suficiente no balanço, em média 3-4 vezes superior à do mercado. Quanto à inflação, não é algo que afete significativamente as empresas com poder de fixação de preços e com as vantagens competitivas que as empresas em que investimos têm”, afirma.

Na sua opinião, o mercado tornou-se demasiado bidimensional, imerso num ciclo vicioso em que, agora, a tese negativa é a que mais pesa. “Já o vivemos na crise financeira de 2008. As melhores empresas, as sobreviventes, saem das crises mais reforçadas”, assinala. E é precisamente aí onde estão concentrados os seus esforços.

 A oportunidade disruptiva que se está a criar

Assim, a gestora mantém-se firme na sua tese, com o seu objetivo de cinco a 10 anos. “Se encontrar as empresas realmente disruptivas, então a sua carteira não irá depender da macroeconomia”, defende. É com esta filosofia que Baillie Gifford deixou a sua marca no setor. Detetaram muito cedo o potencial da Amazon para o e-commerce e o da Tesla com a transição para veículos elétricos. E, segundo Dunbar, está a surgir uma potente rutura no setor da saúde.

Com uma população cada vez mais envelhecida, os países desenvolvidos têm um sistema sanitário insustentável. Felizmente, estão a surgir soluções mais eficazes, ligadas ao desenvolvimento digital. Será essa a grande revolução, opina Dunbar. Melhorar a capacidade de entender o paciente. “Tratar as pessoas mais cedo, prevenindo as suas doenças”, sublinha.

Uma das áreas mais emocionantes para Dunbar são os avanços na sequenciação genética. O desenvolvimento tecnológico permite reduzir os custos e o tempo. “Antes, eram necessários vários anos e milhares de milhões. Agora há empresas que o conseguem fazer numa hora e por 500 dólares”, refere Dunbar.

 A Baillie Gifford possuía já uma posição na Moderna (da qual é o maior acionista) muito antes de a vacina ter sido descoberta. Mantiveram essa posição durante o rally e mantiveram a sua convicção apesar das quedas deste ano, porque o investimento não era uma aposta única devido à COVID-19. “A empresa está a desenvolver 30 medicamentos diferentes, servindo-se do seu conhecimento em tecnologia genética”, explica Dunbar. Na sua opinião, a cotação atual está a refletir  o fracasso de todos esses produtos.