Tanguy Van der Werve (EFAMA): “O custo é apenas uma das variáveis que tem que ser abordada na RIS”

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Créditos: Guillaume Périgois (Unsplash)

A FundsPeople esteve presente no primeiro Investment Management and Pensions Forum organizado pela Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP). Entre muitos dos tópicos abordados, um tema de destaque foi a Retail Investment Strategy (RIS), proposta pela Comissão Europeia. A proposta, ainda em discussão, foi dissecada por Tanguy Van de Werve, diretor-geral da EFAMA que, em linhas gerais, concorda com as motivações que a sustentam, mas vê ainda muitas lacunas que espera que sejam rapidamente colmatadas.

A RIS aspira promover o investimento de retalho em fundos mobiliários. A motivação é positiva, e Tanguy Van de Werve afirma que “é preciso diminuir a percentagem das poupanças que as famílias mantêm em depósitos”. No entanto, é fundamental ter cautela quando interpretamos médias, especialmente médias calculadas a nível europeu. O diretor-geral dá o exemplo de Portugal, onde “apenas 4% dos indivíduos detêm unidades de participações de fundos mobiliários, apesar de tanto a média de investimento em fundos de Portugal como a da União Europeia serem superiores”. Segundo este, há muito espaço para melhorar.

De positivo, o especialista destaca o “alinhamento que a estratégia apresenta com outras legislações como a MIFID II e a IDD” e “a não proibição total de incentivos aos distribuidores”. Este último apresenta “um ponto de viragem, em resposta ao ruído causado por alguns países com peso político aquando do anúncio da intenção inicial”.

Contudo, os pontos positivos parecem parcos quando medidos contra os ainda presentes pontos negativos. Tanguy Van de Werve afirma “que a proposta apenas se foca nos custos para os investidores”. Primeiro, o diretor-geral da EFAMA não vê uma linha direta entre a redução de custos e a presença de fundos nas poupanças das famílias. Dados apresentados no fórum “não demonstram uma maior penetração dos fundos nas poupanças das famílias em países onde a média do TER dos fundos é inferior”. “O custo não é o main driver”, afirma o diretor-geral. Adicionalmente, o plano traçado de “proibir incentivos a entidades distribuidoras que apenas executam as ordens, apenas atrasará significativamente o processo de digitalização da distribuição de fundos ao retalho”.

O que corrigir?

Aqui, a diretiva também é clara, “o custo é apenas uma das variáveis que tem que ser abordada”. É necessário “promover uma melhor imagem dos fundos de investimento” junto das famílias. A título de exemplo, Tanguy Van de Werve defende que a comissão europeia deve rever a imposição de “benchmarks paneuropeus” para os fundos. O diretor é da opinião que “os benchmarks devem ser construídos pelas entidades gestoras”, “devem considerar critérios e princípios de gestão específicos (como a sustentabilidade)” e “devem ser regulados pelos reguladores locais”. 

Mais uma vez, o orador principal salienta a importância de “não avançar com qualquer tipo de proibição de incentivos à distribuição, em particular às entidades que apenas executam ordens”. Salienta a importância de “simplificar os testes de adequação” e de “não discriminar produtos mais complexos, atribuindo regras específicas que podem afastar o investimento”.

Tanguy Van de Werve deixa, ainda, um apelo. Para este, “é importante trabalhar com as entidades gestoras e dar tempo e espaço para estes se adaptarem às alterações propostas”. Em suma, o orador apela a uma “abordagem holística ao mercado” e “incentivos políticos e fiscais ao investimento no longo prazo”.