O tema da escolha dos supervisores está na ordem do dia, principalmente pelos acontecimentos dos últimos anos que envolveram algumas instituições financeiras.
Lá fora como cá dentro, este é um assunto que tem ganho importância nos últimos anos.
A minha experiência de mais de 25 anos na banca e em mercados financeiros diz-me que a escolha dos principais responsáveis dos supervisores e da sua equipa tem que se basear na experiência das pessoas em função do cargo que vão ocupar e na sua independência face ao poder político e corporativo, principalmente.
A seleção dos candidatos deve ser rigorosa e não por simpatia ou por amizade. É lógico que num mercado financeiro tão pequeno como é o português, em que quase todos se conhecem, naturalmente há relações de amizade entre muitos intervenientes no mercado. Mas tal não deve limitar uma escolha baseada essencialmente em aspetos objetivos e profissionais.
Os supervisores devem ser constituídos por equipas com profundo conhecimento da atividade e do tipo de empresas que vão controlar.
Se vão ser escolhidos para o Banco de Portugal, devem ter um profundo conhecimento da banca portuguesa, dos seus problemas estruturais e conjunturais, da forma como está organizada, do seu nível de governance, das suas práticas de controlo de risco, dos mecanismos essenciais que necessitam de possuir para boas práticas de gestão. Será conveniente que alguns membros da equipa tenham passado por direções ou pela administração de bancos ou instituições financeiras em geral e com um percurso exemplar.
Se vão ser escolhidos para a CMVM, os mesmos requisitos devem ser escrutinados. Terem no passado experiência na gestão de organismos de investimento coletivo mobiliários ou imobiliários, em sociedades de gestão de ativos financeiros, em áreas de private banking ou em áreas de mercado de capitais da banca é fundamental para um melhor enquadramento das suas funções e adequação à realidade do mercado financeiro.
O mesmo se aplica ao supervisor do setor dos seguros. A mesma exigência de experiência e independência são cruciais para um bom desempenho.
A qualidade da supervisão é uma condição essencial (entre outras) para um nível elevado de eficiência dos mercados e para a recuperação da confiança dos investidores.
Os casos ocorridos nos últimos anos que envolveram vários bancos não abonam e fomentam a desconfiança dos investidores e aforradores em geral.
Experiência, independência, perspicácia e alguma coragem são atributos necessários para um bom desempenho. Boa sorte para os escolhidos!
Carlos Bastardo
(Foto: Vitor Conti, Flickr, Creative Commons)