Toca o alarme na economia chinesa... mas será assim tão estridente?

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Créditos: Raimond Klavins (Unsplash)

A China ameaça há muito tornar-se uma das maiores potências económicas mundiais. Os fatores demográficos favoráveis aliados a planos de desenvolvimento sólidos abriram portas à especulação dos investidores que há muito veem oportunidades interessantes nesta economia. Contudo, os dados económicos de julho levantaram problemas relacionados com a diminuição do consumo interno chinês e uma queda no crescimento real esperado para o país.

Apesar dos dados macroeconómicos menos positivos, a verdade é que os especialistas não perdem a confiança na geografia. Para Martin Dropkin, diretor de Ações para a região da Ásia Pacífico da Fidelity International, apesar do abrandamento económico, ainda é possível ver sinais de "uma consolidação da indústria e da captação de quota de mercado por parte dos principais líderes". Segundo o profissional, é possível agora encontrar a preços mais vantajosos "empresas que beneficiam de algum poder de fixação de preço, uma subida na cadeia de valor dos produtos ou a captação da substituição de produtos no consumo interno".

No mesmo tom segue Jenny Zeng e Ze Yi Ang, diretora de Fixed income e gestor de portefólio da Allianz Global Investors, respetivamente. Os especialistas da Allianz Global Investors começam por advertir que a economia chinesa foi fortemente afetada pela chuva e pelas cheias durante o mês de julho. No entanto, estes fenómenos naturais não servem para justificar inteiramente as dificuldades presentes no crescimento chinês. Elas existem, mas ambos os especialistas afirmam que, na sua opinião, os números económicos não indicam uma diminuição per se do dinamismo económico. Segundo Jenny Zeng e Ze Yi An os números “mostram uma continuação da tendência registada nos últimos meses”. Mais importante ainda, a “reação política até à data também sugere que os decisores políticos estão a responder ao que consideram ser uma estagnação temporária da atividade, ao invés de uma situação de perigo no crescimento e fora de controlo”.

Uma maior oportunidade na China

No que concerne ao mercado acionista chinês, os especialistas que olham para estas bolsas preferem manter-se positivos, dando conta de oportunidades à vista.

Para Martin Dropkin, as ações chinesas oferecem agora múltiplos de valorização interessantes quando comparados com os dados históricos e com os restantes países asiáticos. O profissional da Fidelity International ressalva que “o rácio preço/lucro (PE) a um ano para o MSCI China é agora de x10, um valor que compara com a média a 10 anos de x11,4, por exemplo”. É possível ainda perceber que, para Martin Dropkin, este é quase o maior desconto na Ásia nos últimos 20 anos. Adicionalmente, o especialista afirma que o “ciclo de lucros das empresas atingiu o seu ponto mais baixo na maioria dos setores e, tendo isto em conta, prevê-se um crescimento dos lucros de dois dígitos para o MSCI China em 2023 e 2024, com base em estimativas medianas consensuais”.

Os especialistas da Allianz Global Investors, por sua vez, destacam que “apesar de dececionantes, relativamente às expectativas do mercado, os dados sobre as vendas a retalho numa vasta gama de setores permanecem robustos”. Embora indústrias dependentes do setor da construção continuem a deteriorar-se, “outros setores industriais mantiveram-se, em geral, estáveis”.